A Ode à ESALQ

 

Por ocasião dos 75 anos da ESALQ, no ano de 1976, o diretor Prof. Salim Simão constituiu uma grande comissão para o planejamento das festividades comemorativas. Foi nomeado como presidente executivo o Prof. Walter Radamés Accorsi. A grande Comissão foi subdividida em diversas outras menores, conforme o tipo da comemoração. Havia a comissão do livro, a dos símbolos, e outras.

Uma delas foi denominada Comissão do Hino da ESALQ. Essa comissão abriu em 25 de março de 1976, um concurso para a escolha do que seria o Hino da ESALQ, estipulando, como estímulo, o prêmio de Cr$10.000,00.

Foram inscritos nove hinos e enviados para uma comissão de maestros ligados à Universidade de São Paulo para julgamento. Após deliberação, os maestros julgadores (dentre eles Camargo Guarnieri e Benito Juarez) informaram a comissão executiva das festividades do 75o. aniversário da ESALQ, em dois de julho de 1976, que “nenhum dos nove

hinos concorrentes preenchia os requisitos necessários para merecer o prêmio”.

A relação dos hinos concorrentes não foi divulgada e a comemoração em três de junho de 1976 aconteceu sem a apresentação do esperado Hino da ESALQ.

A comissão das festividades voltou a se reunir em agosto desse mesmo ano e decidiu por abrir um novo concurso, desta vez apenas para escolher a letra do hino. Estipulou a comissão que a letra vencedora seria musicada posteriormente, utilizando o mesmo processo para a escolha da melodia para a letra vencedora. Nesta segunda tentativa inscreveram-se doze composições poéticas. Dentre elas estava novamente a letra que fora apresentada pelo Prof. Salvador de Toledo Piza Jr.

Foi constituída uma nova comissão para julgar as letras inscritas. Essa comissão, formada por professores e intelectuais da cidade de Piracicaba conduziu, portanto, um concurso local, sob todos os aspectos.

Como da vez anterior, esta nova comissão também concluiu por não conceder o prêmio a nenhuma das obras que concorriam. Seu parecer final foi dado nos seguintes termos: “Depois de trocas de opiniões entre os membros da comissão julgadora, chegou-se ao consenso de que nenhum dos trabalhos apresentados reúne as condições necessárias para um hino à altura da E.S.A. “Luiz de Queiroz”

Em nove de dezembro de 1976, durante a última reunião ordinária da congregação da ESALQ, o Prof. Salvador de Toledo Piza Junior, tendo solicitado a palavra, proferiu o seguinte pronunciamento:

Considerando ser esta a reunião ordinária de encerramento do ano jubilar da ESALQ, peço licença para ler poesia de minha autoria numa homenagem ao 75o. aniversário de fundação da “Luiz de Queiroz”

Por proposta do Prof. Frederico Pimentel Gomes, resolveu-se que a referida poesia constasse da ata, como segue:

“Oh Escola nascida no monte!
Jóia rara de fino lavor!
Esse nome que trazes na fronte
é o nome do teu sonhador,

Do que teve o feliz privilégio,
qual Anchieta de ampla visão,
de prever, na montanha, um colégio,
que crescesse por toda a Nação!

Desta Escola, por ele sonhada
e dos jovens que a ela vêm ter,
eis que surge a legião denodada
de uma gente que aspira vencer.

Cavaleiros que odeiam a guerra,
bem armados de sãos ideais,
converteram o humo da terra,
na pujança dos seus cafezais.

Oh Escola! Oh flor da montanha!
Oh insigne “Luiz de Queiroz”!
Tua história é uma força tamanha,
Que nos faz avançar mais veloz.

Tua vida, o passado escreveu!
Tua glória, o futuro dirá!
Teu presente assinala o apogeu
Do grandioso amanhã que virá.

Ao cantarmos as nossas conquistas
numa vida de intenso labor,
outra coisa não temos em vista,
que pagar-te um tributo de amor.

E ao fazê-lo nest’hora queremos
coroar-te com grande esplendor!
Para isso melhor nada temos
Que raminhos de café em flor!

Eia, pois, esalqueanos, sem guerra!
Co’a bandeira da Escola na mão,
ensinai que plantar nesta terra
é lutar pela grande Nação!”

Este registro na ata das reuniões da Congregação da ESALQ foi a última vez que se ouviu menção do poema do Prof. Piza, até o ano de 1981.

Nesse ano, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” completaria 80 anos de existência. Era então Diretor da ESALQ o Prof. Aristeu Mendes Peixoto. Quis o Prof. Aristeu realizar uma comemoração condigna com a data do 80o. aniversário. Deve ser lembrado que não havia, então, como até hoje ainda acontece, a tradição de anualmente celebrar-se, condignamente, o aniversário da E.S.A. “Luiz de Queiroz”.

Fui convocado pelo Diretor para planejar a sessão solene para comemorar a data. Era a oportunidade para apresentar oficialmente aos esalqueanos, e ao público em geral, o recém formado “Coral Luiz de Queiroz” sob a regência do Prof. Hélio Almeida Manfrinato. Deve-se mencionar aqui que, embora outras tentativas tenham sido feitas para a formação de um coral na ESALQ, esta foi a que realmente teve êxito e que, a partir desta primeira apresentação, passou a abrilhantar as cerimônias festivas da ESALQ. O atual coral sob a regência da Maestrina Cíntia Pinotti é a continuação daquele que se apresentou por ocasião dos 80 anos de existência da E.S.A. “Luiz de Queiroz”, bem como em inúmeras apresentações na ESALQ e em São Paulo.

Apresentei ao Prof. Aristeu a sugestão de realizarmos a cerimônia exatamente no dia 3 de junho, um dia da semana, às 13h00min horas, no Salão Nobre da Escola. Ao seu comentário de que a essa hora não teríamos público, disse-lhe: “Libere funcionários e professores e teremos o Salão Nobre lotado, sem contar o pessoal da cidade”. Foi incluída no programa, também, a homenagem aos servidores, funcionários e docentes, que haviam se aposentado no ano anterior. Isto foi pensado com a intenção de formar-se uma tradição de reconhecimento por serviços prestados.

Pronto o programa, faltava o discurso dos 80 anos. O Diretor convidou-me para fazê-lo e, com isso, deu-me a oportunidade que esperava para resgatar o poema do Prof. Piza, colocando-o em uma nova posição, não como letra de hino, mas como um poema épico para a sua, e também nossa, Escola: ODE A ESALQ.

Voltando no tempo, quero mencionar que havia já lido antes a poesia quando o Prof. Piza convidou o Prof. Hélio Manfrinato e eu para lermos o que ele pretendia apresentar como letra do hino da ESALQ. Naquele dia, depois de lermos o poema comentamos, Hélio e eu, que era um belo poema, sim, mas muito longo e inadequado no conteúdo para ser letra de um hino.

Foi deste episódio que me lembrei ao ser convidado pelo Prof Aristeu para proferir o discurso dos 80 anos da ESALQ.

Havia, entretanto uma alteração para manter a harmonia do poema, agora rebatizado de ODE. Era a eliminação da oitava estrofe. Apresentei ao Prof. Piza a solicitação de sua permissão para essa alteração e para declamar seu poema como ODE À ESALQ por ocasião dos 80 anos. Ele mostrou-se contente em ver o seu poema voltar à luz dessa forma e concordou com o corte da 8a. estrofe.

Levei o novo texto ODE ao Prof. Arquimedes Dutra. Contei a ele o que pretendia e pedi que fizesse parte do projeto gravando em um pergaminho o texto. Ele não só atendeu como foi além do que havia imaginado, pois, depois de pronta, levou a tela ao Prof. Piza para assiná-la. Colocou-a em um quadro, com moldura de sua escolha, ao lado da pintura original da flâmula da ESALQ, pintada por ele para os festejos dos 75 anos da Escola.

Faltava apenas preparar a declamação. Não sendo declamador, aliás, não havia ainda declamado em público, pedi a meu amigo e poeta Alceu Osias Martins. formado na ESALQ em 1928, que a declamasse. Gravei sua interpretação e a estudei para a apresentação.

Na Sessão Solene dos 80 anos da ESALQ, o discurso foi concluído com a declamação da ODE À ESALQ dizendo:

Esta é a ODE À ESALQ, escrita por Salvador de Toledo Piza Jr,, formado nesta Escola em 1921, declamada segundo a interpretação de Alceu Osias Martins, formado nesta Escola em 1928, por Zilmar Ziller Marcos, formado nesta Escola em 1955, gravada em pergaminho por Archimedes Dutra, doutorado por esta Escola em 1958, e entregue a Aristeu Mendes Peixoto formado nesta Escola em 1949.

Em seguida, diante do público, passei às mãos do Prof. Aristeu, que presidia a solenidade, a caixa contendo o quadro com a ODE À ESALQ.

Esse quadro ornamentou o salão de reuniões da Diretoria da ESALQ durante muitos anos. Infelizmente, alguém substituiu a moldura que o Prof. Arquimedes havia escolhido e transferiu o quadro da Ode para a saleta da secretária do Diretor. Lá ficou durante alguns anos até que foi devolvido ao salão de reuniões da diretoria da ESALQ.

Como consideração final, resta dizer que a ODE À ESALQ incorporou-se, desde a sua apresentação em três de junho de 1981, ao patrimônio cultural da Escola. É apresentada no final apoteótico das solenidades de colação de grau, e na sessão solene de encerramento da Semana Luiz de Queiroz. Os alunos veteranos a incluíram na relação de deveres dos calouros ingressantes e é freqüente ouvir-se a declamação em festas dos acadêmicos da E.S.A. “Luiz de Queiroz”

(preparado por Z.Z. Marcos em 15/02/2006 e enviado ao Prof Dr. Jose Roberto Postali Parra. Encontra-se nos Arquivos Protocolares da ESALQ)

ZILMAR ZILLER MARCOS
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