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Você não está sozinho...procure ajuda (Iskrépi; F11)
02/06/2021 - Por luciana okazakiAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Um dia depois de completar 33 anos, meu corpo começou a dar os primeiros sinais da avalanche que estava por vir.
Era dezembro de 2019 e fazia pouco mais de 4 meses que eu havia iniciado a psicoterapia. Com a minha terapeuta, descobri que tinha passado 10 anos de minha vida sofrendo de Síndrome do Pânico (no período entre o meio da graduação e o auge da minha carreira como CLT) sem saber o que era aquilo. Eu sofri em silêncio, entre idas e vindas de prontos-socorros - achando que estava tendo um AVC ou ficando louca, e sem nenhum médico nunca ter desconfiado do que poderia ser - até que num determinado momento aceitei a sugestão dos meus pais de buscar ajuda profissional.
Eu havia vivido 10 anos torturantes. Em ciclos que se repetiam a cada 2 anos: entrava num novo emprego, estava com a motivação a mil, aprendia muitas coisas, produzia bastante, chegava num plâteau, começava a me desanimar e as crises de ansiedade começavam. Nesse momento de pico minha reação era sempre a mesma, e eu pedia demissão e buscava algo novo. Nunca nenhum gestor olhou para aquilo e desconfiou que poderia ser um desequilíbrio emocional. Talvez até desconfiassem, mas aquilo nunca foi conversado. Era um tabu. Era feio, precisava ser escondido. ´Manda a funcionária para a casa pelo resto do dia e amanhã ela volta´.
Ao começar a fazer a psicoterapia tive a oportunidade de investigar as causas raízes dessas crises. Não era um único motivo. Nunca é. É uma junção de fatores que leva uma pessoa a se desequilibrar emocionalmente. Começamos a cavar (eu e a minha terapeuta), e descobri traços em mim que eu nunca sequer havia olhado e nem sabia que existiam. Fui percebendo traumas e vivências que me levaram a esse lugar onde não havia mais turning point. O buraco está sempre mais embaixo. E cavamos, cavamos, cavamos muito.
E como numa montanha bem íngreme, onde a neve vai se acumulando, passam por ali vários esquiadores, há ventos fortes, propagação de som e vibração. E quando buracos são abertos, o resultado é determinístico: uma avalanche.Meu corpo começou a dar sinais de extremo cansaço, enxaquecas com dores lancinantes apareceram. Minha cervical (que eu havia quase quebrado em 2018, e era meu ponto fraco) se enrijeceu. Uma semana depois eu travei. Eu não conseguia ficar em pé, não conseguia andar, não conseguia ficar sentada. Passei quase um mês deitada. Nem sequer sentava no banco do passageiro para ir ao pronto-socorro (ia deitada no banco de trás). Maratona de hospitais novamente. Até que meu ortopedista e neurologista combinados (´benzaDeus´ que eles apareceram na minha vida!), chegaram a uma fórmula que funcionou para me tirar do buraco: exercícios físicos aeróbicos, dieta, fisioterapia e venlafaxina (um antidepressivo utilizado especialmente no tratamento de TGA - Transtorno de Ansiedade Generalizada).
Nesse momento a ficha caiu. Meu wake up call estava ali na minha frente: meu corpo parou para que eu realmente me escutasse. Não havia mais alternativa senão olhar para tudo o que me incomodava. E minha carreira profissional era uma delas. Nunca senti prazer nos trabalhos que tive. Ser engenheira agrônoma era um título que não me brilhava os olhos. E por que cheguei ali? Porque estava vivendo o sonho de carreira de outra pessoa. Uma carreira que foi desenhada para mim, mas não por mim. A partir deste dia, eu pedi demissão, para não voltar mais ao CLT.
Entrei num ano sabático. O plano era viajar, espairecer a cabeça...e aí apareceu um tal de Covid-19! Mas tudo bem, o que aprendi nesse período é que consigo sim fazer do limão uma limonada (e ainda usar a neve como gelo para refrescar a bebida), afinal de contas sou sagitariana rs. Mergulhei no sabático e fiz a melhor viagem de todas: para dentro da Luciana. Nem sabia quem eu era, o que gostava, o que queria. E nesse pouco mais de um ano, descobri que o caminho do autoconhecimento é a melhor jornada que podemos fazer. Ela custa caro e é dolorida, entretanto é extremamente recompensadora.
Nesse ano sabático tive a presença de uma segunda terapeuta, uma terapeuta holística. Em 4 meses eu consegui fazer uma reviravolta na questões que me incomodavam. Minha vida ficou muito mais leve. As terapias energéticas me ajudaram como ninguém nunca antes conseguiu me ajudar. E é por esse caminho que a neve agora passa, suavemente e com obstáculos contornáveis.
Aos poucos vou me soltando e deixando que a vulnerabilidade abra os próprios caminhos que nunca imaginei trilhar (as redes sociais, por exemplo). Há exatamente um mês iniciei um perfil onde falo sobre o Autoconhecimento e toda a jornada que descrevi neste breve relato. Falo da importância de desacelerarmos nesse mundo tão louco e corrido que vivemos, e de estarmos mais conectados no momento presente.
Meus caros doutores, colegas e bixos, o que quero dizer para vocês é: está tudo bem em pedir ajuda. Está tudo bem recorrer a um profissional. Não deixem essa neve se acumular. O estrago da avalanche é horrível: ela leva tudo que está no caminho. Árvore, pedras, detritos e construções. Limpar toda essa sujeira depois dá um trabalho imenso e é cansativo. Se puder evitar essa derrocada, evite. Se cuide, se proteja. As empresas aos poucos vem normalizando a abordagem sobre a saúde mental dos seus funcionários. E se na sua não for comum ainda, peça ajuda externamente. Converse com alguém. Há muitas pessoas sofrendo silenciosamente junto com você. Você não está sozinho.
Luciana Okazaki (Iskrépi; F-11) ex-moradora da República Cupido, é engenheira agrônoma em busca de viver seu propósito como Terapeuta Integrativa
Quer descobrir mais sobre a minha Jornada de Autoconhecimento? Veja outros insights sobre meu ano sabático, transição de carreira e como viver uma vida mais leve no meu Instagram @luciana.okazaki