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Uso de pesticidas agrícolas: como podemos esclarecer e avançar (Mentão; F73)
05/07/2023 - Por josé otávio machado mentenAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Recentemente
participei do SENAGRI 2023 (Seminário Nacional de Insumos Agrícolas) realizado
em Belo Horizonte - MG, organizado pela Sociedade Brasileira de Defesa
Agropecuária (SBDA). Estiveram presentes no evento cerca de 500 profissionais, especializados
em insumos agrícolas (pesticidas, fertilizantes e sementes), ligados a órgãos
governamentais federais, estaduais e municipais e empresas privadas
(fabricantes de insumos, consultores, etc.). No painel que participei
discutiu-se pesticidas agrícolas ou defensivos, produtos fitossanitários,
praguicidas ou agrotóxicos. Ficou claro que o Brasil não é o maior consumidor,
embora seja o maior mercado, quando se trata de pesticidas químicos. É
importante esclarecer que, atualmente, também existem os pesticidas biológicos.
Enquanto o mercado de químicos deve aumentar, nos próximos anos, 2% ao ano, o
mercado de biológicos deve crescer 30% ao ano!
Para se comunicar o consumo, é fundamental utilizar indicadores adequados. No caso de pesticidas químicos, o consumo deve ser medido pela quantidade de pesticidas utilizados por unidade de área cultivada ou por quantidade produzida. De acordo com fontes confiáveis, embora o Brasil seja o maior mercado de pesticidas químicos, no "ranking" dos maiores consumidores fica em 44º lugar quando se utiliza a quantidade por unidade de área cultivada e em 58º lugar quando a mensuração é feita pela quantidade de pesticida por tonelada produzida. Países como Japão, Coreia do Sul, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá, etc. consomem muito mais pesticidas agrícolas que o Brasil.
É importante deixar claro que os pesticidas agrícolas utilizados no Brasil são de boa qualidade. Para serem comercializados, têm que ser registrados. Este é um processo rigoroso, realizado por três entidades: MAPA (Ministério da Agricultura), que avalia os aspectos agroquímicos; ANVISA (Agência de Vigilância Sanitária, Ministério da Saúde), que avalia os aspectos toxicológicos/cuidados com a exposição das pessoas; e o IBAMA, órgão do Ministério do Meio Ambiente, que avalia o efeito do pesticida no solo, água e atmosfera e sobre os organismos não alvo, aquáticos e terrestres. Desta forma, os pesticidas químicos mais modernos são cada vez melhores, mais amigáveis, não causando efeitos negativos nos aplicadores e no ambiente e nem deixando resíduos perigosos nos alimentos, quando usados corretamente. Tanto que, atualmente, o Brasil, além de atender com alimentos de qualidade toda sua população, exporta para consumidores de mais de 150 países. Embora os pesticidas químicos só possam ser adquiridos através da Receita Agronômica, elaborada por profissional habilitado, é muito importante que sua utilização seja correta e segura. São fundamentais procedimentos adequados no transporte, armazenamento, uso de EPI (equipamentos de proteção individual), preparo da calda, tecnologia de aplicação e destinação correta de sobras e embalagens vazias. Destacam-se a utilização da dose correta e o período de carência ou intervalo de segurança.
Estes cuidados são essenciais para que os pesticidas agrícolas cumpram sua função de controlar as pragas agrícolas, responsáveis por 40% de prejuízo na produção de alimentos, fibras naturais e bioenergia, mas não causem efeitos colaterais indesejáveis. Assim, é possível uma convivência harmônica, por exemplo, entre agricultores e apicultores, garantindo a polinização adequada e produção de mel. Além de entregar aos consumidores alimentos livres de resíduos.
O agro vem, continuamente, aprimorando seus procedimentos, visando sua sustentabilidade. Desta forma, o Brasil vai se consolidando como potência agrícola e ambiental, contribuindo com a geração de emprego e renda, aumento do PIB e das exportações, melhorando a qualidade de vida das pessoas.
José Otávio
Menten
Professor Sênior da USP/ESALQ, Presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)