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Uso de agrotóxicos, benefícios, riscos e cuidados (Mentão F73)
08/07/2016 - Por josé otávio machado mentenAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Há questionamentos sobre o uso de agrotóxicos, seus benefícios, riscos e cuidados. O termo agrotóxico é muito amplo. De acordo com a nossa legislação, inclui processos e substâncias que controlam pragas. Isto significa que todas as medidas de manejo de pragas são agrotóxicos, incluindo métodos biológicos, físicos, mecânicos e culturais, além dos químicos. O termo agrotóxico se refere não apenas as pragas agrícolas, mas também de pragas não agrícolas e urbanas. Assim, quando estamos tratando de manejo de pragas agrícolas, utilizando substâncias químicas ou biológicas, pode-se usar os termos: produto fitossanitário, defensivo agrícola e outros. Até mesmo agroquímico, pesticida ou praguicida. O termo agrotóxico, embora tenha sido incorporado como sinônimo de produto fitossanitário, não tem similar em nenhum outro idioma, incluindo o inglês e o espanhol.
Os produtos fitossanitários são seguros. Para poderem ser
comercializados tem que ser registrados e cadastrados. O registro é um processo
rigoroso, que segue padrões internacionais. No Brasil, envolve avaliação
toxicológica, que é de responsabilidade da ANVISA e do Ministério da Saúde, e
avaliação ambiental, incluindo comportamento no solo, água e atmosfera e
efeitos nos organismos vivos, que é de responsabilidade do IBAMA e do
Ministério do Meio Ambiente, além da avaliação agronômica/eficiência contra as
pragas-alvo, que é realizada pelo MAPA.
Todos os produtos registrados tem que ser cadastrados em cada Estado,
antes de serem comercializados. Embora sejam produtos estudados profundamente,
os defensivos agrícolas devem ser usados apenas quando necessários e de acordo
com procedimentos adequados. Isto envolve as Boas Práticas Agrícolas,
incluindo: aquisição, transporte, armazenamento, EPI (Equipamento de Proteção Individual),
preparo da calda, aplicação e destino adequado de sobras e embalagens. As
principais preocupações referentes aos problemas com defensivos referem-se a
intoxicações do manipulador/aplicador e resíduos em alimentos. Se forem
seguidas as regras de uso correto e seguro, em especial o uso de EPIs, dose e
período de carência, não devem ocorrer efeitos colaterais indesejáveis. Embora
o treinamento dos manipuladores de defensivos seja responsabilidade de Governo,
a indústria e os canais de distribuição tem se empenhado nesta atividade.
A qualidade dos alimentos produzidos no Brasil, sob o
aspecto de resíduos de produtos fitossanitários em alimentos, é adequada. O LMR
(Limite Máximo de Resíduo) não é um parâmetro toxicológico, mas agronômico, que
indica que o produto foi aplicado corretamente.
A fiscalização vem sendo feita pelo MAPA, através do PNCRC (Programa
Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes), que inclui não apenas os
defensivos, mas contaminações microbiológicas e toxinas, e pela ANVISA, através
do PARA (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos). As inconformidades
mais frequentes referem-se a detecção de produtos não autorizados, ou seja,
produtos que não estão registrados para aquela cultura. Os níveis de amostras
acima do LMR ficam em torno de 4%, o que está dentro de parâmetros aceitáveis.
Diversos produtores e comerciantes de alimentos já estão implantando programas
de análise de resíduos particulares, visando informar a qualidade e
rastreabilidade dos alimentos aos consumidores. O Brasil é líder mundial na
destinação adequada de embalagens vazias de produtos fitossanitários.
A Receita Agronômica é um instrumento que visa racionalizar
a utilização de produtos fitossanitários, que só podem ser adquiridos com a
receita elaborada por um profissional habilitado, engenheiro agrônomo ou
florestal. A receita implica na análise de cada situação e, se a utilização de
produtos fitossanitários for necessária, deve seguir as orientações do
profissional. A aquisição do produto fitossanitário pode ser feita nos canais
de distribuição (cooperativas ou revendas).
Todos os produtos fitossanitários tem calculado seu NOAEL
(No-Observed Adverse Effect Level), com base em experimentos com animais de
laboratório e considerando que o homem é 100 vezes mais sensível. Também tem
determinado sua IDA (Ingestão Diária Aceitável). O risco de ocorrência de
problemas de saúde depende da dose (quantidade ingerida). Os produtos
fitossanitários são utilizados em doses baixas. Desta forma, dificilmente vão
causar problemas devido a resíduos em alimentos. Caso existam evidências que
determinado produto possa causar algum tipo de doença, estas devem ser
encaminhadas a ANVISA que pode proceder a uma reavaliação, de acordo com
métodos científicos. Isto não deve ser motivo de restringir o consumo de frutas
e hortaliças, muito importantes para a saúde adequada da população.
José Otavio Menten é presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Conselheiro do CREA-SP, vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ.