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Uma década construindo um caminho (Silicone; F05)

29/01/2018 - Por otavio lemos de melo celidonio
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Neste mês de janeiro completei uma década de serviços prestados para o Sistema Famato. Ao todo foram oito anos no Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea) e dois anos no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (SENAR-MT). Apesar da tecnologia ter melhorado a minha visão por meio de uma cirurgia moderna, o tempo me trouxe muitos cabelos brancos, rugas e, digamos que, uma menor densidade de cabelo, mas também me trouxe muita experiência.

Sei que 10 anos não é tanto tempo assim, mas é uma data emblemática e, por isso, me fez refletir profundamente sobre as mudanças e os caminhos escolhidos ao longo dessa jornada.

Minha chegada no Sistema Famato coincidiu com uma época de mudanças profundas no Sistema representativo dos produtores rurais de Mato Grosso. O fundo da cultura da soja havia sido criado recentemente e a Associação de Produtores de Soja e Milho (Aprosoja) ocupava uma sala apertada e estreita no segundo piso do prédio da Famato. 

A Acrimat ainda viria a ser estadualizada em meados de 2008. No Sistema Famato o SENAR-MT estava de mudança, passando a ocupar prédio próprio e estávamos começando uma profunda reestruturação do Imea, onde comecei como analista da bovinocultura de corte.

Formamos um time único, que não só trabalhou muito, mas que sempre entendeu e acreditou na missão do Imea, tanto que o Instituto rapidamente tomou uma dimensão enorme, passando a ser referência no Mato Grosso e Brasil. O Imea se tornou um grande laboratório e uma fábrica de talentos. Quanta gente boa passou por ali. Eu segui firme e não demorou muito para que o sucesso e a oportunidade dos outros se transformasse também em oportunidade para mim.

Com apenas 2,5 anos de casa e 27 anos de idade fui convidado para ser Superintendente do Imea. Não foi fácil. Confesso que pensei em desistir várias vezes e tive que trabalhar duro para, além de desenvolver competências técnicas - como o de entender cadeias do Agronegócio que não conhecia -, construir novas competências comportamentais, que me permitiram dar entrevistas, fazer palestras e, principalmente negociar com colaboradores, parceiros e diretores.

É difícil saber qual o segredo do sucesso, até porque geralmente é uma junção de vários fatores, mas um ponto que sempre trabalhei muito foi deixar o trabalho de todos sempre mais fácil. Eu levava isso tão a sério que costumava dizer uma frase bem-humorada da república onde morei em Piracicaba/SP. "Se cada um fizer um pouco, a gente não precisa fazer nada". Sempre trabalhei, deliberadamente, para ensinar tudo o que sei e, assim, ser cada vez menos necessário.

Para alguns pode parecer loucura, mas sempre acreditei que ao tornar o nosso trabalho (ou pelo menos parte) desnecessário abrimos uma janela para encontrar novos problemas e, consequentemente, novas oportunidades. Então, quando eu estava muito próximo de "não precisar fazer quase nada" no Imea, meu momento chegou e fui convidado para um desafio ainda maior: ser Superintendente do SENAR.

O desafio do SENAR é hoje proporcional ao tamanho do Agronegócio matogrossense. Isso porque além das metas operacionais - realizar cerca de seis mil eventos em todo Mato Grosso, administrando mais de 150 colaboradores, 300 instrutores e a parceria com 90 sindicatos, - ainda temos que promover a transformação da vida dos produtores e trabalhadores rurais por meio da educação.

 

Apesar dos grandes números, é interessante ver como rapidamente esses indicadores deixam de nos impressionar. Na verdade, teve um momento em que senti que tinha perdido a motivação. Ao ver tornar-se rotina algumas conquistas, não conseguia mais me lembrar das que mais tinham ajudado os produtores e também daquelas de que mais me orgulhava.

 

O que curou isso foi a maturidade desses dez anos. Foi perceber que o sucesso não é moldado com resultados, mas com o constante aprendizado e ensino de habilidades e culturas. Perceber que só conseguimos ter "a opção de não fazer quase nada" quando o propósito é compartilhado pelos demais colaboradores, ou seja, que estes não só se sentem bem recompensados, mas também entendem a importância, têm competências técnicas e amam o que fazem. E, felizmente, perceber que ajudei a assentar alguns tijolos na construção desse caminho.

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