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Susto 2 (Pinduca F68)
19/10/2015 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

A estadia em Belém foi complicada, graças ao "carapanã",
mosquitinho parecido com o "pólvora" aqui do sul, um suplício, principalmente à
noite, pois o calor não permitia usar nem roupa nem coberta para dormir, na
casa do Estudante. A documentação da kombi, para permitir a saída da cidade
também foi complicada, tomando muito tempo, mas ainda assim foram possíveis as
visitas de praxe : Museu Emilio Goeldi, Ver o Peso e Escola de Agronomia.
Ao entregar uma carta, enviada para a família por um estudante
conhecido em Brasília, conheceram a hospitalidade dos paraenses : foram
convidados a passar um fim de semana na praia do Mosqueiro, famosa na região.
Dia seguinte, na hora do almoço, apanharam as duas irmãs do estudante, mais
duas amigas e uma tia, já que os pais não poderiam acompanhá-los. A kombi saiu
lotada de Belém, chegando no fim da tarde ao Mosqueiro, após a travessia da
balsa. Na casinha de praia, depois de alojadas as mulheres, não sobrou muito
espaço para os quatro viajantes, que tomaram um banho e decidiram seguir sua
rotina, dormindo na kombi. Só que antes de dormir foram a um baile numa casa da
vizinhança, onde acabaram sendo a atração da noite : São Paulo era apenas uma
imagem na cabeça da maior parte dos jovens dali, e a presença dos quatro
paulistas ali em seu meio, chamava muito a atenção. Eles eram tirados para
dançar pelas garotas presentes, o que causou um mal estar nos rapazes
paraenses. Para evitar confusão, os quatro decidiram ir embora, para procurar
um lugar seguro para passar a noite no carro.
Depois de rodar pela ilha optaram por uma estrada de terra,
e quando manobravam para entrar na estradinha, viram se aproximar um carro, que
parou de frente para a kombi, com seus faróis altos ofuscando a visão dos
viajantes. E meio ofuscados viram a silhueta de um braço empunhando um revolver
ser tirado para fora da janela do carro, apontando em sua direção. E viram os
clarões dos disparos, seguidos dos estampidos! Foi o terror, e o Universitário,
que estava no banco da frente junto ao motorista, até hoje não sabe como foi
parar encolhido entre o freio de mão e o porta luvas da kombi. Feitos os
disparos o fusca fugiu, e os viajantes refeitos do susto, puderam perceber que
os agressores só queriam assustá-los, pois seria impossível errar os tiros
daquela distância. Mas o resto da noite foi de vigília, com a kombi estacionada
no meio da pista de terra do aeroporto da ilha, lugar descampado.
No dia seguinte, na praia, a notícia já havia corrido, e
logo os viajantes souberam que os três rapazes, autores dos disparos, tinham
capotado o fusca na fuga, felizmente sem grandes conseqüências. E o assunto foi
motivo de muitas risadas para todos, inclusive os agressores, que acabaram se
chegando ao grupo, para provar da comida dos paulistas, uma legítima feijoada
em lata, com arroz papa e batatas fritas.
Mas por via das dúvidas, os viajantes resolveram antecipar a
viagem, saindo da ilha do Mosqueiro logo após o almoço, pois havia muito chão
para percorrer até chegar de volta a São Paulo.
Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro