Blog Esalqueanos
Seu Lu 1 (Pinduca F68)
17/12/2015 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Após o acidente com o Comandante P., a safra estava por
começar, e a situação era complicada. Havia contratos assinados, compromissos
assumidos com vários agricultores, que dificilmente seriam cumpridos com um
avião a menos. Os patrões conseguiram receber adiantado uma parte das
aplicações a serem feitas, e com o dinheiro foi comprado um outro aviãozinho
PA-18A, este já numa versão agrícola, com motor de 150 HP, estrutura mais
robusta e tanque de veneno montado no lugar do banco traseiro.
O Agrônomo estava desorientado, pois não tinha recursos nem
para preparar os aviões para o início do trabalho. Havia que descontaminá-los
dos resíduos do 2,4-D, herbicida usado no trigo e que era fatal para as
plantinhas de algodão. Havia que calibrá-los, para aplicar as doses corretas
dos inseticidas. Havia que demarcar as pistas de onde os aviões voariam. E
havia que fazer o reconhecimento das áreas a serem pulverizadas, para melhor
definir como seriam feitas as aplicações em relação aos ventos predominantes e
às dimensões dos campos. Aos poucos o trabalho foi sendo feito, com a ajuda de
companheiros como o Tonicão. Ele era dono de uma revenda de defensivos que
vendia os produtos que os aviões aplicavam, e emprestou ao Agrônomo uma quantia
em dinheiro para comprar gasolina para os aviões e dar início às aplicações. A
estratégia era ir aplicando as áreas contratadas, já pagas, e esperar que
aparecessem outros interessados, sem contrato, cujos serviços seriam cobrados à
vista, gerando recursos para "tocar" os trabalhos.
O primeiro interessado extra contrato foi o Sr. Décio, da
cidade de Assis, cuja lavoura ficava à beira do Rio Paranapanema e precisava
ser pulverizada com urgência, pois as lagartas estavam dizimando a soja.
Negócio acertado, o Agrônomo despachou um avião para Naviraí, para pulverizar o
algodão dos Kamitani, e foi procurar uma pista próxima à fazenda do Sr.Décio.
As indicações o levaram à fazenda do Sr.Luiz de Souza Lima, conhecido por Seu
Lu, do outro lado do rio, já no Paraná. O Agrônomo conhecia a fama do Seu Lu,
natural de Mocóca
Na mesma tarde o avião chegou à fazenda e começou a aplicar
o inseticida, e como o serviço estava andando normalmente, o Agrônomo foi
cuidar de outras coisas, indo a Presidente Prudente buscar gasolina, que estava
acabando, e de lá rumou para Porecatú, onde deveria pousar o avião que voltaria
de Mato Grosso.
No outro dia de madrugada, no hotelzinho em Porecatú, foi
acordado pelo porteiro, que lhe disse haver um telefonema para ele na portaria.
Era o Tonicão, avisando que o avião operando da pista do Seu Lu havia sofrido
um acidente. Ao fazer uma pequena área de demonstração numa lavoura de algodão
do Seu Lu, o Comandante R. perdeu altura e bateu, sofrendo ferimentos graves,
mas o que causou sua morte foi a intoxicação pelo inseticida, que com o impacto
da batida esparramou-se pela cabine e motor, cobrindo praticamente seu corpo
todo.
O tanque de veneno no banco traseiro do avião, um avanço
técnico, havia sido fatal para o piloto.
Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro