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Segunda-feira sem carne: mentiras, irresponsabilidade e autoritarismo (Big-Ben; F97)
03/01/2018 - Por mauricio palma nogueiraAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Polêmico projeto de lei foi aprovado com base em mentiras e
meias verdades
Na
última semana de 2017, o setor de produção de proteínas animal foi surpreendido
com a absurda aprovação do projeto de Lei 87/2016, que agride o bom senso e
afronta os princípios democráticos.
O
que antes podia ser atribuído apenas aos devaneios de um deputado que, assim
como tantos outros, ocupa um cargo sem a competência e responsabilidade para tal,
se tornará lei pelo aval coletivo da Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo. O único obstáculo que resta para
evitar o absurdo seria o veto do Governador. E a expectativa é que Geraldo
Alckmin realmente vete o texto na íntegra, o que já foi sinalizado pela
assessoria de imprensa e pela própria Secretaria da Agricultura.
Embora
o projeto de lei impacte apenas estabelecimentos que se relacionem com o setor
público e com as escolas, o objetivo final é estabelecer a cultura da segunda-feira
sem carne para toda a população, que conta com o engajamento explícito da campanha
coordenada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).
Essa
demonstração autoritária, perpetrada por um grupo que se julga moralmente
superior a ponto de ditar os hábitos de consumo da sociedade, não poderia passar
por uma Assembleia Legislativa em hipótese alguma. No entanto, os absurdos não
param por aí.
Ao
ler a justificativa para o projeto de lei, publicada na página do próprio
deputado Feliciano Filho (PSC), constata-se o quão inadequada é a atuação dos
representantes eleitos por nossa sociedade. O deputado começa sua cantilena
demonstrando um notório saber multidisciplinar, que navega pela climatologia,
saúde humana, nutrição e conhecimentos botânicos:
["O objetivo da presente
propositura é chamar a atenção da sociedade sobre as consequências do consumo
de carne e de seus derivados, relacionando tal questão diretamente aos direitos
dos animais, à crise ambiental, ao aquecimento global, à perda de biodiversidade,
às mudanças climáticas e às diversas doenças que afligem a população humana,
incluindo doenças cardiovasculares, doenças crônicas degenerativas, colesterol
elevado, diversos tipos de câncer e diabetes. (Feliciano Filho, PSC, 2016)"]
É
incrível a confiança dos deputados estaduais no repertório de conhecimento
demonstrado pelo deputado.
Em
seguida, cita como fonte de seu embasamento um site com o nome do projeto que
ele quer fazer acontecer, por força da lei.
O
deputado também lança mão de afirmações empíricas praticamente classificando-as
como conhecimento de domínio público, o que definitivamente não é. O que se
sabe, de fato, é que para suprir toda a demanda proteica, com uma alimentação
baseada apenas em fontes vegetais, há poucas opções disponíveis e muitas vezes
pouco acessíveis aos mais pobres. Quem defende a possibilidade de substituir a
proteína animal por fontes vegetais geralmente defende sua ideia com base no
teor de proteína bruta. Mas ignora o fato de que há todo um conjunto de aminoácidos
cujas necessidades precisam ser atendidas, além da necessidade de se considerar
disponibilidade e qualidade nutricional.
Ao
afirmar que uma alimentação sem ingredientes de origem animal é ética, o
deputado reforça a crença de que é moralmente superior aos que consomem carne.
Todas as grandes tragédias provocadas pelo homem à sua própria sociedade foram
concebidas por grupos que tiveram poder suficiente para impor aos demais a
forma como deveriam viver. É o embrião do fim das liberdades individuais.
Com o explícito interesse em determinar o que são os hábitos éticos ou antiéticos, de acordo com suas próprias crenças, o deputado se confessa autoritário, ditatorial e totalmente inadequado num regime democrático.
[Segundo a fonte de
pesquisa ´www.segundasemcarne.com.br´: atualmente, são mortos cerca de 70
bilhões de animais terrestres por ano no mundo, com a simples justificativa de
que precisamos nos alimentar. No entanto, sabe-se que o reino vegetal é
plenamente capaz de suprir as necessidades de uma população. Isso porque uma
alimentação sem ingredientes de origem animal é ética, saudável e sustentável.
Não se pode esquecer que, assim como nós, os demais animais querem ser livres e
ter uma vida normal junto a membros da sua espécie. Desde milênios, o homem vem
explorando e subjugando os animais, os quais, considerados inferiores, são
transformados em mercadoria. Impedi-los de desenvolver uma vida plena não é
justo, já que possuímos alternativas saudáveis e menos impactantes para nos
alimentar.(Feliciano Filho, PSC, 2016)]
Ao
contrário do que o deputado defende, o Homem não considera os animais
inferiores. O Homem melhorou o ambiente para que os animais pudessem se
multiplicar atingindo populações que nunca atingiriam, caso estivessem livres
na natureza.
O
deputado apresentou alguma proposta sobre o que deveria ser feito com os
animais vivos, caso deixássemos de produzir comercialmente?
Seria
o deputado capaz de responder quem pagará por essa vida plena a todos os
animais que ele quer salvar? Ou seriam abandonados à própria sorte, passando
fome, caçados por predadores que desconhecem o conceito de abate humanitário?
Na
falta de orçamento para manter os animais, e diante da necessidade de manter o
status de "salvadores dos animais", os cadáveres dos mesmos seriam escondidos
em geladeiras ou enterrados?
[O "Guia Alimentar"
elaborado em prol da população brasileira, publicado em 2006 pelo Ministério da
Saúde, faz um alerta sobre o consumo de carne:"No passado, acreditava-se que as
crianças e também os adultos fisicamente ativos precisavam consumir alimentação
com alto teor de proteína de origem animal. Hoje, sabe-se que não é assim. Uma
alimentação rica em proteínas animais contém altos teores de gorduras totais e
de gorduras saturadas, portanto poderá não ser saudável".(Feliciano Filho, PSC,
2016)]
A
informação sobre o guia alimentar está descontextualizada e desatualizada. O
consumo de proteínas de origem animal é da natureza humana e é, inclusive,
associado ao desenvolvimento do cérebro e da inteligência no processo evolutivo.
Nos debates entre nutricionistas, os engajados na ideologia do vegetarianismo
não conseguem responder aos dados que apontam o consumo excessivo de açúcares,
grãos e derivados como os maiores causadores de problemas de saúde. O consumo
de proteínas de origem animal é fundamental para manter o equilíbrio da dieta.
Inclusive, já se questiona a má imagem em torno das gorduras de origem animal.
Diante da surra que sempre levam em debates com especialistas, os engajados lançam mão de argumentos subjetivos, relacionados à ética em torno do abate dos animais ou em afirmações que foram rebatidas em debates sérios.
[Sob outro aspecto,
observa-se que a carne bovina também é responsável pela emissão de dióxido de
carbono e de metano diretamente na atmosfera; pelo despejo de agrícolas capazes
de promover a infiltração no solo e lençóis freáticos; pelo descarte de
efluentes como sangue, urina, gorduras, vísceras, fezes, ossos, dentre outros,
que acabam chegando aos rios e oceanos em caráter de contaminação, além de
despejar no Meio Ambiente hormônios, analgésicos, bactericidas, inseticidas,
fungicidas, vacinas e outras fármacos.(Feliciano Filho, PSC, 2016)]
Bovinos
emitem metano, cuja molécula equivale a 21 vezes a molécula de gás carbônico
(dióxido de carbono CO2), em ambiente controlado. Na natureza, na
presença de gases atmosféricos, químicos defendem que a molécula de metano
equivaleria a apenas 6 vezes a molécula de dióxido de carbono.
Embora
haja de fato as emissões pelos bovinos, o deputado não considera a quantidade
de carbono sequestrada pelas pastagens. Incapaz de consumir toda a forragem
disponível da área, o bovino acaba ingerindo apenas as folhas, especialmente as
mais novas e mais tenras. Mesmo com bons manejos, os bovinos a pasto retiram
apenas 30% a 40% da matéria seca de toda a área. O restante volta ao solo como
material morto, reiniciando o processo de ciclagem de nutrientes. Serve também
como cobertura vegetal, mantendo a umidade e a temperatura do solo.
À
parte aérea que sobra do pastejo, soma-se todo o volume de raízes que, nas
gramíneas, atingem a mesma massa de matéria seca que a parte aérea. Grosso
modo, o que cresce acima do solo, cresce também abaixo. As raízes não são permanentes
nas touceiras de pastagens. A cada ciclo de produção, todo volume precisa ser
refeito aumentando o acúmulo de massa vegetal incorporada ao solo e, com isso,
a capacidade de armazenamento de carbono. Em pastagens bem manejadas, tais
ciclos são de 25 a 30 dias na época das chuvas e em torno de 60 a 90 dias na
seca.
Quanto
se contabiliza essa reciclagem da forragem não consumida (parte aérea e
raízes), conclui-se que o sistema produtivo compensa todas as emissões dos
bovinos, mesmo considerando a equivalência da molécula de metano em 21 vezes a
molécula do gás carbônico. Estudos de campo conduzidos pela Embrapa e pelo
Observatório ABC confirmam resultados que eram estimados por profissionais da
pecuária. Para cada molécula equivalente em dióxido de carbono emitida pelos
bovinos, o sistema de produção sequestra entre 3 e 5 moléculas equivalentes. O
saldo da pecuária, portanto, é ambientalmente positivo.
A
questão dos insumos despejados no solo, conforme defende o deputado, chega ao
ridículo. O problema da pecuária brasileira é justamente a falta de uso de
insumos. O orçamento médio de corretivos, fertilizantes e defensivos, aplicados
por hectare, é de R$50,00/ano, considerando 2017 como base. Na agricultura
brasileira, o orçamento para produção de grãos é, em média, R$1.600,00/ha/ano aplicados
em corretivos, fertilizantes e defensivos.
Essa
comparação, no entanto, é negativa para a pecuária e não para a agricultura. Se
a pecuária usasse a mesma proporção de insumos adotadas na agricultura, a área
ocupada para a produção de bovinos cairia dos atuais cerca de 165 milhões de
hectares para apenas 25 milhões de hectares.
O
deputado deveria compreender que é justamente o uso de insumos agrícolas e
zootécnicos que possibilita preservar grande parte das florestas e garantir
alimentação barata e acessível às populações mais carentes. Não fossem os
insumos usados na agricultura e na pecuária, o mundo não teria florestas e a
fome atingiria parcela muito maior da população.
[Ora, é imensa e
extremamente negativa a repercussão direta que a Pecuária de Corte tem sobre o
problema de escassez de água do Planeta. Sabe-se que a água cobre 70,9% da
superfície terrestre e é vital a todas as formas de vida. No planeta, 96,5% da
água é encontrada nos oceanos, 1,7% em lençóis freáticos (ou seja,
subterrânea), 1,7% em geleiras e nas calotas polares da Antártida e da
Groelândia e uma pequena fração em outros corpos d´água, dentro dos seres vivos
e na atmosfera, na forma de vapor, nuvens (compostas de partículas sólidas e
líquidas de água suspensa no ar) e chuva.
Apenas 0,007% da água do planeta pode ser utilizada por humanos e
aproximadamente 70% dessa água é consumida na agropecuária.
Não há dúvidas, pois,
que a produção industrial de carnes - incluindo os suínos, caprinos, bubalinos
e ovelinos - é uma das maiores fontes de poluição do meio ambiente, consome um
enorme volume de recursos naturais e energéticos, além de gerar bilhões de
toneladas de resíduos tóxicos sólidos, líquidos e gasosos. A produção de 1kg de
tomate consome cerca de 200 litros de água e de 1kg de alface, por volta de 230
litros. No entanto, o consumo de água para a produção de carne é muito maior do
que o consumo para a de vegetais. Para calcular o consumo total, é preciso
considerar não só a água diretamente ingerida pelo animal, mas também o consumo
na produção de alimentos e a água poluída no processo. É a chamada Pegada
Hídrica da pecuária de corte. A pegada hídrica de um quilo de carne bovina
ultrapassa os 15 mil litros de água, sendo que 93% dessa água está embutida na
alimentação do gado, 4% é diretamente ingerida e 3% é poluída, principalmente
pelos dejetos dos animais.(Feliciano Filho, PSC, 2016)]
A pecuária demanda muita água para sua produção. No entanto, a
forma como a água é usada geralmente é mal explicada, criando confusão junto ao
público leigo.
Estima-se que, na média global, a produção de carne bovina
demande cerca de 15,4 mil litros de água para produzir 1 kg de carne. No
Brasil, a estimativa é que seriam usados 19,5 mil litros para cada kg de carne.
Os números não são exatos, pois são obtidos a partir de estimativas com base em
dados históricos - muitos já defasados. Mas as proporções tendem a se aproximar
do estimado.
No entanto, ao contrário do que se imagina, a água usada na
pecuária não é toda destinada à dessedentação dos animais. Os estudos que
apontam os usos da água dividem a demanda em três grupos, separados por cores.
As classificações são pelas cores verde, azul e cinza.
A água classificada como verde é a proveniente da chuva e a sua
totalidade segue o ciclo pela evapotranspiração. Ou seja, infiltra no solo e
volta para a atmosfera seguindo duas vias diferentes: evaporação direto da
superfície do solo e transpiração, passando pela planta depois de entrar pela
raiz no estado liquido e sair pela folha, pouco antes de entrar no estado
gasoso. À soma de ambas dá-se o nome de evapotranspiração.
Classifica-se como água azul aquela obtida pelas captações dos
recursos hídricos superficiais (rios, represas e lagos) ou subterrâneos (poços
artesianos, semi artesianos e cisternas). Esse volume de água pode ser usado
para a dessedentação do gado (maioria, no caso da pecuária) ou para
irrigação.
A água cinza é a que se envolve em processos de limpeza ou
tratamento. Corresponde à quantidade de água necessária para a diluição dos
efluentes gerados até níveis de qualidade requeridos. Na produção de carne
bovina, a maior parte dessa água é demandada nos frigoríficos. Nas fazendas,
entram nessa classificação a água usada para limpeza de instalações, currais,
galpões etc. Esse uso é pouco comum na produção de bovinos corte, mas é bem
recorrente na produção leiteira.
Observe, na figura a
seguir, a participação da água, por tipo de classificação da produção de carne
bovina no mundo todo.
Fonte: The green, blue and grey water footprint of farm
animals and animal products (Mekonnen e Hoekstra, 2010) / Agroconsult Pecuária
A maior parte da água demandada para a produção pecuária ser dá
pelo que é classificado como Água Verde, aquela em que o ciclo da água ocorre
naturalmente, com o mínimo de interferência do homem ou do sistema de produção.
Quanto maior for a produção de forragens, maior será a evapotranspiração.
A opção pela cor verde no sistema de classificação foi
proposital para associar esse uso com o apelo ecológico da água do ciclo de
produção.
Pela pecuária focada em gramíneas tropicais e pela própria
dinâmica dos ecossistemas envolvidos, é justamente esse tipo de uso de água que
aumenta a demanda para a pecuária nacional. Observe, na figura a seguir, que o
Brasil é o país com maior participação de água verde na produção de carne
bovina.
Fonte: The green, blue and grey water footprint of farm
animals and animal products (Mekonnen e Hoekstra, 2010) / Agroconsult Pecuária
OBS: Vale lembrar que a água verde perfaz o mesmo ciclo desejável das florestas, cuja evapotranspiração acaba por formar os que estão sendo chamados de rios voadores. Estados Unidos e Holanda são os locais onde a participação da água cinza é a mais evidente.
Mais interessante ainda
é quando se compara as críticas do uso da água na produção animal com os
benefícios dos rios voadores da Amazônia.
Reforçando, a evapotranspiração,
como o próprio nome diz, é soma da evaporação da água pela superfície do solo
com a transpiração pelas plantas. As plantas são verdadeiros dutos de água. O
tempo todo, a água está subindo das raízes até a folha, translocando
(transportando) nutrientes do solo até as partes da planta onde eles serão
utilizados.
Através das folhas, as
plantas perdem água (suam) que vai lentamente evaporando e voltando para a
atmosfera. Todas as plantas transpiram e a capacidade de devolver água para a
atmosfera é um benefício ambiental pela regulação da temperatura.
A Amazônia transpira; o
milho transpira; assim com o pasto, a soja, a salsinha, etc. Qualquer vegetal.
O que muda é a capacidade do fluxo de água, que depende do tamanho das plantas.
Nesse caso, o uso de água por uma floresta densa, tropical, é
significativamente maior do que o da agropecuária. As plantas são maiores!!!
Portanto, usando da
mesma tese falaciosa, baseada em meias verdades e admitindo que o uso da água pelas
plantas seja maléfico, como é vendida a ideia em relação aos produtos do agro,
o que fazer com as florestas?
Alguém poderia defender
a tese de que as florestas deveriam ser derrubadas para evitar o gasto de água,
certo? Não seria insano? Mas, apesar de insano, o raciocínio é o mesmo.
A maior parte da água
usada no agro está na evapotranspiração, cujo ciclo é fundamental para a
manutenção do microclima e à própria filtragem da água. Ao retirar a produção
da área, o fluxo da água tende a se manter ou até aumentar, dependendo das
plantas que venham a ocupar o espaço. Se retiradas todas as plantas da área, o
fluxo da água ainda se mantém, agora não como evapotranspiração, mas apenas
como evaporação, saindo do solo direto para a atmosfera.
Essa última situação é a
fase inicial do processo de desertificação. Como a maior parte da água usada
pela agropecuária está no ciclo natural, o mesmo volume de água continuaria no
ciclo de evapotranspiração, caso não houvesse a produção.
Os argumentos em torno
da água, destacados pelo deputado Feliciano Filho, representam o maior conjunto
de falácias usado na desonestidade intelectual que dominou o debate sobre o
tema. Depois de enumerar uma quantidade razoável de mentiras, o deputado ainda
quer "lacrar" o debate dizendo que não há dúvidas na relação entre a produção
de carne e a poluição do meio ambiente.
A única dúvida que foi eliminada, até o momento, é referente à capacidade de legislar, a inabilidade de rebater argumentos infantis, do ponto de vista científico, e o nível de responsabilidade dos deputados que foram convencidos por argumentos tão falaciosos e incompletos.
[Um relatório da FAO
(Food and Agriculture Organization of the United Nations), publicado em 2006,
indica que os "estoques de animais vivos" mantidos para alimentação humana têm
mais responsabilidade pelas mudanças climáticas do que todos os veículos
automotores do mundo somados. A pecuária é responsável pela emissão de cerca de
17% dos gases de efeito estufa no planeta. Mais da metade da produção mundial
de alimentos é destinada à ração para animais de abate.
(www.prefeitura.sp.gov.br)(Feliciano Filho, PSC, 2016)]
É
evidente que o deputado e seus assessores passaram longe de ler o "Livestock"s
Long Shadow", de autoria de Henning Steinfeld. O relatório tornou-se
praticamente uma espécie de bíblia para os seguidores dessa religião que o
deputado, com apoio da Assembleia Paulista, quer nos fazer engolir.
O
próprio relatório, original escrito em 2006, não menciona a redução no consumo
de carne para salvar o planeta. Muito pelo contrário, pois lista como
principais problemas o que todos os técnicos em pecuária combatem há anos:
-
Mudança no uso do solo, ou seja, desmatamento: dados oficiais já comprovam a
redução no país
-
Reverter a baixa tecnologia na produção pecuária: em 25 anos, a produtividade
da pecuária aumentou 130%, defendendo cerca de 230 a 250 milhões de hectares
que teriam sido desmatados, caso a produtividade não aumentasse.
-
Queimadas nas áreas pastos: que, ironicamente, aumentariam com a redução no
orçamento dos pequenos produtores caso o consumo de carne, e consequentemente,
os preços recebidos pelos animais se reduzissem.
E mais uma vez, vale reforçar, é fundamental considerar o balanço líquido das emissões de carbono. Os pastos sequestram mais do que os bovinos emitem, portanto, a pecuária reduz o nível de carbono na atmosfera.
[Há que se enfatizar,
nesse contexto, o sucesso da campanha "Segunda sem Carne", promovida pela
Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) com lançamentos nos Estados de São
Paulo, Paraná, Distrito Federal e até mesmo Rio Grande do Sul. Da mesma forma,
essa campanha foi lançada com grande repercussão e aceitação nos Estados
Unidos, Canadá, Austrália e na Grã-Bretanha.(Feliciano Filho, PSC, 2016)]
Impressionante
que a Assembleia Legislativa do Estado mais rico da União imponha, por força da
lei, o projeto de uma entidade que busca recursos na iniciativa privada e em
órgãos oficiais. Na melhor das
hipóteses, pelo conflito de interesses, precisa ser investigado.
[Como se não bastasse,
toda essa manobra exige pesados encargos para os cofres públicos com
tratamentos de saúde da população - a qual fatalmente é atingida com a
contaminação gerada, bem como com infraestrutura e saneamento necessários para
equilibrar os danos causados.(Feliciano Filho, PSC, 2016)]
Neste
trecho o deputado pretende mostrar o seu "grande conhecimento" em economia,
além de dar nova mostra de autoritarismo ao definir o que é melhor para o
interesse da população.
Na
possibilidade do sucesso da campanha fomentada com reforço do projeto de lei,
apenas no estado de São Paulo, o impacto potencial poderia ocasionar uma perda
anual de R$29 bilhões ao longo da cadeia produtiva de pecuária de corte no
Brasil, considerando apenas a bovinocultura. Essa perda ocorreria pela queda
direta na receita e nas margens dos pecuaristas e frigoríficos. O cálculo foi
feito com base nos números detalhados, cujo estudo foi resumido na figura 2, e
na estimativa do consumo de carne bovina em São Paulo, considerando a população
do estado e a diferença de renda per capita.
Junto
com o prejuízo, cerca de 250 mil postos de trabalho seriam fechados no Brasil,
além de acelerar as dificuldades que já afligem os pequenos produtores,
conforme discorrido anteriormente.
Também
é possível esperar a perda de outros R$ 5 bilhões em salários criados
indiretamente pela atividade, através do efeito renda. A arrecadação da
atividade produtiva poderia recuar entre R$6 bilhões a R$10 bilhões.
Lembrando
que embora o efeito do Projeto de Lei se restrinja aos estabelecimentos que se relacionam
com o setor público, o objetivo explícito é fomentar a campanha para todo o Estado.
É
preciso ainda considerar os impactos das cadeias produtivas de aves e suínos,
cujos números ainda não temos disponíveis. Mas, falando em aves, é justamente o
aporte de tecnologia na cadeia produtiva que possibilitou ao consumidor acessar
carne de frango a um preço 70% inferior do que era disponível há 40 anos. Será
que a Assembleia Legislativa considera esse ganho como um benefício para o
cidadão comum?
[Por todo exposto, com a
finalidade de mobilizar a população Paulista para uma reflexão sobre as consequências
negativas do consumo de carne, e buscando uma adequação dos hábitos alimentares
à nova realidade social, propomos através do presente Projeto de Lei seja
instituída a "Segunda Sem Carne" nos moldes elencados, motivo pelo qual
solicito o apoio desses Nobres Pares para a aprovação da propositura em tela.(Feliciano
Filho, PSC, 2016)]
Poderia
ser reescrito da seguinte maneira:
"Por
todo o exposto, considerando que os debates conduzidos nessa casa sejam norteados
pelos interesses próprios, caracterizados pelo total descasamento com as
demandas da sociedade e conduzidos com ampla ausência de evidências científicas
ou comprobatórias, propomos, através do presente Projeto de Lei, dar mais uma
demonstração do nosso poder para interferir na vida dos cidadãos sem que
tenhamos a mínima obrigação de justificar, de forma embasada, e nem mesmo a
responsabilidade de responder pelas consequências, sobre todos os absurdos que
nossa criatividade nos permite transformar em lei."
É
passada a hora dos representantes públicos, eleitos ou concursados, compreenderem
que respondem para a sociedade e não o contrário. A liberdade individual e a
segurança são os valores mais altos que precisam ser garantidos pelo estado.
Caso contrário, não há razão em mantê-lo.
Maurício Palma Nogueira, (Big Ben, F97) engenheiro
agrônomo, sócio e responsável pela Agroconsult Pecuária. É ex morador Republica Jacarepaguá, Sócio Mantenedor e Sócio Honorário da ADEALQ.