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Qual Modelo de Produção Salvará a Humanidade e Conservará o Ambiente? (Jeep)
22/05/2015 - Por alberto nagib vasconcellos miguelAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

* Alberto Nagib de Vasconcellos Miguel
Depois de muitas discussões com alunos, profissionais da área,
ambientalistas ponderados e xiitas, produtores rurais ponderados e xiitas,
professores e todos os interessados neste dilema, resolvi escrever para tentar
expressar qual é a minha posição, à
partir de um entendimento integrado e
com uma visão Holística do tema.
Começo pela Agricultura chamada de “Convencional”.
Em primeiro lugar, de convencional ela não tem nada, já que existe
por apenas pouco mais de meio século.
Construída sob os auspícios da “Revolução Verde”, logo após a Segunda Guerra
Mundial, vendeu a imagem, durante este
período, de salvadora do mundo , baseada sempre no fato de que a população está,
esteve e estará faminta no futuro e que somente a aplicação massiva de “tecnologia
química e mecânica” poderia salvar-nos do Apocalipse. Ledo engano !
A população mundial continua crescendo e continua faminta (veja a
reportagem em http://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2014-09/fao-805-milhoes-de-pessoas-passam-fome-no-mundo), mesmo
sabendo-se que o atual modelo de produção de alimentos no mundo é capaz de
alimentar TODOS os habitantes até o ano 2050.
Segundo a FAO, o entrave para essa situação é um poder de compra desigual
e as altas perdas de alimentos na cadeia de produção, ( http://www.fao.org/docrep/006/y4525e/y4525e04.htm ).
Somem-se a isto os enormes custos ambientais das técnicas agropecuárias
vigentes, frutos da mesma Revolução
Verde, por vezes muito mal aplicadas, que danificam o planeta como um todo.
Considero aqui a qualidade da água, do ar, as perdas de solo por erosão, o
grande empobrecimento das áreas agrícolas, a consequente dependência dos
insumos, etc. Sabemos que o modelo de produção atual falhou
em suas premissas básicas e optou pelo lucro em detrimento da qualidade dos
ambientes terrestres.
E a Agricultura Antiga?
Será que ela é capaz de satisfazer todos os fatores ambientais,
sociais e econômicos que são necessários para nos sustentar? A história nos diz
que não. Me explico:
Desde tempos imemoriais, quando o homem dominou a arte de plantar
e criar, civilizações foram criadas, floresceram e se extinguiram de tempos em
tempos e de região em região.
Nos primórdios os grupos humanos se estabeleciam nos vales dos rios e floresciam,
até que, com o passar do tempo os recursos naturais da região se acabavam e
eles eram forçados a migrar. Assim, caminhavam até o próximo vale e
recomeçavam. E a história se repetia.
Depois surgiram as grandes civilizações, como na Europa,
Ásia e Américas, que cultivavam a terra e criavam seus animais usando o mesmo método e com o mesmo resultado. Em
algumas dezenas ou centenas de anos, os recursos naturais se exauriam e aquela
civilização desaparecia. Ora, a agricultura que era praticada não era outra que
não a Agricultura Orgânica!
E porque isto acontecia? Por que a conta não fechava, posto que
era necessária a aplicação de insumos (não era químico, daí o
"orgânico", já que a origem é "natural") que também
precisavam ser importados já que os recursos naturais regionais eram escassos e
seu uso aumentava na medida em que a população também aumentava.
A Agricultura Orgânica
Moderna também tem seus vícios. Mesmo nos dias de hoje há nesse modelo de
produção uma movimentação maciça de insumos de uma região a outra para que este
método de agricultura se perpetue. As “normas orgânicas” do produto, criadas
sob a pretensa idéia de que se poderia colocar um selo em um produto para
garantir sua "pureza", causa distorções absurdas, como importar um
grão orgânico de um estado ao outro para que se possa produzir o alimento de
uma ave e receber o "carimbo" das entidades certificadoras. Ou
acreditar que o espaço que se dá a um frango de corte durante sua vida é uma
das coisas que diferencia um frango “orgânico”
de outro. Eventualmente deve ocorrer um fracasso dos recursos e a
humanidade vai sofrer suas consequências.
Então, o que fazer? A questão é delicada,pois as reservas de
recursos naturais devem diminuir ou se esgotar, algumas muito em breve, não
importa o que façamos. Fosfato é um bom exemplo. O que fazer, quando as
reservas conhecidas se esgotarem em algumas dezenas de anos? Existe,
entretanto, uma fonte de energia que só
deverá se esgotar em alguns bilhões de anos. A energia solar. As contas mais
pessimistas calculam que devemos ter algo como 5 bilhões de anos desta energia
gratuita.
E o que isto tem a ver com a agricultura?
Dentro de um sistema de Gerenciamento Holístico, busca-se como
modelo de produção o que chamamos de Agricultura Regenerativa.
Agricultura Regenerativa é aquela que CRIA solos, fixa carbono no
solo, diminui a perda de água, aumenta a produtividade gradativamente sem a
importação maciça de nutrientes e utilizando-se de técnicas que ajudam um
ambiente a se recompor.
Isto é conseguido parcialmente pelos praticantes de Permacultura,
que se for integrada à criação de animais,
passa a ter um manejo mais próximo ao que acontece na natureza, acelerando o
processo de regeneração destes ambientes degradados. O objetivo passa a ser
levar o ecossistema ao seu ápice com o mínimo de recursos naturais.
Assim, meus colegas, devemos buscar e praticar uma Agricultura Regenerativa, que poderá
fazer com que os fatores sociais, ambientais e econômicos sejam satisfeitos
concomitantemente, o que nenhum dos modelos
conseguiu ou consegue ainda fazer.
Como bem disse Joel Salatin, devemos ser os maestros da
natureza, usando o conhecimento
agronômico para manejar o ambiente sob nosso Gerenciamento e melhorá-lo
constantemente, de forma que nossa tarefa de alimentar o mundo seja
compartilhada por ambientalistas, produtores e por toda a sociedade.
Nenhum profissional no planeta está mais bem preparado para adotar
e aplicar as técnicas de Gerenciamento Holístico como o Engenheiro Agrônomo.
Somente essa nossa profissão conhece áreas tão diversas quanto Zoologia e
Fitotecnia, Nutrição de Animais e Plantas, Microbiologia, Solos, Química,
Física, Topografia, Agrometeorologia, Florestas e Pântanos, Drenagem e
Irrigação, áreas de conhecimento que
podem nos ajudar a entender o "Todo" onde vivemos, do qual dependemos
e manejamos.
Dessa forma devemos buscar estabelecer as premissas corretas sob
as quais cada ambiente deve ser manejado, em direção a um Contexto Holístico
maior, explicitado pela sociedade onde vivemos.
Como tão bem escreveu nosso Professor Zilmar Ziller Marcos, em
nosso hino, “A água, o sol e a terra existem com própria beleza. As plantas
silentes e sempre, sustém o equilíbrio dos ciclos da natureza. Plantar, criar e
conservar... “!
Sejamos os precursores de uma nova forma de abordagem e uso do
conhecimento já acumulado. Busquemos
utilizar bem as fontes de recursos naturais, já escassos mas ainda
disponíveis e regenerar os ecossistemas que manejamos, sendo justos com nossos
bolsos, o ambiente e com as pessoas que
vivem dele e com as futuras gerações que dele vão precisar.