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Profissionais do agro: demanda, oferta e qualidade (Mentão F73)
17/06/2016 - Por josé otávio machado mentenAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Para que uma atividade econômica funcione bem, há necessidade, entre outros requisitos, que existam profissionais qualificados para executarem diversas funções. No agro isto também é necessário. Talvez não seja tão evidente como na área da saúde, onde foi constatado, embora existam divergências, que havia falta de médicos no nosso mercado. Daí o Programa Mais Médicos, com a contratação de profissionais de Cuba. No agro brasileiro o trabalho é executado por diversos profissionais. Para as atividades mais complexas, envolvendo estudos, projetos e gerenciamento há necessidade de engenheiros, principalmente o agrônomo, assim como o florestal, agrícola e de pesca, médicos veterinários, zootecnistas, agrimensores, químicos e outros profissionais de nível superior pleno, das ciências agrárias e de outras áreas: engenharias ambientais, de alimentos, civis, mecânicos, biólogos, cientistas de alimentos, nutricionistas, economistas, administradores, advogados, jornalistas, médicos etc.
A questão é: quantos profissionais são necessários,
atualmente e no futuro, para executar funções essenciais no agro, envolvendo o
antes da porteira (insumos, planejamento, seguro), o dentro da porteira
(produção vegetal e animal) e o depois da porteira (armazenamento,
processamento, comercialização e distribuição)? Existe algum estudo científico
que auxilie a obtenção desta resposta? Isto é fundamental para definirmos o
número de jovens que devemos formar em cada uma das profissões. Esta informação
pode ser útil na autorização de abertura de novos cursos de profissões
tradicionais e o estímulo a criação de cursos que formem profissionais com
conhecimentos específicos.
Tomando com base um dos profissionais mais típicos e
tradicionais demandados pelo agro brasileiro, o engenheiro agrônomo, em 2012
havia 262 cursos no Brasil, ofertando cerca de 20.000 vagas por ano. Contando
com os profissionais já existentes, que estão trabalhando no agro, haverá
mercado para absorver todos estes egressos? Quantos engenheiros agrônomos
necessitamos? É verdade que nem todos os formados em engenharia agronômica vão
exercer suas atribuições profissionais. Até que ponto devemos nos
responsabilizar pelas eventuais frustrações de um recém-formado que vai
encontrar dificuldade de ingressar em seu mercado de trabalho, pela não
existência de demanda?
O próprio Ministério da Educação deve ter dificuldades para
avaliar esta questão e interferir neste mercado da educação superior. E surge
outro problema: a qualidade dos cursos e dos egressos. Na engenharia agronômica
se discute muito a atual existência de cursos noturnos. Em breve, estaremos
discutindo os cursos à distância. Há pouco acompanhamos o fechamento de
instituições de ensino tradicionais pela baixa qualidade. Isto cria um grande
problema para os estudantes que investiram recursos financeiros e tempo e terão
que buscar novas instituições para darem sequência aos seus estudos visando a
obtenção de um diploma/título acadêmico.
Os engenheiros agrônomos demandados pelo agro brasileiro
devem ter sólida formação básica (exatas, biológicas e humanas) e formação
profissionalizante ampla, generalista, com conhecimentos para trabalhar com
recursos naturais/manejo ambiental, biotecnologia, engenharia rural (máquinas e
implementos, topografia/ georreferenciamento, irrigação/ drenagem, construções
rurais), produção vegetal e animal, processamento de produtos agropecuários e
economia, administração e sociologia rural. Esta formação técnica holística,
além de qualidades pessoais como ética, responsabilidade e liderança, comunicação/idiomas,
tecnologia da informação e gestão são essenciais. Será que todos os cursos
estão formando profissionais adequados a nossa realidade? Há necessidade de um
exame de habilitação dos egressos, semelhante ao "exame de ordem" dos
advogados, antes de obterem seu registro profissional e puderem exercer a
profissão? É importante lembrar que a sociedade tem o direito de contar com
profissionais habilitados, competentes, para que não haja risco das pessoas e
do ambiente pelo exercício inadequado de uma atividade.
Esta reflexão deve estar presente para todos os outros
profissionais do agro, incluindo os de nível técnico e tecnólogo. Através de
estudos científicos será possível estimar o número de cada um destes
profissionais, além da qualidade, para que o agro brasileiro possa atender as
expectativas da sociedade brasileira e do mundo, já que diversas instituições
internacionais tem declarado que o Brasil é o país que mais vai contribuir com
a produção de alimentos nos próximos 50 anos. Além de se destacar a importância
do país na produção de agroenergia, limpa e renovável, e fibras.
José Otavio Menten é presidente do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Conselheiro do CREA-SP, vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia, Professor Associado da USP/ESALQ.