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Primeiro Emprego (2) (Pinduca; F68)
03/12/2015 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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otc inhaler cvs linkNa data marcada, quinta feira, o Agrônomo foi para Ribeirão
Preto, onde se encontraria com uma pessoa que o levaria para São Joaquim da
Barra e Ituverava, onde iria trabalhar. O livro de cabeceira e de todas as
horas passou a ser o Manual de Entomologia, do Mariconi, lido até no ônibus
para Ribeirão.
Noite passada no Grande Hotel, ao lado do Pingüim, na praça
central de Ribeirão. Naquela época o hotel já era meio decadente, mas a praça
ainda era o ponto central da cidade. Manhã seguinte, ansiosa espera no hall do
hotel, até aparecer o Nakamoto, japonês peruano (ou peruano japonês), que na
estrada para São Joaquim lhe explicou como a coisa funcionava. Ele era agrônomo
da Hercules, multinacional americana que produzia um inseticida, o toxafeno (ou
canfeno clorado). Uma pequena empresa de Jundiaí, de propriedade de um chinês,
importava o toxafeno e o misturava com o DDT, numa formulação especial, própria
para ser aplicada pura, sem diluir em água. E a empresa de aviação aplicava
aquele produto nas lavouras atacadas por pragas. A função dos agrônomos era de
fazer o levantamento das pragas nas lavouras dos clientes, assim como marcar as
datas para as aplicações e acompanhá-las. Eram o Agrônomo, o Nakamoto e dentro
em breve o Dongo, outro peruano recém formado também.
Durante a sexta feira e o sábado, foram inúmeras visitas a
fazendas, para reconhecimento das pragas de algodão e soja, avaliação dos danos
e decisão de quando fazer a aplicação.
No domingo o Agrônomo foi enfim deixado com seus novos colegas, o Comandante A.
(gaúcho de meia idade, ex policial, temperamento e corpo muito fortes) e um
rapaz, ajudante de pista e motorista. Feitas as apresentações, o Agrônomo foi
informado pelo Comandante A. de que iriam todos para Ituverava, pois o maior
cliente da empresa, o Maeda do algodão, tinha suas fazendas lá. Na hora de
embarcar na kombi, apareceu uma garota bem mais nova do que o Comandante, a
quem o Agrônomo, querendo agradar, perguntou se era sua filha. E não era. Era,
digamos, sua "namorada", irmã do motorista. Densa nuvem de mal estar
instalou-se na kombi e no relacionamento do Agrônomo com o Comandante A.
Durante o trabalho, madrugadas de vôo nos algodoais do
Maeda, o Comandante dirigia-se ao Agrônomo para as comunicações essenciais. De resto,
silencio e mal estar. Foi assim durante a semana inteira, até que no outro
domingo, ao voltarem para a cidade depois das aplicações da manhã, o Agrônomo
resolveu puxar conversa sobre judô, a grande paixão do Comandante A. Que aos
poucos foi se abrindo, contando suas façanhas de ex campeão, lutas memoráveis,
golpes preferidos, etc.
No capítulo dos golpes preferidos, já chegados ao centro de
Ituverava, quase onze horas e praça cheia com a saída da missa, o Comandante A.
passou a demonstrar suas habilidades, aplicando os golpes devastadores no
Agrônomo, em plena porta do hotel. Formou-se uma roda e a cada golpe, vinham os
aplausos. E o Agrônomo jogado pra lá e pra cá, como um saco de batatas, até
hoje não sabe se os golpes foram por entusiasmo e paixão pelo esporte ou por
pura malvadeza, vingança pela indelicadeza cometida há uma semana.
Mas foram suficientes para estabelecer uma convivência
pacífica e harmoniosa entre os dois companheiros de trabalho.
Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro