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Plantio Direto na Recuperação de Áreas Degradadas (Pinduca F68)

22/09/2015 - Por marcio joão scaléa
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Etimologicamente, a palavra degradação pode ter um significado que difere um pouco daquele a que nos acostumamos. No dicionário, vemos: "Degradação : s.f....mudança insensível e continua; desgaste das rochas da superfície do globo, determinado principalmente pelos agentes atmosféricos, chuvas, variação da temperatura, etc." Ou seja, a degradação, termo para o qual temos uma conotação negativa, quando aplicado às rochas, é fator de origem dos solos que hoje sustentam a humanidade. Mas dentro do contexto agrícola-ambiental atual, degradar um solo tem um significado mais de degenerar do que de degradar. De novo, no dicionário, vemos :"Degenerar : v.i., perder as qualidades primitivas, abastardar-se, piorar, corromper-se, estragar-se."

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Resumindo, degradação e degeneração andam juntas dentro do contexto atual, e talvez seus principais sintomas sejam profundos desequilíbrios entre os três grandes atributos dos solos : químico, físico e biológico. Há solos degradados quimicamente, mas com características físicas muito boas. Há solos degradados fisicamente, mas com excelentes atributos químicos. E tanto o desequilíbrio químico como o físico, geram a degradação biológica.

 

            Conceito de Degradação/Degeneração

 

Segundo Charles A.G. Ferreira, in Informe Agropecuário EPAMIG, vol. 21, n. 202, Jan/Fev 2000, o conceito básico da degradação de um solo engloba :

-          destruição da matéria orgânica;

-          alteração na estrutura;

-          adensamentos e compactação;

-          rebaixamento do perfil;

-          empobrecimento e acidez;

-          alteração da vida microbiana.

A exploração dos solos para fins agropastoris, dependendo do nível tecnologia adotado, pode conduzir estes solos através de um processo de degradação/degeneração que procuraremos expor a seguir, e que é um retrato fiel do que tem acontecido no Brasil, nas mais diversas regiões.

 

            A Degradação na Exploração pecuária Extensiva

 

A pecuária extensiva (grandes áreas com baixa tecnologia de manejo, embora muitas vezes até com genética apurada) tem uma trajetória intimamente associada ao nível de degradação da pastagem que a suporta. Inicialmente são produções razoáveis em pastos recém instalados, não importando o que antecedeu esta pastagem, se cerrado, mata ou lavouras perenes ou anuais. Anualmente a produtividade decresce em função da extração de minerais pelo pastejo, da característica da forrageira instalada e de deficiências de manejo (super ou sub pastejo). Após alguns anos a produtividade é tão baixa que obriga o produtor a renovar, recuperar ou reformar estas pastagens, de modo geral com o uso de gradagens para eliminar a antiga forrageira e incorporar uma adubação fosfatada, e é aí que se dá o grande salto da degradação: ao incorporar toda a biomassa ali presente, instala-se um processo de rápida decomposição daquela palhada, resultando em severas perdas por lixiviação ou por emissão de CO2 para a atmosfera. O novo pasto vem viçoso, mas o solo está um degrau abaixo na escala da degradação, devido às perdas de matéria orgânica. Repetindo-se este ciclo algumas vezes, a degradação leva ao quadro com que nos defrontamos hoje em muitas regiões do país : no Paraná, na região do Arenito; em São Paulo por toda a parte, do Vale do Paraíba até o Pontal do Paranapanema; no Sul de Minas Gerais; no Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, etc. Solos outrora férteis hoje praticamente improdutivos por baixa fertilidade, apesar de muitas vezes contarem com razoáveis características físicas e até biológicas.

 

            A Degradação na Exploração Agrícola Intensiva

 

A agricultura intensiva, inicialmente baseada em premissas dependentes das operações de preparo de solo, deu curso a um processo de degradação, pelo comprometimento das características físicas dos solos. Este quadro, agravado pelos sistemas baseados nas monoculturas, foi seriamente questionado, desembocando na adoção do Plantio Direto, que aliviou as pressões mais evidentes, representadas pela erosão. Apesar deste alívio momentâneo, novamente a persistência na monocultura, acrescida da baixa produção de palhadas, essenciais para um bom Plantio Direto, precipitou o reaparecimento de problemas como compactação, seleção de pragas, doenças e ervas daninhas, obrigando a preparos periódicos, recrudescendo o processo de degradação, com ênfase na perda de matéria orgânica.Temos hoje solos muito ricos quimicamente, mas muito comprometidos quanto à parte física e biológica, desde o Rio Grande do Sul até o Maranhão.

 

            Para onde nos levam os Processos de Degradação ?

 

Embora por caminhos aparentemente diferentes, tanto em pastagens extensivas como em áreas de agricultura intensiva, os processos desembocam, entre outras coisas, na acentuada queda do teor de matéria orgânica, base da CTC e fertilidade dos solos tropicais, trazendo como conseqüência alterações na estrutura, empobrecimento e alterações na vida microbiana.

O resultado nas pastagens, é a perda da fertilidade e da matéria orgânica, adensamento superficial, redução na infiltração, com quedas na produtividade e rentabilidade e o aparecimento de erosões.

Nas áreas agrícolas, os problemas fitosanitários aparecem, com estabilização ou queda na produtividade e aumento nos custos de produção com consequente redução na rentabilidade, efeito também da perda de matéria orgânica e de compactações, também levando a erosões.

 

            Recomendações para a Reversão da Degradação

 

Novamente segundo Charles A.G. Ferreira in Informe Agropecuário EPAMIG, vol. 21, n.202, Jan/Fev 2000, as recomendações para a quebra desse quadro de degradação passam pelo uso de :

1)      "Tecnologias que promovam a conservação dos recursos naturais através de medidas mitigadoras dos processos de degradação". Em outras palavras, aumentar a matéria orgânica, recuperar a estrutura, eliminar a compactação e reativar a microbiologia, ou seja, produzir palhadas via plantio direto !

2)      "Tecnologias que visam aumentar a cobertura vegetal do solo, reduzindo a ação erosiva do impacto das gotas da chuva". Em outras palavras, produzir palhadas via plantio direto !

3)      "Tecnologias que visam aumentar a infiltração de água no solo, diminuindo o deflúvio e o escoamento superficiais, minimizando os problemas relacionados com o desgaste do solo pelos processos erosivos". Em outras palavras, plantio direto com palhada e melhoria na estrutura do solo !

 

Ou seja, as três recomendações indicam o caminho do Plantio Direto, com produção de boas palhadas.

 

            Propostas

 

Dentro dos quadros de degradação/degeneração com que nos defrontamos, e seguindo as recomendações acima, a proposta básica para a reversão destes quadros é a manutenção ou regeneração da matéria orgânica dos solos, através da adoção do Plantio Direto, em programas de rotação de culturas, fornecendo palhadas em quantidade e qualidade diferenciadas. Nas lavouras intensivas com problemas fitosanitarios decorrentes de monoculturas de soja ou soja/milho safrinha, é proposto o plantio direto de pastagens por alguns anos, para posterior retorno ao plantio de grãos. Para os pastos extensivos é proposto seu condicionamento químico através da calagem e adubação, sempre que possível sem intervenções mecânicas como gradagens, para posterior plantio direto de grãos por alguns anos, retornando a pasto a seguir.

 

Na situação atual de mercado, extremamente favorável ao cultivo de grãos, esta recomendação se reveste de grande oportunidade, pela expansão das fronteiras agrícolas sem a derrubada de nem um hectare de ambiente nativo, floresta ou cerrado. Para certas regiões, ainda mais especial é a recomendação, como por exemplo em S.Paulo : alguns milhões de hectares de pastos degradados podem ser incorporados ao processo produtivo com rapidez, economia e respeito ao meio ambiente.

E a evasão destas áreas de pastagem para o âmbito da produção de grãos, traz consigo a necessidade premente de pastos melhorados, para absorver a população de gado remanescente. E a recomendação do plantio direto de forrageiras nas férteis áreas agrícolas com problemas fitosanitários, também se reveste de excepcional oportunidade.

 

A única e definitiva premissa para que estas propostas se concretizem, é jogar por terra os grandes mitos que ainda cercam o Plantio Direto : calcareo em superfície, sem incorporação funciona; pisoteio de gado não compacta solo, só adensa a superfície; plantio direto bem feito não compacta solo, compactação é causada por falta de palhadas, e por operação com umidade excessiva; e finalmente, produzir palhada não é despesa e sim investimento.   


 Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro

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