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Ou Pira ou se Acaba (Pikira; F87)

26/05/2020 - Por cesar figueiredo de mello barros
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Na infância, era um lugar meio mágico, com um restaurante-navio-castelo do tombadilho pendurado sobre a cachoeira fedorenta e majestosa. Do casarão de janelas verdes, com seu lúdico porão de almofadões e pé-direito de anão, da minha tia-irmã mais velha, habitada por moças meio malucas que criavam a cobra Catarina numa caixa de sapatos e colecionavam besouros e borboletas.



Na adolescência, a mitológica Amsterdã paulista da menina Eda, a Canaã possível que jorraria cerveja gelada e liberadas namoradas românticas, terra onde lendários antepassados agrônomos remavam no rio, um quase paraíso de repúblicas e bares na zona portuária, sexo, drogas e mpb.



Pouco depois, a juventude colorida e alegre, dos anos, sem dúvidas, mais divertidos, irresponsáveis e de marcantes experiências da minha vida, onde até estudei agronomia, ao menos alguns conceitos básicos, o jargão do agronomês e o discernimento técnico para procurar as respostas certas para as questões todas (não só, mas também as profissionais) que a vida pergunta.Tudo entremeado com a farra, a esbórnia, a música de qualidade, e o sentimento de pertencimento que perdura, a sensação de ser da tribo eleita que revoluciona, para melhor, o país e o mundo a partir dos campos e pastos, eia, avante, pois. E principalmente, os muitos, diversos e formidáveis amigos, pra sempre.



Agora, no outono da maturidade, despencando rumo à infância da velhice, me parece que passou um pouco do ponto. Continua mais pujante, cosmopolita e culta que outras do mesmo porte e geografia humana, é certo, acho que consegue preservar mais ou menos sua história e tradição peculiar, seu quase dialeto próprio, mas cresceu, sinto, inchou demais, ninguém conhece ninguem, é a impressão que tenho.



Naturalmente sinto falta das minhas referências demolidas, casas que morei, do Calq, do bar-escritório do João na Carlos Botelho, do Rivoli e do Tiffany, do Décio e do Cridão, da cantina do Vardi e da Dedé, o educado garçom Claudinho do Celso virou (bom)restaurante, mas o parmegiana do Ortiz continua imbatível, da pizza de domingo vestindo pijama no Flamba, do chope do Brasserie, que fechava as quintas, do Salão de Humor no teatro, Pilequinho e Saravá parece que resistem, o pastel do mercado ainda é bom, mas a Rua do Porto perdeu muito glamour, turistizou-se, nunca cumprirei a promessa maratonistica de um trago em cada estabelecimento seu. Até a minha, a sua, a nossa Gloriosa nascida da montanha, somos todos meio donos do gramadão, continua sempre-linda, acréscimo de um ou outro edifício modernoso e feioso, mas sem o Ruca´s e seus democráticos murais, parece meio distante, impessoal. Paciência, que se há de fazer?.


César Figueiredo de Mello Barros (Pikira F87) Engenheiro Agrônomo, Ex Morador da Republica Avarandado


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