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Os falsos pecados da carne (Kusca, F-84)
20/01/2018 - Por marcos sawaya jankAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Publicado no Jornal “Folha de São Paulo”, Caderno
Mercado, 20/01/2018
Marcos
Sawaya Jank (*)
Mauricio Palma Nogueira (**)
“Segunda sem carne” e proibição da
exportação de gado em pé são arbitrariedades inaceitáveis.
A aprovação em dezembro de um projeto de lei
que proíbe o consumo de carnes às segundas-feiras nas escolas e órgãos públicos
do Estado de São Paulo é mais uma infame agressão contra a pecuária e as
carnes.
Nada temos contra pessoas que optam por não consumir
carne, glúten, açúcar ou qualquer outro alimento. Ainda bem que a livre escolha
prevalece no mundo moderno. Agora o Estado querer ditar hábitos de consumo,
definindo o que pode ou não ser consumido a cada dia da semana, é uma
arbitrariedade absurda e intolerável.
Na esteira dessa excrescência autoritária da
Assembleia Legislativa de São Paulo, no último no dia 11 a administração do
porto de Santos proibiu os embarques de animais em pé para a exportação,
rubrica que trouxe US$ 280 milhões em divisas para o país em 2017.
O comércio de animais vivos vem crescendo 5% ao ano
no mundo. Países importantes como Indonésia, Turquia, Vietnã e o Oriente Médio
optam por importar animais para engorda e abate, pois isso gera renda para os
seus pecuaristas e a indústria doméstica. O Brasil, detentor do maior rebanho
bovino comercial do mundo, é o pais com maior potencial de crescimento na
exportação de animais vivos. Nossos concorrentes são Austrália, Canadá e
México. Não há razão plausível para essa proibição.
É fundamental olhar em maior perspectiva o impacto
da "segunda sem carne" e da proibição da exportação de gado em pé. O
Brasil é líder e referência global na produção de carnes, posicionando-se entre
os primeiros exportadores de carne de aves (1º lugar), bovina (2º) e suína
(4º), além dos couros, genética e animais vivos. O setor como um todo exportou
mais de US$ 18 bilhões em 2017.
É fato que o consumo per capita de carnes
encontra-se estagnado nos países desenvolvidos. Os 40 países mais ricos do
mundo abrigam um bilhão de pessoas que consomem cerca de 100 kg/habitante/ano,
somando as três proteínas. Vem desses países a maior parte das campanhas pela
diminuição do consumo de carnes e a favor do vegetarianismo em todas as suas
formas.
Contudo, precisamos lembrar que cinco bilhões de
pessoas vivem em países em desenvolvimento consumindo em média 30 kg/hab/ano. E
um bilhão de pessoas vivem em países muito pobres, onde o consumo médio não
chega a 10 kg/hab/ano. A conta é simples: a maioria da população mundial quer e
precisa comer mais proteína animal, incluindo os pescados, e não cabe aos 20%
mais ricos, que já ultrapassaram de longe as suas necessidades alimentares
básicas, arbitrar sobre o que os demais vão colocar no seu prato todos os dias.
No agro brasileiro não há setor que sofra maior
preconceito e desinformação do que a carne bovina. Os ataques deste último mês
não são isolados. O repertório de mitos e inverdades é longo: danos à saúde,
aquecimento global, desmatamento, consumo excessivo de água etc. Formadores de
opinião acabam se deixando levar por informações levianas, facilmente
refutáveis se acessarem sites especializados e a literatura científica.
Voltaremos aos demais "pecados" em um próximo artigo.
Na conclusão desta coluna, soubemos que Geraldo
Alckmin vetou a "segunda sem carne". O governador está absolutamente
correto.
Um dos nossos principais cartões de visita são os
churrascos, adorados pela maioria dos brasileiros pela variedade, abundância e
modo de preparo da carne. Não podemos deixar que irresponsáveis legislem contra
o interesse da maioria, usando falsos argumentos que prejudicam a posição e a
imagem que conquistamos no Brasil e no mundo.
(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do
agronegócio. Escreve aos sábados, a cada duas semanas. É ex-morador da República
Kbana
(**) Mauricio Palma Nogueira (Big-Ben – F-97) é sócio
e diretor de pecuária na Agroconsult Pecuária e ex-morador da República
Jacarepaguá.