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O SOLO E A QUALIDADE DO AMBIENTE (Gansolino; F67)
24/04/2018 - Por otávio antonio de camargoAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
O. A. DE CAMARGO, Instituto Agronômico
Campinas, Centro de Solos e Recursos Ambientais
A qualidade do ambiente deve ser de
interesse de toda sociedade. A sua pureza, ou seja, a pureza do ar, da água e
do solo é de fundamental importância para a existência do homem. Em muitas
regiões do globo os índices mínimos de pureza já não são mais alcançados.
Muitos rios, lagos e represas
tornaram-se depósitos de resíduos urbanos e industriais, solos vêm sendo
contaminados com poluentes químicos e são naturais e o ar em muitos locais
torna-se irrespirável. Muito desse estado de coisas se deve ao uso indevido
desses reservatórios naturais e principalmente do ponto de vista de disposição
de resíduos. A população tem percebido a ameaça a sua existência e então vem
reagindo constantemente contra a destruição do meio que a cerca, grande
responsável pelo seu viver saudável.
O uso inadequado do solo
pode ser uma fonte muito importante de poluição. O descuido do homem em
controlar a erosão, por exemplo, faz do solo uma fonte potencial de
contaminação das correntezas e lagos. O manejo não apropriado de defensivos, de
águas de irrigação de baixa qualidade, a disposição indiscriminada de resíduos
da indústria ou domésticos podem redundar no acúmulo de substâncias no solo que podem ser tóxicas às plantas e,
ao entrar na cadeia alimentar, ser letais aos animais e ao homem. Devido a
estas velações e dada a sua importância no ecossistema, o solo ocupa um papel de destaque no controle da qualidade
do ambiente. Se esse controle vai ser de boa ou má qualidade dependerá muito da
maneira como serão manejadas as reservas edáficas.
A POLUIÇÃO DO SOLO
Junto com a água e o ar, o solo é
geralmente considerado o mais importante componente ambiental. Além de prover
uma plataforma para as atividades animais, inclusive para a sociedade humana, o
solo tem como função primordial sustentar diversas formas de vida, tendo o
cultivo de plantas como um exemplo muito importante.
Os solos não são apenas
um acumulado de detritos resultantes de decomposição de rochas e materiais
orgânicos. A sua formação se dá em conseqüência de processos destrutivos e
construtivos. Forças destrutivas predominam na alteração química de minerais e
de estruturas de plantas e animais. Por outro lado, forças construtivas
desenvolvem novos materiais e compostos químicos minerais e orgânicos. Estes,
numa nova distribuição, associação e consolidação formam um arcabouço
estrutural constituído por uma matriz sólida em cuja interface operam processos
que disponibilizam ou retêm íons ou moléculas para/ou da fase líquida numa
caótica, mas organizada dança que acaba oferecendo nutrientes ou substâncias
tóxicas à formação da vida que ele suporta.
Essa armação forma um
corpo tridimensional metaestável inserido claramente num sistema aberto de
termodinâmica de equilíbrio dinâmico ou de processos irreversíveis. A mudança
total de entropia num sistema deste tipo deve necessariamente levar em
consideração a mudança de entropia devida a interações com o meio ambiente e
aquela produzida pelos processos irreversíveis no interior do sistema. É
totalmente desejável que a entropia do sistema não seja alterada com a
introdução de novas práticas. Qualquer tensão exterior inapropriada pode
quebrar o frágil equilíbrio no ecossistema, aumentar a entropia e provocar sua
degradação.
O solo pode também
funcionar como um grande reservatório para resíduos não apenas os naturais mas,
também, para aquelas, produto de atividades humanas. Tal sistema em condições
naturais tem uma capacidade de tamponamento, ou seja, capacidade de resistir a
mudança, muito grande relação às ações externas. Entretanto, isto leva ao âmago
do problema da poluição do solo: o uso inadequado desta reserva natural pode
levar a situações onde esta capacidade tampão é excedida.
Assim, o acúmulo de
poluentes de várias origens pode causar a deterioração do solo. Dentre estes
poluentes podem ser citados os produtos químicos usados para melhorar a
fertilidade do solo ou para controlar pragas e ervas daninhas, sais podem ser
fornecidos através de água de irrigação e sais, produtos tóxicos e agentes
patogênicos podem ter origem nos resíduos urbanos e industriais.
O excesso de
fertilizantes pode reduzir a produção e a qualidade de muitas plantas. Pode
existir também o caso de elementos como o fósforo, que uma vez retido nas
partículas do solo poderá ser carreado para as águas ou de nitratos, que devido
à sua alta solubilidade e baixa retenção nos constituintes do solo poderá ser
lixiviado e contaminar os aqüíferos. Especificamente em nosso meio, devido ao
alto custo atual dos fertilizantes, os problemas de aplicação de fertilizantes
em excesso é de pequena importância.
Quando um excesso de
pesticida é aplicado ao solo ele poderá tornar-se poluente. O acúmulo de
pesticida no solo pode ocorrer ou por ser aplicado em excesso nas plantas ou
devido a aplicações sucessivas de materiais que persistem no solo por longo
tempo. O excesso de pesticida também pode diminuir a produção e a qualidade dos
alimentos ou então ser absorvidas em elevada quantidade tornando as partes da
planta a serem consumidas impróprias para o uso humano.
Pesticidas que não são
inativados pela decomposição microbiana persistem no solo por um período longo.
A persistência destes pesticidas no solo pode ser uma característica desejável
quando se quer controlar ou doenças, uma vez que ele prolonga a proteção
esperada. Por outro lado, pode não ser uma característica desejável para o caso
de herbicidas que poderão causar danos às culturas plantadas no local de
aplicação após muito tempo. Na sua maioria os herbicidas são de origem orgânica
e de decomposição rápida. Existem, porém alguns inorgânicos como é o caso de boratos
e cloratos que dependendo das condições climáticas podem permanecer no solo por
períodos suficientemente longos para causar problema.
Àgua de irrigação de
qualidade inferior pode causar sérios danos ao solo. O excesso de sais, de
sódio trocável e de elementos biologicamente tóxicos estão entre as principais
causas do efeito deletério dessas águas podem ser naturalmente inferior,
entretanto existem casos que a causa da sua baixa qualidade advém de lançamento
de resíduos urbanos e industriais nas bacias hidrográficas ou lagos. Água de irrigação
de boa qualidade também pode causar problema de salinidade, em certas
condições, se não se dispuser de uma drenagem adequada. O aproveitamento da
vinhaça, resíduo da indústria de álcool, como fonte de potássio deve também ser
bem controlado para evitar acúmulos de sais em geral e de potássio em
particular que poderá não só afetar a produção, mas a qualidade do produto.
Elementos metálicos ou de
natureza não metálica podem ser depositados no solo através da aplicação de
resíduos ou através da exaustão industrial, responsável pela poluição de ar,
quanto estes elementos alcançaram a superfície do solo. Estes elementos quando
em concentrações mais elevadas que certos limites específicos para cada um
poderão ser tóxicos às plantas ou acumularem-se nestas entrando na cadeia
alimentar e ocasionando danos aos animais e aos homens. Uma regra geral para se
emitir problemas sérios de contaminação que pode ser adotada neste particular é
que a água própria para o consumo humano, é uma água adequada para disposição
no solo.
A erosão é também um
fator que causa sérios danos ao solo. Como conseqüência do arraste do solo
muitos dos sedimentos irão contribuir para o assoreamento de barragens, rios e
lagos. Assim a agricultura perde o seu suporte principal e as águas ganham
sedimentos que muitos problemas trazem para a sociedade em geral. Sendo assim é
muito justo que se insista na adoção de práticas e medidas de controle da
erosão e que sejam adotadas em todo território nacional. Dentre os benefícios
tem-se não apenas a melhoria da qualidade ambiente, mas a preservação de
recursos de vital importância.
O SOLO COMO MEIO DE DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS
A tomada de consciência do público para a
necessidade de preservar as águas superficiais e o aumento de dispositivos
legais severos contra a descarga de poluentes em correntezas e lagos tem
aumentado o interesse no uso do solo para disposição, tratamento e utilização
de efluentes líquidos residuários em geral.
A sua larga ocorrência e
a capacidade dos seus constituintes em reter grandes quantidades de substâncias
orgânicas e inorgânicas, fazem do solo uma das alternativas mais razoáveis para
disposição de resíduos, tanto do ponto de vista econômico como energético.
Quando estes resíduos não apresentam substâncias tóxicas
para as plantas a sua disposição no solo constitui uma maneira de reciclar nutrientes
importantes para elas ajudando assim na melhoria de fertilidade do solo e
muitas vezes proporcionando boas condições físicas para seu cultivo. Em nosso
país, em algumas regiões mais populosas e industrializadas a capacidade do ar e
da água para reter os resíduos é frequentemente excedida enquanto que ainda se
começou a utilizar esta capacidade do solo.
Nem todos os resíduos
aplicados ao solo podem ser usados na produção de alimento. Existem resíduos
industriais que não podem mesmo ser aplicados ao solo uma vez que por serem
tóxicos às plantas poderão torná-la estéril. Dentre os resíduos que podem ser
dispostos em solos destacam-se: lixos, resíduos da indústria álcool-açucareira,
esgoto e lodo, resíduos de indústria de alimentos.
Uma prática que vem se
tornando comum nos meios canavieiros é a disposição da vinhaça e da torta de
filtro no solo. Com o crescente aumento do preço de fertilizantes a utilização
destes resíduos para a adubação da cana-de-açúcar vem se tornando cada vez mais
interessante e econômico. O uso de maneira adequada desses resíduos só tem
trazido benefícios. De um lado pela substituição parcial ou total de
fertilizantes e por outro por livrar as correntezas e lagos dos perigos
trazidos pelo acúmulo principalmente de material orgânico com alta demanda
bioquímica de oxigênio. Existem, entretanto, alguns problemas que devem ser
levados em consideração quando da utilização inadequada desses resíduos. Por
exemplo, a torta de filtro se colocada em excesso pode criar problemas, pelo
menos no começo, no aproveitamento do nitrogênio pelas plantas. A vinhaça por
seu lado carrega consigo alto teor de potássio. Esse elemento se acumulado em
grande quantidade no solo poderá trazer problema de naturação para diversas
culturas. A vinhaça contém alto teor em sais, então se colocada em condições
onde a evapotranspiração exceda a precipitação poderá ocasionar acúmulo de sais
que podem tornar-se nocivos para diversas espécies de plantas cultivadas.
Outra prática, esta ainda
pouco comum em nosso meio, é a disposição de esgoto no solo. O esgoto pode ser
disposto de forma líquida logo após ter sofrido pequenos tratamentos ou pode
ser disposto em forma de lodo quando a fase sólida sofre uma separação de
grande parte da fase líquida. Trabalhos experimentais têm mostrado que o uso do
esgoto ou de seu lodo tem sido altamente satisfatório com relação ao cultivo de
plantas.
Um problema sério
associado com a disposição de resíduos em solos de modo geral é o fato de estes
resíduos serem produzidos de forma contínua. Para a disposição de cada resíduo
existem problemas específicos que devem ser levados em conta no planejamento
feito para cada solo, local e cultura, do contrário a capacidade de suporte do
solo será excedida e se comprometerá uma das mais importantes reservas da
natureza.
Otávio Antonio de Camargo (Gansolino-F67), Pesquisador cientifico do IAC, Ex Morador da Republica Império da Felicidade.