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O Silêncio Perante as Tenebrosas Transações (Sifu)

11/04/2015 - Por marcos fava neves
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O Silêncio Perante as Tenebrosas Transações[1]

 

Prof. Dr. Marcos Fava Neves, Professor Titular da FEA-RP.

 

“Dormia, a nossa pátria mãe tão distraída

Sem perceber que era subtraída

Em tenebrosas transações...”

(Chico Buarque de Holanda)

 

Manifesto neste texto meu sentimento de tristeza e indignação com o rumo que vêm sendo tomado pelo nosso país, colocando em risco difíceis e dolorosas conquistas que tivemos desde o processo de democratização.

 

Assistimos nos últimos anos uma gestão na esfera Federal que vêm falhando na tentativa de promover um maior desenvolvimento nos pilares econômico, social e ambiental do nosso país, facilmente comprovado por indicadores internacionalmente reconhecidos em todas estas áreas, que vêm apresentando seguida deterioração.

 

Entre os econômicos, destaco o retrocesso na atividade industrial e consequente menor geração de empregos, queda na arrecadação de impostos, balança comercial passando a ser deficitária em 2014, com importações já representando quase 22% do total consumido no Brasil, o retorno da inflação, que perigosamente encosta na parte superior da meta estabelecida, e representa uma terrível penalidade às classes mais humildes.

 

Temos anualmente perdido posições no índice internacional de competitividade das nações, passamos por um aumento considerável dos custos de produção, o que traz grande comprometimento na capacidade de geração de renda pelas empresas, e sem geração de renda, fica comprometida a salutar e desejosa distribuição de renda,  que se observará nos cortes de programas sociais já em 2015.

 

Entre os indicadores sociais, observo pela primeira vez nos últimos anos o aumento no número de miseráveis, fracas participações em competições internacionais na área de educação, a acomodação de importante parte de nossa população desistindo do trabalho e dependendo do Estado, a explosão da violência urbana e rural, a degradação do tecido social, deterioração das instituições sociais, dos valores éticos, de educação, convivência e solidariedade. Observo também um desencanto dos jovens e dos talentos e empreendedores com o Brasil, com aumento na vontade de pessoas em buscarem alternativas em outros países. Todos sabemos já de muitos casos de pessoas que foram embora, cérebros, repetindo processos passados por nossos países vizinhos.

 

Finalmente, assistimos também se deteriorarem alguns indicadores ambientais, com o aumento recente na taxa de destruição de nossas florestas e principalmente, nas emissões de CO2, entre outros, notadamente pela perda do setor de etanol e energias renováveis com equivocadas políticas de subsídios aos combustíveis fósseis, amplamente debatidas e contestadas pelos pesquisadores, entre os quais me incluo.

 

Como mais um indicador de uma gestão fraca, o Governo Federal não cumpriu as metas do orçamento proposto para 2014, e necessita de uma manobra para acertar as contas. Isto representa mais uma afronta às instituições, ao tentar flexibilizar perigosamente uma conquista de enorme relevância à sociedade brasileira, a lei de responsabilidade fiscal, com possíveis reflexos futuros nas arenas estaduais e municipais, pois abre-se o precedente de se acertar por artifícios as contas de quem não as cumpriu como gestor público, colocando em risco uma das maiores conquistas da sociedade brasileira, que foi a estabilização da moeda.

 

Assistimos também atônitos às descobertas diárias de tenebrosas transações que vêm saqueando as nossas estatais, sendo o caso da Petrobrás, entre muitos outros, o mais escandaloso que vi em nossa história, pelo volume de recursos comprovadamente desviados pelo grupo que está à frente da gestão do nosso país. Roubos que prejudicam a nossa sociedade de diversas formas, mas principalmente em investimentos que poderiam beneficiar os mais humildes e comprometendo as futuras gerações do nosso país. Ressalto que a corrupção não se restringe ao Governo Federal, é pratica recorrente em nosso país.

 

Ou seja, encontramo-nos hoje na mais triste situação em termos de administração pública: má gestão, que comprovadamente tirou o país dos trilhos do desenvolvimento, aliada à elevada corrupção. Basta a leitura diária dos editoriais da respeitável imprensa brasileira e internacional para este triste diagnóstico.

 

Dirijo-me à comunidade universitária manifestando minha decepção pela elevada acomodação e omissão, na qual não me enquadro, de boa parte do sistema universitário, seja do corpo docente ou discente, à situação de deterioração na qual nos encontramos. Justo a Universidade, que historicamente é catalisadora de movimentos de mudança e moralização.

 

Chega a ser intrigante, além de difícil compreensão, perante esta situação de má gestão e saque do patrimônio público “em tenebrosas transações”, o silêncio, além do compositor da canção que cito no início, das nossas associações de classe, sindicatos e de entidades estudantis, entre estas destaco os sempre combativos e tradicionais Centros Acadêmicos e notadamente a desaparecida UNE, entidade de contribuições históricas e que foi às ruas no Anhangabaú (SP) comigo em 1992 derrubar via impeachment um presidente que, em tom de humor trágico, me parece hoje um “homeopata” perto de tudo isto que se vê. Por que estão em silêncio? Passaram a tolerar, aceitar a corrupção desenfreada? Ou se escondem num injustificável e falso argumento que... “sempre foi assim” para justificar a omissão?

 

Uso este texto para manifestar meu chamado, meu estímulo para que a comunidade universitária e a sociedade saiam desta injustificável acomodação e participem mais ativamente do processo de protesto contra esta deterioração e tudo o que vem sendo feito diariamente para prejudicar o nosso objetivo comum, que é a construção de um país justo, de oportunidades e com elevado IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), traduzindo em seguidas melhorias nos seus indicadores de desenvolvimento econômico, ambiental e social, que comprovadamente por indicadores internacionalmente aceitos, deixamos de ver no nosso país.

 

 



[1] Manifesto do Professor Dr. Marcos Fava Neves (Sifu - F91) feito na Congregação da FEA-RP – Universidade de São Paulo – Sessão de 26/11/14

 

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