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O Alicerce da nossa Agricultura Não Pode Ser o Controle Químico (Guaimbê)
20/08/2015 - Por evaldo kazushi takizawaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

Evaldo Kazushi Takizawa (Guaimbê)
A cultura do algodão vive um momento de pragas crescentes e danos cada
vez maiores e num ambiente totalmente dependente do controle químico, neste
cenário questionamos: é possível desenvolver um manejo de pragas mais
equilibrado?
Quando estamos imersos nesta situação temos a impressão que estamos
diante de um caminho sem saída, fragilizado pelo desgaste dos prejuízos
decorrentes das pragas paramos para refletir sobre este problema e chegamos a
uma conclusão muito óbvia: a solução está diante de nossos olhos e basta apenas
aplicar as práticas agronômicas já consagradas e que algum tempo foram
negligenciadas, as boas práticas de manejo.
O manejo de pragas na cultura do algodão deixou de evoluir tecnicamente
a iniciar pela capacitação de todos os profissionais envolvidos na condução do
algodão, durante o crescimento vertiginoso que viveu a agricultura brasileira
não foi capaz de formar novos profissionais a altura da necessidade da
implantação das técnicas agronômica consagradas.
A aplicação de técnicas agronômica não significa utilizar as máquinas e
equipamentos mais caros e modernos ou então aplicar os insumos recém lançados
ou ainda fazer uso das maiores doses de fertilizantes ou conduzir lavouras
irrigadas aplicando programas informatizados de gerenciamento da lavoura.
No balanço entre as práticas em prol do manejo equilibrado ou contra as
pragas e os procedimentos favoráveis as pragas, a conclusão é simples: se faz
mais a favor das pragas do que contra elas, senão essas pragas e danos não
estariam evoluindo tanto, as pragas decrescerão apenas quando se adotar medidas
racionais de convívio e não apenas processos para aumentos sem limites dos
patamares de produtividade ou de ganhos financeiros imediatos.
O uso das boas práticas de manejo implica em desenvolver métodos
próprios a cada propriedade e região diante da análise das particularidades
locais, isso implica numa boa estratégia para manejo das pragas iniciando com
os conhecimentos básicos muitas vezes esquecidos.
A agricultura nas regiões tropicais é acometida naturalmente por
diversas pragas, porém em sua rica biologia os agentes de controle natural
estão disponíveis sem necessidade de dispor dos recursos financeiros para sua
aquisição.
O conceito de agricultura mais equilibrada e ecológica muitas vezes é
tratado de forma “romântica” como um sonho almejado por todos, mas sua
aplicação exige mais conhecimento do que apenas recomendar defensivos químicos,
neste ponto nossa agricultura se encontra órfã.
Para resgatar as informações perdidas no passado é importante lembrar
da forma que os agricultores lidavam num período em que os defensivos químicos
não existiam, essas práticas a tempos abandonadas podem trazer as respostas
para essa condição aparentemente insolúvel.
Os limites capazes de se resolver problemas apenas com uso de recursos
químicos trazem a tona nossas fragilidades é o sinal claro da fadiga do sistema
atual, surgem novas oportunidades para profissionais comprometidos com as
técnicas agronômicas.
O controle cultural é sem dúvida uma das formas mais eficazes de
controle de pragas, trata se apenas das execuções de medidas culturais básicas
de condução do algodão como o preparo de solo, a época de semeadura, variedades
adequadas, programas nutricionais balanceados, destruição de restos culturais,
manejo de plantas daninhas e doenças, ou seja, medidas que garantam a higiene
na propriedade sem a necessidade de produtos químicos.
A rotação de culturas que não possuam pragas comuns impede o progresso
e quebra o ciclo das pestes, não é novidade que os conceitos da divisão
espacial e temporal são muito eficazes no combate aos problemas, a rotação
de cultura intercala uma atividade com
este objetivo, como as vantagens da rotação de cultura são conhecidos desde a
época da Roma antiga antes de Cristo não cabe dispensar tempo para defender
este sistema.
Os restos culturais e os métodos da sua destruição devem ser revistos,
medidas legislativas foram criadas no passado, mesmo em vigor atualmente sua
aplicação é questionável, é importante salientar que em nenhum local em longo
prazo houve sucesso se essa medida de higiene não for cumprida, no sistema
agrícola brasileiro não basta a destruição apenas da cultura do algodão e sim
de todas as culturas e plantas hospedeiras capazes de hospedar e multiplicar as
pragas do sistema agrícola, o conceito da destruição dos hospedeiros de pragas
e provocar o vazio sanitário é muito mais amplo e deve envolver todo o sistema
agrícola.
A preservação dos agentes de controle biológico nativos é o caminho
mais curto do que introduzir artificialmente produtos biológicos externos para
controle de pragas do algodoeiro, para o sucesso desta forma de controle é
imprescindível adotar medidas mais seletivas.
O grau de qualificação de toda cadeia produtiva passa ser questionada
quando o assunto é controle biológico, as exigências vão desde as condições de
armazenamento durante todo processo de distribuição até o uso efetivo do
inseticida biológico e em quais condições foi aplicado, para checar a viabilidade
dos agentes biológico e de grau de pureza genética.
Salientando que o caminho do sucesso do controle biológico passa por
aprender a preservar os agentes de controle biológico nativos, isto implica em
preservar níveis de pragas abaixo do nível de dano, uma premissa básica do
controle biológico é ter a pragas dentro dos limites gerenciáveis e nunca em
níveis zero.
Manter vivas colônias de pulgão favorecendo joaninhas, aranhas, Geocoris, Podisus e outros para que posteriormente esses insetos benefícios
ataque ovos de Helicoverpa deve passar pela cabeça dos nossos profissionais.
Não esquecer o valor da pesquisa para desvendar muitas dúvidas que
surgirão ao longo dos trabalhos, a prática deve estar embasada em conhecimento,
isto implica em investigar repetidamente as questões de manejo não consagrada e
dependam de mais informação para dar seguimento a todas as ações.
Quando tratamos da seletividade dos defensivos químicos, ampliar este
conceito, respondendo quando, como, quem é seletivo. A biologia da planta, da
praga e do agente benéfico e suas interações no ambiente agrícola serão
imprescindíveis para usufruir dos benefícios do controle biológico.
O controle químico passou a ser banalizada e a perda da efetividade de
seu uso, mas não da capacidade de matar as pragas, isto é, há um controle da
praga e seus danos persistem, essa impotência técnica demonstra que a
sobrevivência da cotonicultura depende do manejo integrado de pragas (MIP).
A efetividade do uso de inseticidas e acaricidas não se ampara apenas
na capacidade de controle deste defensivo, mais relevante é a estratégia de
uso, isso envolve as doses, a forma de aplicação, o momento, as condições
meteorológicas e as pessoas responsáveis pela concretização dos procedimentos.
O dinamismo do ambiente agrícola deve ser considerado, a cada momento
há uma transformação, nesta condição os monitores deverão ser capazes de
visualizar cada uma dessas mudanças, uma praga mesmo que no mesmo instar, mas
localizado em posições distintas na planta podem exigir estratégias
diferenciadas.
Considerações finais:
O
surgimento de pragas cada dia mais destrutivos é indício claro da urgência na adoção de
procedimentos mais sensatos tecnicamente e a agricultura não pode ser norteados
apenas por parâmetros financeiros, isso é apenas um dos componentes para
viabilização da atividade agrícola, as questões técnicas não podem ser
abandonadas, a natureza é soberana e sua cobrança e castigos são impiedosos.
A
grande inovação para o futuro pode ser a volta das tecnologias do passado de convívio
com as pragas, resgatar essas informações será o primeiro passo para um modo
mais equilibrado de manejo de pragas.
O
controle mais equilibrado envolve atitudes coordenadas e coletivas, ações
individuais para pragas capazes de se mover entre as diversas culturas e
lavouras surtirão poucos efeitos quando se deseja realizar ações impactantes
contra as pragas.
Para
qualquer pessoa crer no aparecimento de um produto capaz de resolver todos os
problemas seria uma saída almejada por todos, mas é inocente pensar que algum
dia isso chegará, mesmo com a biotecnologia novos problemas surgirão e não
dispensarão a necessidade de mais conhecimento com manutenção dos princípios
básicos da agricultura.
A
conclusão do tema central da questão da possibilidade de desenvolver manejo
mais equilibrado exige a resposta para uma interrogação anterior: a cadeia da
agricultura está disposta a aplicar os conceitos básicos da agronomia? Não há
necessidade de inventar saídas mirabolantes, o momento não é discutir, cabe
apenas agir! Conhecimento já existe bastam apenas aplicar ou transformar as
informações em ações.
Evaldo Kazushi Takizawa (Guaimbê F90), Engenheiro Agrônomo, F 1990 é Sócio da Ceres Consultoria Agronomica, Sócio Mantenedor da ADEALQ e Ex Morador da Republica SS Pau Torto