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Nara Leão (Pinduca F68)
21/09/2015 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

Maio de 1967, ditadura, bossa nova, o Universitário cursava
o quarto ano da ESALQ, quando ficou sabendo que o baile do próximo sábado,
promovido pela Comissão de Formatura do terceiro ano, teria como atração
principal Nara Leão. Ela era a Musa de boa parte dos brasileiros, em especial
dos que haviam assistido ao show Opinião, como o Universitário.
Eram 2 problemas : ele não tinha terno (nos bailes daquela
época era exigido terno para entrar). Tampouco tinha dinheiro para o convite e
muito menos para alguma bebida. Também não tinha companhia, mas já havia se
acostumado a isso. Mil idéias, planos para "furar" a vigilância e entrar, logo
depois do almoço decidiu-se a ir ver o que estava acontecendo no ginásio de
esportes, local do baile (planejava, na realidade, se esconder num banheiro e
só sair depois do show!).
Chegou como quem não quer nada, intensa agitação nos
preparativos para o baile. Logo o reconheceram : o presidente da comissão
organizadora, que havia sido bicho seu, quando do vestibular, e respeitosamente
(tradição Esalqueana) o tratava por Doutor, comentou :
- Doutor Pinduca, que milagre passar um fim de semana em
Piracicaba!
- Pois é, tinha um trabalho para terminar. E como estão os
arranjos para o baile? Posso ajudar em alguma coisa?
- Pinduca, tá um sufoco, mas minha maior preocupação é com a
iluminação do show com a Nara Leão. Não tenho a menor idéia de como funciona,
você conhece alguém que entenda disso?
Centelha luminosa no cérebro do Universitário :
- Olha, eu até já trabalhei nisso, mas faz tanto tempo que
não sei se posso ser de grande utilidade. Se não tiver mais ninguém posso
tentar ajudar vocês.
- Sério? Você caiu do céu!
O Universitário era o mais novo membro da Comissão
Organizadora : com direito a crachá no peito e carro da Escola com
motorista à disposição, lá foi ele para
o boliche Bem Bolado, que emprestaria os spots para a iluminação. Ao escolher
os equipamentos, teve a lucidez de se informar como aquilo funcionava, onde
ligava e desligava, era a primeira vez que se aproximava de um spot.
Iluminação montada, escolhido um assistente, banho tomado,
lá foi o Universitário de volta ao local do baile, para assumir seu posto. Não
eram nem sete horas da noite e o baile só começaria às dez, mas lá estava ele.
Lá pelas tantas, burburinho, carro preto, seguranças, chegou a Musa, que logo
foi levada a uma sala do primeiro andar, para repousar antes da apresentação. O
Universitário, com o restinho da cara-de-pau que lhe restava, convenceu
comissão e seguranças de que precisava discutir com a Nara os detalhes da
iluminação do show, e ali estava ele, frente a frente com a Musa, diáfana
presença recostada numa prosaica pilha de tatamis de judô. Calça jeans, blusa
simples, sem maquiagem, confidenciou que não tinha preferências quanto à
iluminação e que o Universitário poderia iluminar a seu gosto, conforme o
ritmo, conforme a música, a letra, o sentimento. E aproveitou para discutir com
ele, suprema ventura, as músicas a apresentar, acertar a seqüência e incluir as
preferidas dos "agricolões", como eram chamados os estudantes de agronomia.
Para o Universitário foi um show particular.
Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro