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LQ cultural (Drepo F70)

20/01/2016 - Por eduardo pires castanho filho
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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O início da ditadura foi um momento fervilhante e de profícua produtividade nos arraiá da ESALQ. No CALQ algumas iniciativas de caráter cultural foram semeadas e germinaram com vigor. 
A primeira delas foi sem dúvida o CALQUINTETO, que acabou virando um conjunto sofisticado e de repertório muito superior às bandas que proliferavam na ocasião. Para alguns "torcedores de nariz" era até um pouco elitista. Segundo um dos membros, o contrabaixista era improvisado, o piano desafinado e a bateria furada. Mas, mesmo assim o som era endiabrado.
O "Showvendo" e o TULQ também compuseram esse mosaico cultural.
"Quem participou do showvendo? 
Lacava, o bicho esmeralda e Castanho , o bicho drepo, "entrados" em 66, trocaram impressões sobre aquele tempo.
Drepo: Lembro do Zé Ricardo e do Kjú(os dois eram os "espectadores" e davam o fio condutor do espetáculo. O Zé engajado e politizado, o Kjú alienado e curtidor, que se politiza no decorrer do show. Lembro do Barraca, vestido de azul se balançando numa corda em diagonal no palco ("Barracazul", que remetia ao ditador de plantão Garrastazu). O Pima, com um megafone e um carrinho de cachorro quente- anunciava os acontecimentos e as transições de um sketch para o outro. Não lembro se o Zanaga participou. Ele era do Calquinteto, baterista. O Catarina esteve só no começo. Achou que o evento não era suficientemente avançado, ficou bravo e saiu. O Tuca Kageiyama estava sempre com seu violão". 
Aí o Lacava emendou: "Das meninas lembro-me da Isa Benetton, participando do quadro "Sim-sim, sim-não" que, por sinal, brilhantemente atacou de improviso o script que eu havia escrito para ela, com um resultado bem melhor do que o ensaiado...
Lembro-me de um amigão da tchurrrma (...cujo nome não me lembro...), que fez o "papel" do seu Jorge - bedel do primeiro ano da Facul... e salvou a sequência da encenação trazendo o "macaco" (...paralelepípedo que eu havia esquecido de pegar antes de entrar no palco...) - objeto central da pesquisa do defensor da tese - "A Influência do Galho Seco na Vida Social do Macaco". Lembro-me do amigo Drepus Magnificus, titular da banca examinadora, salvando uma outra cena, perguntando se o macaco (paralelepípedo) era macho ou fêmea..e ao verificar a masculinidade da pedra deixa- la cair com estrondo no chão...   Magistral!
Lembro-me do Newman que participou da encenação de um diálogo crítico, sensibilizando e surpreendendo maravilhosamente a plateia. Era um pedaço de "esperando Godot", de Beckett.
Lembro-me também do Zé Ricardo, ao final da apresentação, no acender das luzes, segurando a plateia para um diálogo curtidor, à moda da Feira-de-Opinião, esticando uma reflexão crítica e, ao mesmo tempo, desejando sorte ao elenco do TULQ, que estrearia dali alguns dias, dirigidos pelo português Fernando Não-sei-do-quê ...
Lembro-me ainda de que, por ocasião daquela cena de encerramento, em câmera lenta, sob som em baixa rotação, à meia-luz difusa, portando aquele maldito guarda-chuva, sem querer (...eu juro...) devo ter cutucado uns dois ou três cus situados à minha frente, passado uma quase- rasteira em dois atores, quando então decidi erguer as mãos e empunhar o dito-cujo, como se estivesse com ele dando lentas porradas no ar, direcionadas à facção contrária que, ora avançava, ora recuava, naquela dança simbólica dirigida pelo Otavião... graaannnde Otavião. Era iluminador, diretor, contra regra e o escambau. A sonoplastia ficou por conta do Kfuso e do Paulão do sax".
...Do show-vendo, no momento, o que me ocorre são essas lembranças de 45 anos atrás, prejudicadas pelo fato de ter comparecido somente uma noite no ensaio do show, bem às vésperas da apresentação no CALQ.
E, era justamente nos ensaios, que as ocorrências eram muito saborosas"...
Eduardo Pires Castanho Filho (Drepo F70) Engenheiro Agrônomo, Ex morador da Republica do Pau Doce

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