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Linha do tempo do Programa de Educação Tutorial/PET na Esalq: 35 anos (1988 a 2023) (Vavá; F66)
06/10/2023 - Por evaristo marzabal nevesAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Originalmente, o Programa PET
(Programa de Educação Tutorial), ex-Programa Especial de Treinamento
(PET/CAPES) estaria associado à iniciação científica na ESALQ. Explicando: em
1982 a ESALQ foi sede do II CBICCA (Congresso Brasileiro de Iniciação
Científica em Ciências Agrárias) onde presidimos o evento por indicação do
Prof. Aristeu Mendes Peixoto (então Diretor da ESALQ). Foi neste período que
começa a ganhar força e espaço a Iniciação Científica na ESALQ. Naquele ano, o
CBICCA contou com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico/CNPq, da Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São
Paulo/FAPESP, da Sociedade Brasileira do
Progresso à Ciência/SBPC, da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária/EMBRAPA e da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz/FEALQ.
Em 1983, para fortalecer o
Certificado de Mérito Científico Luiz de Queiroz em Iniciação Científica,
autorizado e aprovado pela Congregação da ESALQ, criamos com o Prof. Joaquim J.
de Camargo Engler (Diretor da ESALQ) o Congresso de Iniciação Científica da
ESALQ, que seria realizado uma ou duas semanas antes do Congresso Brasileiro de
Iniciação Científica, como agenda preparatória para nossos estudantes inscritos
no evento nacional. O lema era "A ESALQ
também é Iniciação Científica". Com
o Diretor Prof. Engler estabelecemos que a Comissão Organizadora do Congresso
Interno contaria com minha presidência e os demais membros seriam da
representação discente, divididos em comissões, visando o desenvolvimento entre
os estudantes da ESALQ de outras habilidades como agenda, trabalho em equipe, organização
de eventos e praticas de extensão.
A iniciação científica ganhou impulso
nos anos oitenta de tal forma que a participação de nossos estudantes nos
CBICCA´s era enorme ficando sempre com a maior representação. Surgiu um
problema com os CBICCA´s à medida que o evento era programado e realizado no
nordeste, no Centro-Oeste ou sul do país, principalmente porque era efetuado na
semana seguinte à Semana da Pátria. Comprometia as atividades acadêmicas de
nossos estudantes e acabava onerando a ESALQ com os longos trajetos de
deslocamento. Nossos estudantes ficariam duas semanas fora da ESALQ e
precisaríamos alocar mais de um ônibus para o deslocamento para o nordeste ou
outras regiões do Brasil, distantes do Estado de São Paulo.
Em 1988, como um dos
coordenadores da área de Ciências Agrárias da FAPESP (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo), idealizamos com o apoio do Diretor Científico
e grande incentivador da iniciação científica na FAPESP- Prof. Flavio Fava de
Moraes, a Reunião Paulista de Iniciação Científica em Ciências Agrárias, como
uma oportunidade de apresentação de trabalho para os estudantes que não
poderiam se deslocar para o CBICCA. Abrindo um parêntese: a semente lançada nos
anos 80 foi abraçada e incorporada pela Comissão de Pesquisa da ESALQ nos
Siicusp´s realizados no Campus Luiz de Queiroz. Com alegria e orgulho colhemos
os frutos podendo participar no 14º Siicusp (Novembro 2006, Campus Luiz de
Queiroz), simultaneamente com a 17ª Reunião Paulista de Iniciação Científica em
Ciências Agrárias e 20º Congresso de Iniciação Científica da ESALQ. Estes, com
o advento do Siicusp, foram extintos.
Com a criação da Reunião Paulista
em 1988, onde também fomos o presidente da Comissão Organizadora, buscávamos
novas aberturas para a expansão da iniciação cientifica na ESALQ. Foi quando o
Prof. Irineu Umberto Packer, então Vice-Diretor e Presidente da Comissão de
Graduação, comunicou a existência do Programa PET (Programa Especial de
Treinamento) da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior/CAPES.
Com os Profs. Packer e José Molina, fizemos algumas reuniões na Vice-Diretoria objetivando
estabelecer as estratégias para que a ESALQ viesse a participar do PET, que era
um programa voltado para um curso (p. ex. PET Agronomia - UNESP/Jaboticabal,
existente na época). Como contemplaria, para boa continuidade, a seleção de
estudantes que estivessem nos primeiros anos julgamos que um maior número de
PET´s para a ESALQ deveria se apoiar em temas e não cursos. Por quê? Porque
tínhamos um curso com 200 vagas (Engenharia Agronômica), outro com 25 vagas
(Engenharia Florestal) e, ainda, outro que estava sendo desativado (Economia
Domestica).
Quais programas temáticos
poderiam causar impactos na CAPES (digo Profa. Ângela Santana, coordenadora do
Programa) que derrubariam normas que estabeleciam somente PET´s cursos? Junto
com o Profs. Packer, José Molina, e, num segundo momento, contando com a
preciosa colaboração do Prof. Flavio Tavares do Departamento de Genética, pesquisamos
em nossas áreas de conhecimento, os temas da atualidade e com grande impacto na
segunda metade dos anos 80. Fixamos em três: biotecnologia, ecologia e gestão.
Fizemos a proposta para a CAPES de três PET´s temáticos e não de três cursos,
ainda com agravante de que o curso de Economia Doméstica estava sendo extinto.
A CAPES aceitou nossa proposta, mas afirmando de que seria experimental.
Resumindo: sua criação se dá no
segundo semestre de 1988 e as primeiras seleções realizadas se iniciam em 1989 com
os primeiros quatro estudantes selecionados, por programa. A partir daí, em
1990 cada grupo selecionaria mais quatro que se juntaria aos outros quatro, e,
em 1991, nova seleção para completar o quadro de doze bolsistas por programa. A
idéia original seria de que os primeiros selecionados, já funcionariam como "aprendizes
de tutor" para os outros bolsistas e, assim por diante.
Uma vez aceita nossa proposta
pela CAPES, junto com o Prof. Packer selecionamos os tutores dos PET´s ficando
o PET-Biotecnologia Agrícola com o Prof. Flavio C.A.Tavares, PET- Ecologia, com
o Prof. Walter de Paula. Lima e o PET-Gerenciamento e Administração da Empresa
Agrícola, sob minha tutoria. Aceitas as indicações pela CAPES, restava um
alerta: o PET não se tratava de um programa exclusivo de atendimento à
iniciação científica, mas para desenvolvimento de habilidades dos estudantes,
práticas de extensão, de voluntariedade e responsabilidade socioambiental, e,
interação em equipes, porém não se excluindo a iniciação científica como um
instrumento de desenvolvimento individual do estudante selecionado para o
Programa, na busca da indissociabilidade pesquisa, ensino e extensão
universitária.
De forma resumida esta é a origem
do PET na ESALQ. Abro um parêntese para
nominar os tutores, por programa ao longo desses 35 anos. O PET-GAEA
(Gerenciamento e Administração da Empresa Agrícola) começou comigo, tutor
efetivo por 23 anos até a aposentadoria em 2011, Professores Marcia Azanha Dias
de Moraes, Roberto Arruda de Souza Lima e, atualmente, Eliana Tadeu Terci. O
Programa Biotecnologia Agrícola começou com o Prof Flavio C.A. Tavares,
permanecendo até sua aposentadoria, e, atualmente Prof. Mateus Mondin. O
Programa Ecologia com o Prof. Walter de Paula Lima, posteriormente os Professores
Virgilio Mauricio Viana, Ricardo Ribeiro Rodrigues, Flavio B. Gandara Mendes,
Carlos Armenio Khatounian, Taitiâny Karita Bonzanini e, atualmente, Karina
Soledad Maldonado Molina. Neste instante, os fundadores do Programa na Esalq,
registram nossos sinceros agradecimentos aos referidos tutores pelo empenho,
dedicação, e orientação de mentes juvenis na pratica e promoção da
indissociabilidade ensino, pesquisa e extensão, missão maior da graduação na Universidade.
Na Esalq, vale o registro da
coragem, resistência e afeto estabelecidos ao Programa de Treinamento
Educacional, desde sua criação em 1988, pelos seus componentes. Entendido como
um programa de excelente formação acadêmico-científica e desenvolvimento de
habilidades que exigem esforços de equipe, os PET´s da Esalq resistiram e não
perderam sua eficiência na formação dos bolsistas, mesmo em momento de desativação
quando a CAPES extinguia o Programa e os petianos não tinham mais certeza da
bolsa (em alguns anos receberam somente no fim do ano, acumulada) e os tutores
tiveram a mesma suspensa por inúmeros anos. No Brasil, diversos PET´s foram
extintos com a falta de estimulo não somente pelo desligamento da bolsa, mas
pelo abandono e falta de recursos/reserva técnica para dar continuidade ao
programa.
É importante realçar o papel do
Prof. Flavio Tavares, uma vez que estando envolvido com administração
(Diretoria da ESALQ/Gestão 1995-1998, e, posteriormente, Chefia de Depto/Gestões
08/10/1999 a 08/10/2001, e, 10/10/2003 a 09/10/2005) não pude dar a devida atenção
ao programa na ESALQ. Neste tempo, o Prof. Flavio assumiu a representatividade
e defesa da permanência de nossos PET´s agindo, com enorme dedicação e empenho
como nosso interlocutor junto à USP e como membro do Comitê Local e
Acompanhamento (CLA/USP) e mesmo colaborando com o esforço institucional da USP
junto à Secretaria de Ensino Superior (Sesu/MEC) que assumiu de vez, por lei,
junto aos IES´s (Instituto de Ensino Superior) do Brasil, a responsabilidade da
existência e manutenção dos PET´s no Brasil.
Finalizando: o Programa Especial
de Treinamento sob a gestão da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de
Nível Superior/CAPES foi criado em 1979 e ao longo dos anos 80 e 90 ficou sob
sua tutela. Até a criação dos três PET's da Esalq, na USP já tinham sido criados
o PET Direito - Sociologia Jurídica em 1979 e o PET - Odontologia da Faculdade
de Odontologia de Bauru em 1985.
O Programa de Educação Tutorial
na USP tem sua implantação em 2003 e foi oficialmente instituído pela Lei
11.180/2005 e regulamentada pelas Portarias n. 3.385/2005; n. 1.632/2006 e
n.1046/2007. Atualmente está vinculado à Secretaria do Ensino Superior
(Sesu/MEC) em convênio com a Pró-Reitoria de Graduação da USP e passou a ser
Programa de Educação Tutorial, substituindo o original Programa Especial de
Treinamento. Como objetivo central, busca a formação global ampla e de
qualidade dos estudantes de graduação estimulando a cidadania, a proatividade,
a consciência social, o trabalho em equipe e o aperfeiçoamento do curso
superior, reforçando a indissociabilidade pesquisa, ensino e extensão
universitária.
Em 2023, no Brasil, o Programa de
Educação Tutorial conta com 842 grupos distribuídos em 121 IES/Instituições de
Ensino Superior. Num calculo aproximado, uma vez que cada programa pode contar
com 12 bolsistas efetivos, estima-se que cerca de 10.104 alunos de graduação são
atendidos pelo Programa e 112 tutores oficiais. Na USP são 22 grupos,
correspondendo a 264 bolsistas titulares e 22 tutores. O pagamento mensal dos
bolsistas e dos tutores é realizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação/FNDE.
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Prof. Sênior Evaristo Marzabal
Neves, Departamento de Economia, Administração e Sociologia - Esalq/USP
Obs. Para melhor conhecimento
sobre o PET, consulte: Ensino Tutorial no Ensino Presencial - Uma análise sobre
o PET, do Prof. Iguatemy Lucena Martins, e
Programa de Educação Tutorial.: entenda o que é e quais os benefícios
para as IES - Saraiva Educação, 26/01/2023.