O homem aprende pouco com a Mãe Natureza. Prefere vislumbrar suas curvas e se alimentar de seus recursos. O pouco que a estuda se limita as partes e não o todo, como se toda dor fosse ocasionada no lugar da lesão.
Quem tem 4,5 bilhões de anos, entretanto, tem muito a ensinar.
Primo, tamanho não é sinônimo de sobrevivência. O maior animal do mundo é a baleia-azul, que apesar dos seus 30 metros de comprimento e 180 toneladas, gera ínfimo desequilíbrio ecológico ao cessar a vida. A natureza não limita as interações e sim o tamanho das unidades.
O homem, desde a torre de Babel, faz o contrário. Opta pela criação de instituições - empresas, governos e empresas-governos -, quanto maior melhor. Enquanto aproveitam a economia de escala o crescimento é vantajoso. Porém, é finito. Chega um momento em que crescer subtrai das taxas de sucesso. E em casos de acidente, como o de Mariana, o tombo é ainda maior. "Too big will fail!"
Secondo, quantidade não é sinônimo de diversidade. Ecossistemas maiores possuem espécies maiores, que as vezes se tornam too big em detrimento das menores. Em proporção pequenas ilhas possuem mais espécies e diversidade, portanto mais robustas, que vastas extensões de área. Um efeito semelhante ao que Darwin observou em Galápagos.
A globalização, ainda que extremamente positiva, traz riscos como o exposto em Paris. Um dos suspeitos se passou por refugiado Sírio para cometer um ato covarde a uma população acolhedora. Agora os que realmente procuram abrigo pagarão o pato.
De novo, julgo a globalização como extremamente positiva, principalmente, do ponto de vista econômico e cultural. Mas acredito que possuem riscos ocultos que damos pouca atenção e que a natureza trata com perfeição.
Terzo, especialização e eficiência não são sinônimo de sucesso. A natureza criou a maioria dos órgãos e membros em pares, não por ser mais eficaz, e sim por segurança. Um animal que perde um olho tem ainda grandes chances de sobreviver, ao passo que se tivesse sido desenhado por um economista ("um olho é mais eficiente que dois") estaria fadado a morrer. O mesmo conceito se aplica a especialização. Animais muito especialistas sofrem mais com mudanças no ambiente, do que animais mais generalistas e adaptáveis.
O paralelo com seres humanos e instituições é verdadeiro. Quanto mais especialista nos tornamos menor valorizamos o que não conhecemos e reduzimos nossas chances de adaptação por olhar partes e não o mundo como um todo. Empresas como a Samarco, especialista em mineração, mas que deu pouca atenção as comunidades ao seu redor e natureza que explorava, padecem no primeiro evento extremo.
Por fim, que nos casos de tragédias, como das últimas semanas, o ser humano procure aprender mais com a professora mais antiga, evoluída e robusta que há, do que encontrar respostas imediatistas. Pois questões complexas precisam de tempo.
Rodolfo Castro (Alfinet - F09) é Eng. Agrônomo, Coordenador Comercial da AgroTools e ex morador da República Kangaço