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Jovem esalqueano: aprenda a aprender e aprenda mandarim
29/05/2018 - Por luiz antonio gonçalves r.de souzaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Quando eu estudava na
Esalq, no início dos anos 2000, tinha uma grande preocupação em ter as
habilidades necessárias para ser um bom profissional. Ter entrado logo cedo
para a empresa júnior, onde aprendi com erros e acertos do trabalho em equipe,
foi também uma grande escola. Além disso, me ocupava em buscar o conhecimento
complementar que não está nas salas de aula. Esse conhecimento não está na aula
até por uma questão de limitação de tempo e escopo da grade acadêmica, apesar
da diversidade de conhecimento que a Esalq proporciona. Ainda, saber usar bem
os programas que facilitavam análise de dados como Excel e R foi sem dúvida um
bom investimento de tempo e esforço.
Com
a internacionalização crescente já naquela época, me dei conta a necessidade de
saber se comunicar com outras culturas. O agronegócio brasileiro é exportador
líquido e além dos produtos tradicionais oferece uma séria de oportunidade lá
fora. Nossa cadeia de insumos é internacionalizada. Saber inglês era e continua
sendo cada vez mais essencial. Espanhol, um bom diferencial (infelizmente no
Brasil espanhol ainda é diferencial). Nas duas línguas eu já tinha algum
domínio quando entrei na graduação. Resolvi que deveria estudar uma nova
língua, que pudesse, além de satisfazer minha curiosidade intelectual, me dar
alguma utilidade na vida profissional.
Á época, fiz algumas pesquisas sobre
mercados internacionais para produtos do agronegócio brasileiro. Constatei que
a China crescia ano a ano em importância. Resolvi fazer outra avaliação: quais
eram os grandes importadores do agronegócio brasileiro e que línguas davam
algum diferencial no diálogo com esses parceiros. Cheguei à conclusão que
inglês era essencial, espanhol era importante. Ademais: francês, alemão, russo,
chinês, árabe, japonês poderiam ter utilidade. Todavia, para francês, alemão e
japonês já havia (e há!) um número não desprezível de falantes no Brasil
enquanto que para chinês, árabe e russo a escassez era muito grande.
Apostei no mandarim (outro nome para
chinês padrão). Mas as primeiras tentativas foram infrutíferas. Havia poucos
métodos disponíveis. Não havia escola em Piracicaba. O ensino via internet
engatinhava. Tentei aprender com uma família chinesa que tinha muito boa
vontade, mas sem um bom método, pois não eram professores. Mais tarde, já
morando em Brasília, me matriculei no Instituto Confúcio (o equivalente chinês
do Cervantes, da Cultura Inglesa e da Aliança Francesa) na UnB e pude ter um
rápido aprendizado. Passado um tempo, tirei um breve sabático para estudar na
China, em Pequim, e pude aperfeiçoar as habilidades e viajar pelo interior.
Aprender um idioma nos leva a compreender todo o contexto cultural que faz toda
a diferença para lidar com costumes e hábitos diferentes.
Acredito que a aposta tenha sido acertada.
No meu trabalho, lido bastante com relações com a China. São grandes
compradores do nosso agronegócio. São grande investidores no nosso agronegócio.
Se por outro lado eu tivesse apostado em árabe ou russo, também não teriam sido
más escolhas. Aproveitando um pouco dessa experiência, sinto que já posso
compartilhar algumas sugestões com os jovens que estão no auge do seu
aprendizado:
1) Não
deixe a escola atrapalhar seu aprendizado - sim, a gloriosa é fantástica e os
professores excelentes. Mas ali não está todo conhecimento. Para alguns
conhecimentos o professor abre a porta e você corre para aprender, para outros,
você busca aprender de outras fontes;
2) Saiba
falar inglês - o que não faltam são métodos, aplicativos e livros disponíveis.
Existem formas compartilhadas como os clubes poliglotas. Seja honesto consigo:
mesmo com pouco dinheiro, para melhorar seu inglês o maior investimento que
você precisa é ter a firmeza de alocar seu tempo em aprender a língua que lhe
permite se mover pelo mundo;
3) Saiba
como trabalhar em grupo - não importa o que você fará na sua vida pessoal e
profissional, os grupos são a única certeza. Se não tiver habilidades sociais,
invista em estágios em grupo, em leitura de livros sobre psicologia social e em
atividades como teatro e dança. E se não tiver paciência, faça antes meditação,
tai chi chuan ou Ioga, mas trabalhe em grupo depois;
4) Saiba
ler e interpretar números - com o avanço da automação e da Inteligência
Artificial, muito da produção de dados da análise será automatizada. Como ler e
interpretar esses dados disponíveis é um desafio. A tal ciência dos dados
começa na aula de estatística. Aproveite-a bem. Faça optativas na área de
dados. O professor Adriano da Estatística Econômica e da Avaliação de Risco foi
um grande mentor, assim como o professor Caixeta. Se você souber bem Excel, R e
uma linguagem como Python ou Java sua capacidade de usar os dados melhora. Mas
antes aprenda a entender os dados e as grandezas. Se tá difícil, comece no
Kumon.
5) Se
puder, faça um intercâmbio - sair de casa é o primeiro passo para o
crescimento. Se tiver a oportunidade de fazer um semestre no exterior,
aproveite. É um conhecimento que abre portas para muitos outros conhecimentos.
O mundo é muito maior do que a gente imagina antes de sair de casa. E o mundo
também é muito diferente de nossos hábitos. Mesmo que você nunca trabalhe
depois com alguma área internacional, ter vivido outra cultura permitirá a você
entender a diferença entre as pessoas mesmo dentro do seu país. Se grana for
pouca, fique de olho nas eventuais bolsas que podem aparecer.
6) Tenha
um diferencial. Sugiro que você aprenda Mandarim - Chinês só vai crescer. Se
apostar em árabe, vai ter bom uso também. Talvez, russo. Mas chinês é a melhor
aposta depois que você já está falando mais ou menos bem o inglês. Chinês hoje
você pode aprender comprando métodos via Amazon, usando o aplicativo Busuu,
entre tantos outros, tem curso no site da BBC, tem o curso online da Professora
Chen XiaoFen entre tantos outros. Tem curso em MOOC gratuito como Coursera e
nos outros todos. Tem Instituto Confúcio em várias unidades da UNESP, tem
Instituto Confúcio na FAAP. O Instituto Confucio da UNESP tem inclusive um
curso on-line.
Em suma, o período em que se estuda na
Esalq é rico e tem muitos propósitos. Além disso, o principal é a vida entre os
colegas e toda essa interação que a gloriosa proporciona. Essa experiência é
rica e cria laços para a vida toda. As festas costumavam ser boas e acredito
que se mantenha essa boa tradição. Porém, não perca a oportunidade de
também aprender. Aprenda a aprender. E aprenda. Aprenda na aula e aprenda fora
da aula. Aprenda a ter prazer no aprendizado. Aprenda a descobrir. Aprenda a
ter curiosidade e aprenda a saciar a curiosidade. A vida fica muito mais rica.
Sucesso aos jovens.