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JOÃO CORUJA (Pinduca F68)
30/01/2016 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
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amlodipin sandoz 5 mg avonotakaronetwork.co.nzJOÃO CORUJA
O apelido era
óbvio : baixinho e com olhos arregalados, só podia ser coruja. O João Coruja
era outro fronteiriço, brasileiro com muito de paraguaio, já com seus quarenta
e poucos anos. Durante anos, como muitos outros funcionários da fazenda,
trabalhara como braçal nas turmas de conservação da então Estrada de Ferro
Noroeste do Brasil, ramal de Ponta Porã. A possibilidade de vir a trabalhar na
fazenda havia sido um salto profissional para uma carreira ascendente : braçal,
aprendiz de tratorista e finalmente tratorista, mas a sua meta era tirar
carteira de motorista, para sair do regime do Funrural e passar a ter o direito
ao FGTS e outras regalias.
Era limitado,
pela formação e pela idade. Não seria nunca um chefe ou encarregado, mas progredira
bastante : sabia plantar e até colher, mas com baixo rendimento. Geralmente era
colocado para colher num talhão à parte, para não atrapalhar os outros
operadores mais rápidos. Mas tinha suas virtudes : nunca faltava e suas
máquinas raramente davam problema, tal o cuidado com que as operava. Seu sonho
era conseguir uma casa na vila em construção na fazenda, pois ainda morava com
sua família no acampamento dos paraguaios, acima da represa. Acampamento é um
eufemismo, era favela mesmo. Seu problema era vir sempre fora de hora pedir uma
condução para levar o filho, frequentemente doente, à cidade.
O Administrador
acordou com batidas suaves na sua janela, dia escuro, ainda. Esperou mais um
pouco e as batidas se repetiram. Levantou e olhou pelas frestas da veneziana,
para ver o João Coruja no lusco fusco da madrugada. Lá vem bucha de novo,
pensou o Administrador, enquanto calçava os chinelos para ir até a porta,
irritado com mais uma intromissão do João Coruja em seu sono.
- O que foi
desta vez, João? Quer condução para a cidade de novo?
- Não,
Doutor, me desculpe a hora, mas é que eu caminhei a noite inteira da cidade até
aqui. Eu precisava de um vale.
- Vale, a
esta hora??
- É, Doutor.
É para fazer o enterro do meu filhinho, que morreu ontem à noite no hospital.
Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro