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Interusp, 1993 (Alma; F97)

14/06/2020 - Por fernando de mesquita sampaio
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Em 1264 o Papa Urbano IV instituiu a comemoração de Corpus Christi para celebrar a eucaristia, e definiu que esta celebração seria na quinta feira após o Domingo da Santíssima Trindade, o domingo após o Domingo de Pentecostes, que ocorre 50 dias depois da Páscoa.


Mas para os bárbaros da TOBALQ, a Torcida Organizada Baixaria Luiz de Queiroz nada disso interessa, afinal o feriadão é festa no INTERUSP meu amigo!!!


Meu Interusp inesquecível foi logo o primeiro. Eu, duro e liso, sem lenço e sem documento, 17 anos, ainda meio careca meio cabelo estragado, subi no bumba da Tobalq com um colchão velho e uma mochila na madrugada de quinta rumo a São José do Rio Pardo, pacata cidade interiorana, historicamente grande produtora de café, ali pertinho da fronteira de Minas Gerais.


Não sei por que resolvi contar essa história, porque na verdade não lembro de grandes coisas devido à pingaiada do começo ao fim.  Mas lembro que o ônibus chegou no meio de um jogo de rugby da ESALQ contra a Poli. Foi ali, vendo o poeirão subindo e a porrada comendo solta que eu decidi que um dia jogaria aquele magnífico esporte para defender o A Encarnado.


Naqueles tempos eu era tão mirrado que precisaria de mais dois anos na dieta de colesterol da Lesma Lerda para conseguir jogar no time. Naquele Interusp, só me selecionaram para jogar xadrez.


"Vem cá bixo, você é inteligente, sabe jogar xadrez?"


"Sei, mas eu odeio xadrez". Infelizmente é verdade, considero que xadrez precisa de um certo tipo de inteligência específico que eu definitivamente não tenho. Um minuto esperando o outro cara mexer uma peça e eu estou com os pensamentos em Timbuktu.


"Dane-se, você tá convocado, acha um colega acadêmico pra ir junto porque não tem ninguém pra ir e precisa de dois."


"Pluto, vamos comigo". E lá fomos eu e meu colega acadêmico Pluto carregando um garrafão de vinho barato e cantando hino do agricolão para uma sensacional disputa de xadrez contra um nerd paulistano qualquer. Perdi o mais rápido que pude para voltar para a torcida.


Enquanto isso, rodava o boato que o time da ESALQ de Pólo Aquático tinha pulado pelado na piscina.


Vagas memórias de briga na arquibancada, nós tentando roubar alguma coisa da Medicina de Pinheiros. Musiquinhas clássicas tipo: Tancredo doente não teve opção, foi parar na Pinheiros morreu de infecção, Pinheiros, Pinheiros, escola de demente, PNC da escola que matou o Presidente.... Ou eu sou v*ado, eu sou da Poli, meu c* é de ferro, meu *into é mole... É Med, é med, é med Ribeirão, escola de *uta, v*ado e sapatão.  Fora os elogios às torcidas e jogadores e jogadoras adversários.


Sinceramente acho que hoje em dia estaríamos todos presos.


Um estudante de medicina escreveria depois "Acordei umas 11h e fui pro jogo de basquete, contra a ESALQ! A torcida deles .. AUHA são muito chatos.. mas são engraçados até!"


Lembro do Dr. Gells xavecando as mocinhas que passavam com cantadas do tipo "você é muito da bonita, jeitosa, mas garanto que ocê num sabe carneá um porco".


Lembro do Ktu e do Xicretinho, os bebuns mor da Tobalq circulando sem rumo e fazendo xixi nos cantos.


A noite, invasão do alojamento da Farmácia. E eis que na madugada, entra um jegue em nosso alojamento, conduzido pelo próprio Ktu. O jegue caga na cama do Jilet.

E a inefável musiquinha "pode dormir, pode descansar, nós não queremos seu sono atrapalhar".


E a bela cidade de Rio Pardo? A praça Euclides da Cunha. A rua Euclides da Cunha. A Ponte Euclides da Cunha. A casa onde Euclides da Cunha foi corneado.


Bixo, sem dinheiro, eu filava a cerveja dos doutores, ou tomava pinga do garrafão, para esquentar a friagem lazarenta que fazia. O que salvou a minha vida foi a quermesse aos pés do Cristo Redentor da cidade, onde eu e o Dr. Rebentão descobrimos uma maravilhosa sopa de cebola gratinada por um preço de Campanha da Fraternidade.


Rio Pardo virou uma praça de guerra. Além das brigas entre as escolas, os nativos também resolveram brigar com os universitários. Lembro de um passando mostrando o revolver de dentro do carro para nossa turma na calçada. O Big Ben que era ali das redondezas nos orientou no contato com os nativos.


E para completar a zona toda, naquele sábado de feriado, 12 de junho, teríamos a grande final do Campeonato Paulista de 1993, entre Corinthians e Palmeiras. Então além das brigas das faculdades, das brigas com os nativos, juntamos também as brigas de torcidas.


No primeiro jogo, Viola marcou um golaço para o Corinthians, e comemorou imitando porco. No jogo de 12 de junho, havia 104 mil pessoas no Morumbi. E nós em Rio Pardo na praça. Ânimos acirradíssimos. E eis que os porco metem um chocolate de 4x0 no Corinthians depois de 17 anos sem títulos. Nós corinthianos, Lepra na liderança, nos juntamos para beber as mágoas.


Domingão de ressaca pura, W.O. no banho, toca o buzão de volta a Pira amada.


Sobrevivi, com a benção do Cristo Redentor de Rio Pardo. Dividi o pão e o vinho com os amigos, no melhor espírio eucarístico.


E nunca mais perdi um Interusp.


 

Fernando Sampaio (Alma F97), é Engenheiro Agrônomo e Ex Morador da República Lesma Lerda

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