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Flashes de Pira 1966 a 1970 (Drepo F70)

12/02/2016 - Por eduardo pires castanho filho
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Sem nenhuma ordem cronológica mais rigorosa, alguns repentes de lembrança vêm à mente.

São coriscos do passado que, no entanto podem despertar em quem os viveu o encadeamento tão saboroso da recordação.

·         Março de 1966: Início do curso de Agronomia. O bicho, sem lugar para morar, hospedou-se na casa de um professor, amigo de longa data da família. Vestido à moda do trote: careca, calça sem cinto, sapato sem cordão, sem caderno e sem condução, no primeiro dia de aula, resolveu desafiar o senso comum e foi de carona com o professor pra escola. Estava "protegido" já que o mestre era também esalqueano. Na volta levou trote na república que havia embaixo do prédio no qual o professor morava. Era na Rua Boa Morte e foi aí que ganhou o apelido. Morou pelo menos dois meses nesse apartamento e várias vezes privou de almoços na casa do dono de um jornal da cidade, sogro do professor. Eram refeições refinadas e num ambiente acolhedor e intelectualizado, muito diferente do clima de alguns trotes da época.

·         Havia um jornalzinho que circulava pela escola, de publicação absolutamente irregular, chamado O POJ - pugnador, objetivo e justiceiro. Era ferino em suas críticas ao corpo docente e às figuras da cidade. Ironizava tudo que era possível e tinha um viés bastante politizado. Utilizava muito a charge e o cartoon e tinha uma equipe de redação bastante ativa. Havia sempre um responsável informal e dependia demais da inspiração da equipe e dele próprio, além de eventual sobra de grana para ser editado e continuado.

·         Foi feita no CALQ, em 69 ou 70, uma revista chamada DAS CAUSAS DAS COISAS. Era uma publicação com um "corte" pretensiosamente científico. O número inaugural e único estampava em sua capa amarela um grande artigo sobre o café solúvel, que na época estava começando a ser fabricado no País. Perguntava-se por que o Brasil não agregava valor ao seu principal produto de exportação. Até hoje a pergunta não foi respondida, passados quase meio século!

·         Na passeata dos bichos 67, Drepão a Catarina que tinham começado o Tiro de Guerra acabaram "enturmando" com o bicho Camarão e, pra variar, terminaram dentro do chafariz da Praça, o que era tolerado até certo ponto. A Guarda Noturna- GN acabou intervindo e a fuga do trio se revelou meio atrapalhada terminando mais ou menos em frente ao CALQ. A JUSTA, como era chamada a GN queria leva-los em cana, todos eles molhados até os ossos.  Acontece que na sequência dois dos valentes tinham que estar do TG 36 e enfrentar o sargento Reginald. No final, atendendo aos apelos da dupla, o chefe da ronda resolveu liberar os dois récos e o calouro sob a promessa de que jamais voltariam a repetir aqueles atos. Bons tempos das armas civis!

·         No final de 70 foi visitar a República Pau Doce um cidadão italiano da cidade de Udine trazido por um colega morador, que tem raízes na bota. A estadia do elemento trouxe um contato cultural extremamente rico, dada a facilidade com que o estrangeiro se incorporou e foi incorporado à vida republicana. Recebeu de cara o apelido de "finocchio de Udine", que seria uma forma regional de dizer "bichona" (ô época politicamente incorreta!).

"-te voglia una chopp?"era assim que começavam as tardes com o indivíduo, que como estava de férias não tinha compromisso com horários. No entanto, sempre havia um voluntário para acompanha-lo, o qual, por seu turno, era recompensado com aulas de italiano. Gostava de cozinhar e deixou algumas receitas para a Dª Sebastiana: confecção de massas frescas, rosto al sal, carne de erbe aromatico. Apaixonou- se por uma agricolona que ele chamava de biondina, mas, suas férias findaram antes de ele cometer uma loucura maior.

·         Um assunto que perdurou por tempos foi a perda do dedo do Descarga que se engalfinhara com uma anta, que o atacou em um parque. Houve quem quisesse minimizar o incidente dizendo que havia sido uma ariranha numa renhida luta num tanque. De qualquer modo foi um lídimo representante da fauna brasilis que lhe levou um dedo.

·         Nas inúmeras festas na beira do rio, repúblicas e arredores- comemorações de final de ano letivo, churrascadas, cantorias havia um personagem bem sui generis: era um nativo que levantava mesa com os dentes; fazia demonstrações nos bares e nas repúblicas e parece que queria se profissionalizar no ramo. Seria Madruga o nome do astro?

·         E as festas da vereadora Ditinha Penezzi? Normalmente acabavam dando uma baixaria no final, mas, como ela era líder, ou coisa que o valha, da oposição piracicabana, oposição era conosco e não custava prestigiar as efemérides!

·         O prato da madrugada era sopa de cebola. Numa das vezes, caiu pimenta do reino em excesso na panela tendo que ser substituída por canja, que já estava pronta. Quem não tinha cão caçava com gato!

·         Houve um desfile de modas no CALQ. Ninguém se lembra de como isso aconteceu. Nem se foi mesmo no CALQ. De qualquer forma foi abrilhantado pelo conjunto de música da Engenharia de São Carlos (o Calquinteto deles). Foi produtivo ajudar nos bastidores, acompanhando as trocas de roupas e descolando umas colaboradoras nativas depois.

·         Nos vários embates da política estudantil entre 68 e 70, dos quais o CALQ foi palco, a figura do Valter Politano ficou marcada. Ele era o irascível secretário do CALQ, objeto de rusgas com a esquerda de então. O auge dos atritos se deu com uma "invasão" do auditório por uma moto durante uma assembleia, que causou um tumulto sem precedentes. Politano quase enfartou.

·         Uma das "viradas" da formatura foi "realizada" num boteco na lateral do hotel Beira Rio, no início da descida para a Rua do Porto, quase em frente à casa do Povoador. Começou, como quem não quer nada, na hora do almoço. Foi chegando gente, chegando gente, gente indo embora, chegando mais gente. Duas mesas de cascos de garrafa se formaram, encostadas na parede. Gente saiu, foi pra casa tomar banho e voltou para continuar. Deve ter sido a semente da ideia da virada cultural em São Paulo.


Eduardo Pires Castanho Filho (Drepo F70) Engenheiro Agrônomo, Ex morador da Republica do Pau Doce

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