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Esverdeando a pecuária brasileira (Xinai F11)
29/02/2016 - Por willian jun kimuraAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Como essa atividade, que é vista por muitos como "vilã" nas questões ambientais, pode ajudar o Brasil a cumprir as metas de redução de Gases de Efeitos Estufa (GEE) e, ainda, aliviar o bolso do produtor brasileiro?
Não é preciso navegar muito pela internet para saber que o
sistema produtivo da pecuária brasileira, em geral, está longe do ideal: emissões
de GEE, pastagens degradadas, desmatamentos relacionados à atividade, baixas produtividades
(taxa de lotação) e por aí vai.
Das dificuldades às oportunidades.
Em 2012, a agropecuária foi responsável pela maior parte das
nossas emissões, representando 37% do total de 1,2 bilhão de tCO2e.
Neste mesmo ano, a fermentação entérica, maior parte produzida pela pecuária,
representou mais da metade desse valor[1].
No entanto, com o compromisso de reduzir as emissões em 43% até 2030 (COP 21)[2], o cenário tende a mudar. O governo pretende fortalecer o Plano Agricultura de Baixo Carbono (ABC) e recuperar mais 15 milhões de hectares de pastagem até 2030, além dos outros 15 já firmados no início do Plano. Toda essa recuperação pode levar a uma redução de mais de 200 milhões de tCO2e[3].
Um trabalho recém-publicado[4]
mostra que, com uma política forte de desmatamento, um aumento na demanda de
carne em 30% pode reduzir as emissões relacionadas à produção pecuária em 10%,
devido principalmente à recuperação da pastagem - prática escolhida pelo
produtor para maximizar seu retorno econômico, nessa condição.
Além disso, a recuperação de pastagem possibilita o aumento na
taxa de lotação e um maior retorno ao produtor. Estudos[5][6]
mostram um custo marginal de abatimento (quanto custa para mitigar 1 tCO2e
através de uma medida de mitigação) entre -1,47 e -28,68 R$/tCO2e.
Ou seja, a cada uma tonelada de GEE mitigado pela recuperação
de pastagem, o produtor teria um resultado financeiro de R$ 1,47 a R$ 28,68 (valores
em reais de 2015)[7] a
mais do que se continuasse com uma pecuária em pastagem degradada. Isso sem
contabilizar uma possível comercialização de créditos de carbono (hoje podendo
chegar a USD 4,75/ tCO2e no mercado voluntário[8]).
Então por que cortar o braço se é o dedo que está machucado?
Para as preocupações da pecuária, aparentemente, o fortalecimento de políticas
de combate ao desmatamento e incentivos à recuperação da pastagem se mostram
mais efetivos que retirar a carne do menu
das segundas-feiras[9].
P.S.: Politicamente, não adianta todo esse esforço se nosso
inventário ainda considera que todo pasto é igual.[10]
Nota: As informações e opiniões expressas neste blog são de
responsabilidade única do autor.
Willian Kimura (Xinai F 2011) Engenheiro Agrônomo com MBA em
Agronegócio. Pesquisador em Agroicone. Ex-Morador da República Pinga Pura.
[2]
http://www4.unfccc.int/submissions/INDC/Published%20Documents/Brazil/1/BRAZIL%20iNDC%20english%20FINAL.pdf
[6] Kimura, W.J. (2015).
Custo marginal de abatimento de emissões de gases de efeito estufa na
recuperação da pastagem via Programa ABC.
Monografia (MBA em Agronegócios) - ESALQ/USP - Piracicaba. (Solicitar o
trabalho via e-mail: willian@agroicone.com.br)