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Desperdício zero (Vavá; F66)
25/01/2019 - Por evaristo marzabal nevesAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Desperdício
zero
Evaristo Marzabal Neves (Vavá – F-66)
Num janeiro, em Ribeirão Preto, de mãos dadas com
minha neta Bia (na época com 6,5 anos, hoje com 18, neste inicio de 2019) numa
caminhada pelo condomínio, deparamos com dois pés de goiaba, em larga produção
e o chão carregado de frutas. Nisto, vem ao solo uma goiaba. Recolho e começo a
saboreá-la. Minha neta surpresa olha para mim e diz: - Vô, você não está vendo
que ela tem um furo preto, com bichinho? Respondi: -- Não tem importância, não
comerei o lado do bichinho.
O que me dói é ver, em diversos locais, a grande
quantidade de frutas apodrecendo no chão. Isto me traz a lembrança dois fatos
marcantes de minha infância em Lins, minha terra natal. À mesa de refeição,
ainda bem criança, meu pai dizia para mim e para minha irmã: - Filhos coloquem
no prato o que agüentam comer. Sabem por quê? Porque existem pessoas passando e
morrendo de fome no mundo que poderiam ser alimentadas com as sobras de seus
pratos, e, segundo, é duro ver o suor de meu trabalho diário sendo desperdiçado
sem mais nem menos. Aprendi para toda a vida.
O segundo fato me reporta a minha avó Catarina. Em
minha infância passada em Lins não via a hora de passar alguns dias de férias
em Promissão, cidade bem próxima à minha terra natal com meus avós Evaristo e
Catarina. Fins dos anos 40 e inicio dos 50. Quem é do interior se lembra dos
quintais enormes das casas onde floresciam e frutificavam as mais diferentes
frutíferas (pés francos onde frutificavam goiabas, mangas, araçás, laranjas,
limões, até jacas, etc.). Pois bem, reportando à goiabeira no quintal, sempre
ouvia da vó Catarina: - Se for apanhar alguma, pegue as maduras e não as verdes
ainda, pois não aguentará dar a primeira mordida já que está dura ainda e
jogará fora (nem os pássaros aproveitarão). Pegando, então, uma madura e vendo
a marca do bicho da goiaba e relutando em comer, ela dizia: - Não liga não,
coma a goiaba sem reparar no bicho, pois é da própria goiaba e faz bem. Não tem
veneno, é proteína pura (não sei de que livro arrancou esta afirmativa; talvez
o da vida. E pensar que ela tinha razão, pois as frutas orgânicas têm preço de
mercado e são bastante valorizadas). Reforçando: aprendi a viver respeitando os
alimentos e não os desperdiçando.
Voltando ao diálogo com minha neta tentei explicar o
valor das goiabas no chão. Veja bem: em diversos locais e mesmo em ruas, uma
semente ou muda é lançada ao chão e vinga, rompe o solo e vem vigorosa mesmo
sem receber adubo, tratamento químico ou água. Fica vulnerável e indefesa ao
ataque de pragas e de fungos, mas resiste à seca, sorri quando chove, suspira
alegre, absorve o sol, a luz e o oxigênio, cresce e passado poucos anos
floresce e frutifica oferecendo de graça seus frutos. Quanto tempo gastou para
frutificar? E nós, insensíveis, simplesmente ignoramos todo o seu sacrifício
para viver e oferecer seus frutos a quem nada fez por ela. Quanto desprezo ao
verificar quantas goiabas jogadas ao chão e ninguém recolhendo para fazer doce,
compota ou suco.
É dolorido ver os lixos residenciais e constatar o desperdício.
É mais dolorido ainda ver a falta de respeito ao ambiente misturando plástico,
garrafas, latas, pilhas e resíduos orgânicos num saco só. Onde se esconde os
princípios mínimos de educação ambiental?
Quanto custa fazer reciclagem e ajudar o mundo a ser
menos poluído? Afinal, quanto custa ser cidadão brasileiro?
Como professor (transferindo esta atitude aos alunos) e cidadão vou fazendo a minha parte e, dentro do possível, carregando a bandeira do “desperdício zero”. Por sua vez, espero ainda que a Bia e geração aprendam rapidamente em casa e em sua escola o que é educação ambiental e higienização de seu intimo para que possa viver num mundo melhor.
Que cada
professor possa dizer em sã consciência: como educador e cidadão, vou fazendo a
minha parte.