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Descompasso (Aza-Brank)

13/07/2015 - Por gustavo togeiro de alckmin
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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"Todo homem deve escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho".

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Em 1948, Carlos Marighella cumpriu parcialmente com este preceito: prolificamente teve um filho em  Maio e, em Junho, escreveu algumas poucas páginas que intitulou "Alguns Aspectos da Renda da Terra no Brasil". Mesmo que nunca tenha plantado um pé de alface em sua vida, se dispôs a escrever um ensaio sobre renda e a questão fundiária no território brasileiro. No seu ensaio, Carlos maldiz a indústria algodoeira, desanca a cafeicultura e credita à indústria canavieira a especialização da exploração capitalista no meio rural (ainda que os primeiros engenhos tenham se instalado séculos antes do nascimento de Marx). Marighella afirma no parágrafo inicial:

"O fundamento geral da questão agrária no Brasil reside em que o monopólio da terra é a causa do nosso atraso. Abalado ou eliminado esse monopólio, as forças produtivas darão um salto para a frente."

Em minha opinião, um bestialógico difícil de digerir e que, para espanto universal da racionalidade, segue como estandarte da reforma agrária brasileira. Não é de se espantar, afinal a politicagem brasileira segue versando patacoadas e tungando o cidadão; nada melhor do que travestir ideias e intenções próprias em alguma ideologia da qual não se conhece nem as notas de rodapé.  

Cita à Lênin, Marx, Leontiev e outros que aqui nunca puseram os pés e que a História não registra que tenham algum dia plantado ou saudado a mandioca. Cita aí a corveia, feudalismo, capitalismo, "outros ismos" e o verborrágico corolário (uma chatice só).

Analisado filosoficamente as raízes destes problemas, sua solução é pouco filosófica (o resto de sua vida irá corroborar sua solução): ir pro pau e, como déspota-esclarecido ou herói toti-potente, resolveria a situação do campo no braço e na bala.  

Não é minha intenção, ilustrar a vida de Carlos Marighella. Aos que se interessam pelo assunto nada melhor do que ouvir seus discursos em rádio e suas obras posteriores ("Minimanual da Guerrilha Urbana", "Algumas questões sobre a guerrilha no Brasil" e a "Crise Brasileira"), aonde com suas próprias palavras conclama a luta armada, as ações terroristas de Esquerda e a destituição da ditadura militar pela ditadura do proletariado (suas próprias palavras).  

Convenientemente, não há qualquer menção ao Holodomor, genocídio ocorrido na Ucrânia (famosa por seu Chernossolo) aonde Stalin se apropriou da produção agrícola a fim de alimentar o Exército Vermelho, causando a morte por inanição de 7,5 a 12,5 milhões de ucranianos. Casos de fratricídio e subsequente canibalismo são documentados.

Como resquício dessa leitura anacrônica da realidade rural brasileira temos o beligerante MST e a ineficiente reforma agrária que, ainda hoje, se dedica maiormente a distribuir terras.

Acho que não é necessário ilustrar o fato que o MST é uma organização avessa à democracia. É inconcebível e injustificável que a destruição de pesquisa científica ou invasão de propriedade privada possam ser considerados comportamentos democráticos e beneméritos. É, contudo, coerente com a vida e obra de Marighella e discípulos.

No entanto, me parece muito mais injustificável que o Estado brasileiro observe fielmente tal catecismo e que continue a combater moinhos-de-vento. Em contraposição, como apontam muitos e entre eles Xico Graziano, o novo gargalo é a ausência de tecnologia no arranjo produtivo da "agricultura familiar".

Ausência de tecnologia é um eufemismo: falta tudo. Estradas, escolas, hospital, aconselhamento técnico, crédito e lista segue longamente... Comparem a qualidade de vida de um produtor rural americano, europeu, australiano - nossos competidores - à nossa.

Só um Estado em completa dissintonia com a realidade; um pouco à la Maria-Antonieta ("Se o povo não tem pão, que coma brioches!")  ou tirânico como Joseph Stalin (Holodomor) poderá ignorar o fato de que , via-de-regra, a decisão racional é escolher o (sub) emprego em ambiente urbano ao rural. Afinal, o cabo da enxada, o sol escaldante de segunda-a-segunda-feira, o próximo hospital à léguas de distância e ausência de saneamento básico são extremamente não-atraentes.  

O Estado (dos quais não se pode esperar grande coisa) é notoriamente míope: depois do desastre que foi o êxodo-rural durante o século XX, as linhas do Pronaf continuam a se limitar ao agricultor familiar já instalado, aqueles à que Marighella se referia como sobreviventes do sistema de corveia. É hora de perceber que esta (discutível) interpretação da realidade se alterou completamente. Os netos desta classe se encontram hoje majoritariamente nas periferias das grandes cidades.

É uma aberração que 10% da população brasileira se concentre na região metropolitana da cidade de São Paulo. O custo desta falta de visão de longo-prazo é gigantesca - como resultado, vivemos hoje a crise da água e transporte.  

Desafortunadamente, tal miopia afeta também os demais representantes do nosso setor.

A crise demográfica rural está diante dos nossos olhos: quem vai trabalhar a terra daqui 20 anos? Os velhos de 70/80 anos? A média-etária do produtor rural brasileiro em 2001 era de 51 anos e em 2015, segundo a FIESP/OCB, em 71% das propriedades os filhos não participam do dia-a-dia da propriedade.

Quem produz, conhece as dificuldades de se encontrar mão-de-obra.

Soluções existem.

É tão difícil perceber que o PRONAF deve ser estendido afim de promover o movimento inverso ao êxodo rural? Em outras palavras, instalar novos agricultores do meio-urbano para o rural.

Por que não incluir como possíveis assentados os recém-formados em ciências agrárias? Notem que preço da terra hoje - momento em que o Mercado favorece a demanda por áreas agrícolas - não reflete o preço da terra daqui 20 anos. Ter produtores jovens hoje significa que daqui 20 anos, o Mercado Imobiliário Rural continuará aquecido.  Na França, cooperativas financiam terras e rebanho à jovens produtores de leite a fim de garantir a perpetuidade da cooperativa e manter o preço das terras. Somam-se ainda a programas de formação de produtores rurais, notadamente o 4-H e o Future Farmers of America, os quais deveriam estar presentes aqui também.

Concomitantemente, ao redor do mundo inteiro, há uma tendência - impulsionada pelo framework da sustentabilidade - de uma nova classe de jovens de origem urbana que querem voltar ao meio rural. Aqui existe o mesmo; porém é impossível financeiramente dar início à uma unidade de produção, exceto que o futuro agricultor faça uso do correntão e moto-serra para abrir terras em regiões de fronteiras. O contrassenso é que o Estado gasta horrores para coibir tal ação; ou seja, melhor seria estimular a tecnificação de terras já abertas e impor um valor de ITR altíssimo às novas fronteiras e propriedades não produtivas (como bem pregava Roberto Campos).

É infeliz que a atual autoridade máxima da agricultura brasileira, conhecida por sua afinidade de longa-data com a motosserra e recente amizade com políticos de pseudo-esquerda, não comparta da mesma opinião. Afinal, segundo reportagem do Canal Rural, sua proposta de reforma agrária é extremamente não habitual.

De maneira diametralmente oposta à Marighella, MST e ao atual governo, ao invés de resolver no braço ou na bala, creio ser melhor dar uma chance ao planejamento. 

Gustavo Togeiro de Alckmin (Aza Brank - F10) Eng. Agrônomo e ex morador da Republica Mocó-K 

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