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De Carona com o Rally da Safra 2018 (Hulq; F99)

29/03/2018 - Por marco lorenzzo cunali ripoli
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Em 27/03/2018 tive a oportunidade de participar da reunião de apresentação dos resultados do 15º Rally da Safra 2018, conduzido pelo time de profissionais da Agroconsult sob a liderança de André Pessoa, que ocorreu no salão nobre da sede da FIESP, em São Paulo.

Em números a "operação" composta por 12 equipes de profissionais distribuídas em 10 carros oficiais que percorreram mais de 100.000 km de estradas, visitando mais de 3.000 produtores rurais e coletando mais de 1.500 amostras de campo. Ao todo foram 12 estados visitados (MT, MS, GO, MG, MA, PI, TO, BA, RS, SC, PR e SP), 500 municípios em 70 dias de viagem. Durante o programa foram realizados 35 cafés com produtores e 10 eventos regionais.

De forma geral foram destacados os seguintes pontos: 1) O clima não foi perfeito - em algumas regiões o plantio atrasou, em outras a chuva irregular durante o desenvolvimento - e no Extremo Sul a seca foi severa; 2) Mesmo assim, houve novo recorde - tanto de produção quanto de produtividade, e 3) A atenção agora se volta para o milho de 2a. Safra, pois o clima tem favorecido o desenvovlvimento das lavouras, cuja produtividade também pode surpreender. (Obs.: Também foram apresentados relatórios individualizados por estado)

É estimada uma produtividade de soja para a atual safra de 56,5 sacos/ha, valor este pouco superior a safra passada de 56,3 sacos/ha. Notou-se o aumento da transgenia da Soja no Brasil passando de 7% convencional, 53% Intacta e 40% RR em 2016/17 para 8% convencional, 62% Intacta e 30% RR em 2017/18. Isso reflete cada vez mais que investir em tecnologia é sinônimo de redução de custos e aumento de produtividade.

A área de grãos deve aumentar este ano em 500.000 ha em relação à safra passada, porém mesmo com este cenário positivo de crescimento, a empresa realizadora do Rally da Safra estima uma redução do volume produzido de 241 milhões de toneladas de grãos (2016/17) para 232 milhões de toneladas em 2017/18, principalmente devido à redução advinda das safras de milho no Brasil.

A consultoria agrupou em quatro quadrantes as principais constatações do programa, sendo eles: Tecnologia, Modelos de Gestão, Mercado e Infraestrutura.

Tecnologia

Quanto ao Sistema de Produção notou-se a melhoria no manejo da palhada e do solo, maior e melhor uso da Agricultura de Precisão, incremento da adoção de iLPF e aumento da segunda safra de grãos. No campo da Genética, cada vez mais players no mercado, com ampla oferta de variedades (transgênicos e soja precoce). Em insumos uma maior profissionalização do mercado de sementes, amadurecimento de um sistema de royalties de tecnologias e crescimento do mercado de agroquímicos (a participação dos defensivos aumentou expressivamente em comparação ao primeiro Rally realizado em 2004). As máquinas e implementos agrícolas ganharam mais eficiência, mais potência e inteligência (tecnologia embarcada). As redes de serviços (consultoria, meteorologia, Agricultura de Precisão, colheita e pulverização da área) cada vez mais bem representadas por profissionais gabaritados e comprometidos com o emprego de suas funções buscando auxiliar os produtores rurais na correta condução da operação durante o ciclo produtivo das culturas.

Modelo de Negócios

O crescimento da produção agrícola se dá sob os pilares de aumento de escala e eficiência. O financiamento se mostrou provido de uma mudança nas fontes de recursos, operações de barter, com produtores mais capitalizados e novos título do agronegócio. Na gestão, a profissionalização administrativa e financeira das produtores rurais é notável. Novos sistemas informatizados de gestão estão dia-a-dia sendo lançados para melhor operacionalizar a vida no campo. Gestão de RH, gestão de custos, pools de compra, compliance socioambiental, sucessão, "pejotação" e holding familiar são temas cada vez mais corriqueiros.

Mercado

Na formação de preços o Brasil passa de tomador para formador, devido ao seu peso no mercado mundial... os prêmios pagos são positivos. O share de produção do Brasil em relação ao mundo passa de 27% (2003/04) para 35% (2017/18) e share de exportação passa de 37% para 48%, respectivamente. A entrada de múltiplos parceiros comerciais, novos players na originação e maior concorrência no mercado de crédito melhora o cenário econômico dos grãos no país e no mundo. O acesso a informação está cada vez mais capilarizados no campo e nas novas fronteiras de expansão (42% dos produtores já têm acesso à internet, 77% já utilizam pelo menos um tipo de rede social).

Infraestrutura

A malha rodoviária está melhorando (PPPs caipiras, pavimentação e duplicação de rodovias e estradas vicinais) o que ajudará o escoamento da super produção e redução futuras de custos de produção. A estrutura logística recebe a abertura e ampliação de portos do Arco-Norte, ampliação e melhorias nos portos do Sul, maior participação de ferrovias, Hidrovia do tapajós e uso de silo-bolsa como alternativa de armazenamento (mudando inclusive a forma de fazer negócios com as traders). Em 2004 foram exportadas 7 milhões de toneladas de soja e milho... em 2017 este valor chegou a 98 milhões de toneladas (32 milhões pelo Arco-Norte e 66 pelo Sudeste e Sul). A comunicação e dados já conta com maior cobertura de rede de celular e a rede de banda larga/fibra ótica está em franca expansão. As cidades do agro (que muitas vezes nasceram por advento das novas fronteiras agrícolas) já dispõem melhor infraestrutura de serviços, melhor atração de mão-de-obra, qualidade de vida (IDH), indústria e comércio.

COMO SERÃO OS PRÓXIMOS 15 ANOS?

Tecnologia - Digitalização (Agricultura 4.0), uso de biológicos e hormônios, edição gênica, 3a. Safra e novos produtos e serviços.

Modelo de Negócios - Agregação de valor, alongamento dos contratos, tomada de decisão com inteligência artificial, valorização da terra e mais gestão.

Mercado - Biocombustíveis e industrialização da energia, serviços ambientais, mercados de carbono, desintermediação e fim do crédito rural.

Infraestrutura - Logística com concorrência, redução do déficit de armazenagem e conectividade plena do campo.

Vamos acelerar o Agro!

* Marco Lorenzzo Cunali Ripoli é Ph.D., engenheiro agrônomo e mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ-USP e doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, executivo, disruptor, empreendedor dono da Energia da Terra e Bioenergy Consultoria, inovador e mentor.

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