Esta semana discutia e me aconselhava com um amigo que é MBA por Columbia, esalqueano, já foi CEO de várias empresas, e é na minha opinião uma mente brilhante.
Nossa discussão era sobre o custo operacional de um equipamento e a opção de terceirização do mesmo na operação - O próprio tinha a contabilização do custo através de cálculos onde custo de capital e depreciação real entravam, e outro (terceirização) se tornaria uma despesa direta, um custo caixa.
Em um ponto da discussão ele comentou - "Separe os dois custos e não os misture, o custo contábil do equipamento próprio, que não necessariamente mostra o custo total de possuir e operar o equipamento, pode ser quase qualquer número (dentro do razoável), pois a alocação de capital já foi feita, e tomou o espaço de algum outro investimento, ou liquidez - além do que vai empurrar você a produzir, mesmo que você não queira - A falta de liquidez pode ainda, em conjunto com a decisão de plantio forçado em épocas ruins, levar a empresa a quebrar por ter trocado liquidez por um imobilizado depreciável.
O custo terceirizado é variável e é modulado de acordo com o seu uso, portanto dificilmente comparável com o custo imobilizado/contábil - o terceirizado mesmo mais caro comparativamente, é estrategicamente mais vantajoso, pois não aloca bom capital em um ativo não estratégico, e te dá flexibilidade - Por essa razão muitos produtores agrícolas não sobrevivem - focam na desenfreada imobilização em equipamentos, acabam com a capacidade de modulação e principalmente com a liquidez, e são forçados a produzir, mesmo em chamados anos ou condições ruins"
"Essa condição de obrigação de cultivo pelo imobilizado, mais a crença de "quem tem terra tem que produzir", leva o produtor a tomadas de decisões pela ponta estratégica errada - "tenho equipamentos e terra, portanto tenho que produzir", e não por outro angulo "tenho capital e vou decidir o que produzir".
A adoção de uma quantidade grande de terceirizados (especializados) em produção é largamente utilizada em vários países, um deles a Argentina - onde existem equipes especializadas nos mais variados pontos da cadeia de mecanização agrícola. Porém a expansão geográfica desse país foi reduzida a muito tempo (desde o século retrasado) e a demanda por CVs/capacidade adicionais é marginal, o parque que existe supre a necessidade, tem ociosidade e tem fácil mobilidade local.
No Brasil ainda vivemos uma expansão geográfica e produzimos em rincões onde o acesso é difícil, se não dizer impossível (toda produção Argentina se dá em um raio de 350km da capital), faz a demanda por CVs adicionais sempre existente e crescente, porém a mobilidade deles ainda é muito restrita.
Mas temos feito progresso nessa área, a colheita por exemplo é uma atividade largamente terceirizada e amplamente aceita hoje em dia - nos padrões Brasileiros de aceitação. Muitos conhecidos meus tem substituído quase em sua totalidade a colheita própria em favor da terceirização, desmobilizando capital, trazendo gente especializada, muito mais bem treinada, e acaba desmobilizando recursos humanos pouco utilizados na propriedade.
Porém a terceirização não é só um mar racional econômico, existem riscos, vários. Qualidade do trabalho, risco do abandono, da quebra do operador, de se inchar o custo de operação pela incapacidade de alavancagem econômica adequada do terceirizado (juros baratos na aquisição de novos equipamentos).
O equipamento próprio também tem seus riscos, como exemplos: acabar utilizando excessivamente só porque se tem ele, se tornar um tomador de decisões no café da manhã - abandonando de vez um bom e regular planejamento (meu pai operava dessa forma, só ele decidida de manhã cedo o que seria feito, todas as manhã). Excesso de imobilização em equipamentos, terminar com equipamentos velhos ou tecnologicamente desatualizados (Cotton pickers), incapacidade de manutenção, comprar um equipamento limão (temos um pulverizador que nunca funcionou direito, mas essa vale outra história), dentre outras várias armadilhas.
Uma boa terceirização deve trazer em conjunto uma equipe altamente qualificada, com custo mais eficiente que a própria operação - e a soma desses dois ajudar na boa e econômica execução da atividade - em algumas áreas estamos a passos largos, como a colheita, em outras nem tanto.
A capacidade de modulação do modelo de produção agrícola é um tema difícil, espinhoso e inexplorado, no país - pouco se discute - e pouco se entende, creio ser um ponto interessantissimo de observação e maior análise.