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Como pensa o CEO de uma das mais conceituadas empresas de café do mundo.
27/07/2017 - Por antonio bliska júniorAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
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Illycafé, sinônimo de café de qualidade.
Em rápida conversa com o sr. Andrea Illy, durante o último Congressso Mundial de Café realizado na China em 2016, solicitamos uma entrevista àquele que hoje dirige a empresa que leva uma das marcas mais tradicionais de café comercializadas globalmente. Duas questões ficaram sem respostas. A primeira, sobre onde plantaria café se tivesse que produzi-lo. A segunda, a respeito de seus concorrentes, preferindo concentrar as respostas na empresa que dirige. Em seguida, um breve histórico da empresa e a entrevista propriamente dita.
A Illycaffè é uma empresa familiar italiana, fundada em Trieste em 1933. Produz uma exclusiva mistura Illy, 100% Arábica, composta por nove dos melhores arábicas do mundo. É servida em mais de 7 milhões de xícaras, em mais de 140 países, nos melhores cafés, restaurantes e hotéis. É líder na ciência e tecnologia do café - com inovações radicais como o café expresso. Tudo 'made in Illy' é reforçado pela beleza & arte, que representam valores dos fundadores da marca, a partir de seu logotipo - desenvolvido por um artista, James Rosenquist - e inclui a ilustre Illy coleção de arte, composta por mais de 100 copos desenhados por artistas internacionais. Em 2015, a empresa empregava 1.177 pessoas e registou receitas consolidadas de ? 437 milhões. Cerca de 230 lojas Illy se distribuem por 43 países.
Andrea Illy é presidente da empresa desde quando sucedeu ao seu pai, Ernesto Illy, em 2005.Trabalha com obsessão pela qualidade, com valores éticos nas relações que tem forjado com empresários rurais, comerciantes e o mundo da arte contemporânea. Sob a liderança de Andrea Illy e sua preocupação com sustentabilidade, a Illycaffè se tornou em 2011 a primeira empresa do mundo a obter a certificação do Processo Responsável de Cadeia de Fornecimento da DNV GL (certificadora mundial de qualidade nos processos de gestão empresarial) e, desde 2013, foi nomeada uma das Companhias Mais Éticas do Mundo pelo Ethisphere Institute. Andrea serviu como Mentor do Fórum Econômico Mundial de 2013 e ainda é um participante ativo do mesmo. Vencedor do Prêmio Empresário do Ano em 2004, é Presidente Honorário da Associação para a Ciência e Informação sobre o Café (ASIC) e desde 2013 Presidente da Fundação Altagamma, que reúne as Empresas Culturais e Criativas Italianas de Alto Nível, reconhecidas globalmente como autênticas embaixadoras do estilo italiano.
ABJ - Quando e como a Illy iniciou sua atuação no Brasil?
No Brasil - que ainda no começo dos anos noventa estava produzindo café em grandes quantidades, mas de baixa qualidade - começou em 1991 um mecanismo de incentivo que levou o grão brasileiro a uma qualidade muito superior, reconhecida e apreciada a nível global. Este mecanismo é o Premio Ernesto Illy para Qualidade do Café para Espresso: todos os anos a Illycaffè premia os produtores que tiveram a colheita de melhor qualidade. Graças a este prêmio, algumas regiões do país - como o Cerrado e a Zona da Mata (Nota do Editor: hoje rebatizada de Matas de Minas) - fizeram um nome no cenário da qualidade do café.
ABJ - A Illy planta café em algum local no mundo? Nunca pensou em produzir café? Por quê?
A missão da empresa é oferecer o melhor café para o mundo. O café é uma planta e não pode conceder a mesma qualidade a cada ano. Por esta razão, precisamos comprar o melhor café onde ele está disponível. Selecionamos os melhores produtores qualificados para cultivá-lo de forma sustentável.
ABJ - A Illy mantém fornecedores, empresários rurais cafeicultores, como clientes regulares? Ou a cada ano eles mudam? Caso um produtor deseje ser fornecedor da empresa, que passos devem ser seguidos?
A abordagem exclusiva e única da Illycaffè para a sustentabilidade está assentada em três pilares principais: seleção e relações diretas de trabalho com os melhores produtores de café Arábica; transferência de know-how e treinamento para a produção de qualidade, respeitando sempre o meio ambiente; remuneração pela qualidade produzida, e a promessa de lhes proporcionar um lucro de qualquer forma, para assim tornar a sua produção sustentável. Esta visão remonta há muito tempo: de fato, desde os anos 80. Não, noventa. A Illycaffè sempre comprou 100% de suas matérias-primas diretamente dos produtores, sem intermediários e fora do mercado internacional de commodities. A cadeia de suprimentos da Illycaffè é, portanto, exclusiva, baseada apenas em propriedades e padrões qualitativos excelentes, a ponto de serem considerados fora do mercado e os produtores brasileiros - como uma piada - dizerem que "não existem". A qualidade do Illy café começa com suas matérias-primas. Para garantir sua consistência, a empresa vem comprando seu café diretamente da fonte há mais de vinte anos. A empresa desenvolve relações de trabalho de longo prazo com os melhores cafeicultores do mundo, porque a Illy acredita que apenas uma relação mútua baseada no intercâmbio e no crescimento pode garantir a qualidade e, como resultado, agregar valor ao produto. Cada segundo, vinte mil grãos Illy são selecionados contra dez diferentes critérios de qualidade, em parte através de um sistema de classificação eletrônica. A Illycaffè gere toda a sua cadeia de abastecimento com a sustentabilidade em mente. A abordagem da empresa lhe conferiu a certificação de Processo de Cadeia de Fornecimento Responsável da DNV GL Business Assurance, um dos principais órgãos de certificação do mundo. Qualquer produtor que queira tornar-se um fornecedor Illy deve enviar a amostra do seu melhor café Arábica, feito de forma sustentável (não aceitamos produtores que não são sustentáveis de um ponto de vista social e ambiental), à empresa em ordem para ser provado.
ABJ - Como é atuação da Illy no campo, junto aos empresários rurais, nos diversos países, em termos de apoio à produção?
A empresa trabalha junto ao produtor, principalmente através da Università del Caffè, um centro de excelência com o objetivo de promover, apoiar e divulgar a cultura do café de alta qualidade em todo o mundo através da educação. O programa educacional da Università del Caffè é concebido para oferecer a todos os profissionais da indústria cafeeira, desde agricultores a profissionais de hospitalidade aos consumidores, a chance de crescer. Tendo aberto vinte e cinco ramos da Università del Caffè em praticamente todos os continentes do mundo com professores especializados não apenas em termos de conhecimentos técnicos e de ensino, mas também para atender às necessidades locais específicas. Os cursos aos empresários rurais, cafeicultores, têm o objetivo de compartilhar, mesmo no local, as melhores técnicas agronômicas a serem aplicadas nessa área específica de produção. Nos países produtores, a Illycaffè promove técnicas agronômicas de baixo impacto ambiental, que envolvem a adoção de processos e métodos consistentes com a proteção do meio ambiente e a segurança alimentar, utilizando também a menor quantidade de substâncias ativas (agroquímicos).
ABJ - A Illy fortaleceu sua atuação no Brasil com a criação do Prêmio Brasil, a parceria com a USP, etc. Quantos técnicos a empresa mantém no Brasil atuando junto aos empresários rurais?
Nós temos seis agrônomos trabalhando no país.
ABJ - E no total, quantos agrônomos trabalham na Illy, em outros países?
São 15 agrônomos e técnicos com diferentes especialidades: genética, pós-colheita, moagem, embalagem e sustentabilidade.
ABJ - Que critérios a Illy utiliza para definir suas compras de café no Brasil?
Usamos os mesmos critérios em todos os lugares. Analisamos a qualidade organoléptica de cada amostra das matérias-primas. A seleção visual dos grãos é então feita para avaliar o grau de maturação, um teste olfativo é feito friccionando os grãos em uma lixa de araeia, e, por último, o teste mais importante: a degustação. A amostra é torrada e moída, então é preparada de três maneiras diferentes: expresso, infusão e de diluição. A degustação é realizada por especialistas.
ABJ - Uma vez adquirido o café, que cuidados a Illy toma para preservar sua qualidade até entregá-lo ao consumidor, na xícara?
Há 80 anos, a Illy tem sido liderada pela paixão e pela busca da qualidade, a ponto de que essas características aparecem em todos os aspectos do seu trabalho, desde o grão de café até a xícara de café. Desde 1935, por exemplo, a Illy inventou e introduziu suas latas pressurizadas, que permitem preservar mais de mil componentes aromáticos de café Illy, para manter o aroma, dar "redondeza", doçura, e aumentar a intensidade ao paladar por muito tempo. Para ter certeza absoluta de que apenas os melhores cafés entram na mistura Illy, seus laboratórios de pesquisa estudaram todas as suas características sob diversos pontos de vista (química, biologia e tecnologia), em um departamento de Pesquisa e Inovação reconhecido mundialmente entre centros de excelência. Para evitar que mesmo um grão possa alterar o sabor de sua mistura, a empresa verifica-os um por um, através de um sistema de seleção eletrônica que pode processar 20 mil grãos por segundo.
Além disso, cada lote de produto está sujeito a 125 verificações e a 8 degustações sensoriais também.
ABJ - Quanto do café comercializado pela Illy é comprado no Brasil?
Aproximadamente 50%.
ABJ - Qual a expectativa da Illy em relação ao crescimento do consumo de café como bebida mundialmente?
O consumo está aumentando e espera-se que continue crescendo. Uma taxa de 2% ao ano exigirá dobrar a produção de café até 2050.
ABJ - O mercado de cafés especiais tem crescido em todo o mundo (commodity versus gourmet). Até aonde esse crescimento pode chegar nos próximos 10 anos? E quanto no Brasil?
Acredito que o café gourmet (estou me referindo às preparações à base de expresso) crescerá. De acordo com uma pesquisa da Associação Nacional do Café, vimos que entre 2008 e 2016, o consumo de bebidas gourmet de café no período passado aumentou de 13% para 36% entre 18-24 anos de idade e de 19% para 41% para aqueles entre 25 a 39 anos. Apenas para bebidas à base de expresso, o salto passa a ser de 9% a 22% para o grupo de 18 a 24 anos e de 8% a 29% para os de 25 a 39 anos. Hoje o café segue o mesmo caminho que o vinho fez há 20 anos. As pessoas estão mais interessadas em saber tudo sobre o café - do grão à xícara - e em reconhecer sua qualidade. Além disso, elas querem saber como o café proporciona satisfação em todos os aspectos e acrescenta valores à vida e ao sustento de todas as pessoas envolvidas
ABJ - Recentemente o sr. Andrea esteve na China, aonde a empresa já atua há vários anos. Como está o crescimento do mercado chinês e quais são as perspectivas futuras desse mercado? O mercado asiático, como um todo, deverá acompanhar o mercado chinês?
As vendas de varejo de café continuam crescendo na China, tanto em volume (em média 6%) quanto em valor (+ 3%), um número crescente de consumidores consumindo café. Estou esperando um crescimento lento e constante do consumo, tanto na China quanto na Ásia. A cultura do café expresso em um país fortemente ligado à tradição do chá é um verdadeiro desafio. No entanto, o rápido crescimento econômico do país combinado com o aumento da renda disponível per capita inverteu a tendência: mesmo com 80% do consumo de café ainda baseados em café solúvel, as pessoas começaram a procurar café de melhor qualidade, bem como um melhor estilo de vida. Nos últimos dez anos, o consumo de café na China aumentou 15% e a tendência está crescendo: nas áreas rurais, o consumo per capita é de 5 ou 6 xícaras de café por ano, mas sobe para 20 xícaras em cidades como Xangai, Pequim E Guangzhou. Quantias significativas, para uma população de 1,4 bilhões de pessoas.
ABJ - O consumidor de café é muito tradicional ou ele é receptivo a novos sabores? Como a Illy monitora as tendências de mercado na ponta de consumo, "na xícara"?
De acordo com uma pesquisa recente feita pela Associação Nacional do Café, os Millennials estão mudando o mundo do café - realizando uma compra de cada vez. (Nota do editor: Millenials são os as pessoas nascidas na década de 80/90, não há uma data exata definida, e que se tornaram consumidores a partir da virada do milênio). Desde as mais recentes técnicas de preparação até os próprios grãos, a nova geração de amantes do café não está satisfeita com a bebida tradicional, consumida pelos seus pais. O consumo diário de bebidas à base de café expresso quase triplicou desde 2008. Os Millennials mais velhos, hoje entre 25 a 39 anos de idade, são o grupo mais provável de apreciar bebidas expresso, cappuccino, mocha, café gourmet e bebidas frias - de acordo com dados NCDT.
ABJ - Como a Illy vê e tem atuado nas questões da sucessão familiar e da continuidade e sustentabilidade do seu negócio de café?
A família assinou um acordo, uma constituição corporativa real estabelecendo regras e pilares para participar do negócio familiar. Este documento, revisto a cada 10 anos, cuida da sucessão da empresa, bem como da forma de fazer negócios.
ABJ - A Illy sempre atuou próxima à comunidade científica mundial através da ASIC (Associação para Ciência e Informação Sobre o Café) e da Universidade do Café. Como a empresa vê o papel da iniciativa privada no desenvolvimento da cafeicultura mundial?
As empresas privadas são importantes para o desenvolvimento do setor cafeeiro, bem como para a cooperação a um nível pré-competitivo. A Illycaffè lançou um grande projeto de pesquisa com a ajuda de outros parceiros para seqüenciar o genoma de Coffea arabica. Este projeto único abriu caminho para futuros desenvolvimentos científicos e do agronegócio, envolvendo todos os países produtores e consumidores de café e com ramificações econômicas para toda a cadeia de suprimentos. A investigação italiana foi realizada em colaboração com as Universidades de Pádua e Trieste eu Istituto di Genomica Applicata em Udine e Lavazza e foi coordenada por um spin-off da Universidade de Trieste. O projeto de seqüenciamento do genoma Arábica significou que, pela primeira vez para essa espécie de café, responsável por 70% da produção mundial de café, a estrutura genética poderia ser decodificada, permitindo que os resultados fossem organizados sistematicamente e, portanto, disponibilizados para potencialidades agronômicas e aplicações industriais. A sequenciação do genoma do Arábica implicará que as práticas agrícolas podem ser significativamente melhoradas e, de forma mais geral, que a produtividade dos cafeeiros pode ser aumentada. Por exemplo, será possível assegurar que os frutos amadureçam ao mesmo tempo, identificar os genes que tornam as plantas mais resistentes às doenças e infecções e adaptar os cultivos a ambientes desfavoráveis.
ABJ - Quanto a Illy investe anualmente em pesquisas científicas sobre café em termos de valores?
Esse é um dado confidencial da empresa.
ABJ - Uma das preocupações das pessoas que atuam na cadeia do café é com as mudanças climáticas e sua influência no comportamento dos cafezais e na qualidade dos grãos. Como a Illy está se preparando para enfrentar essas questões?
A mudança climática é a ameaça mais séria que enfrenta a produção agrícola e o setor cafeeiro; Estima-se que a terra adequada ao plantio será reduzida à metade em meados do século.
Várias organizações já estão abordando o tema café e as mudanças climáticas. No entanto, a concorrência entre eles pode minar a capacidade de atingir a massa crítica necessária e a implantação de uma abordagem holística. É por isso que estou trabalhando em um projeto, chamado Global Arabica Plan em uma abordagem multi-stakeholder, envolvendo instituições de países consumidores e em crescimento. A finalidade do possível Plano Global Arábica (GAP) seria organizar três atividades críticas que possam acelerar o processo: captação de recursos, transferência de conhecimento e coordenação.
ABJ - Além do café utilizado nas cafeterias Illy, a empresa fornece café para outras redes de cafeteria ao redor do mundo?
O café Illy é servido em mais de 7 milhões de xícaras em mais de 140 países nos melhores cafés, restaurantes e hotéis. É servido também nas principais cadeias de hotéis como o Marriott, nas companhias de cruzeiros como Costa Crociere e nas companhias aéreas como a United Airlines.
ABJ - Com um mercado de consumidores ávidos por evoluções no mundo todo, quais as ações que a Illy está preparando para o futuro e que possa nos contar?
A Illycaffè opera num mercado dinâmico e em constante evolução que nos últimos anos se caracterizou por uma forte consolidação internacional. Neste contexto, a visão e o planejamento estratégico de processos, investimentos e linhas de desenvolvimento são vitais para manter nossa capacidade competitiva e atingir nossos objetivos de longo prazo. Nossa orientação estratégica para o crescimento do negócio da Illycaffè é alavancada pela experiência acumulada ao longo de mais de oitenta anos nos negócios, ao mesmo tempo em que cumpre plenamente os princípios éticos e a sustentabilidade a longo prazo. Através de uma crescente internacionalização e investimentos em inovação. A Illycaffè trabalha para consolidar sua liderança no segmento de café premium a nível internacional.Em particular, a Illycaffè baseia seu crescimento em três caminhos principais:
Ao aumentar a sua quota de mercado no setor de hotelaria de primeira classe a nível mundial, através do desenvolvimento da sua combinação de produtos e serviços, e alavancando uma combinação de qualidade, inovação e serviço. Ao alargar os produtos a todas as oportunidades de consumo - em particular no próprio país - através de sistemas de preparação de uma única porção.
Concentrando-se em ofertas de consumidor premium através de pontos de venda de marca única e nosso e-shop.
ABJ - Para finalizar, quantos cafés o Sr. bebe ao longo do dia?
Três expressos ao dia.
Antonio Bliska Júnior
Pesquisador da Feagri-Unicamp bliskajr@feagri.unicmp.br