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Centro de Formação de Cidadãos (CFC)

23/07/2018 - Por paulo moraes ozaki
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Recentemente eu pude participar em Piracicaba do encontro anual da República Coração de Mãe, na qual vivi durante meu período de graduação na ESALQ. A nossa "casa", denominação recorrente mesmo após sairmos dela, este ano completou 40 anos de sua fundação, e "madrecardíacos" espalhados pelo mundo inteiro estiveram lá naquele sábado, de corpo presente ou não.

A tradição da república esalqueana difere das repúblicas estudantis espalhadas pelo Brasil, uma vez que, na maioria das vezes, os alunos se juntam mais com o objetivo de diluir custos durante o período escolar do que necessariamente perpetuar a instituição. E o motivo deste fenômeno, no meu ponto de vista, é simples: manter uma INSTITUIÇÃO dá trabalho... E MUITO!

Em um artigo muito ilustrativo publicado na edição nº 8 da revista Plant Project, cujo título é "De república a nação", o autor Romualdo Venâncio explica em detalhes como é o funcionamento de uma república tradicional e como o trabalho dos moradores funciona. Não vou me ater aos detalhes, até porque você pode ler este artigo no site da Plant Project, mas basicamente, para "manter a casa", todos os anos é preciso que novos ingressantes sejam efetivados, e para que isso aconteça todos os moradores precisam fazer um esforço de guerra para atrair os "bixos", uma vez que a competição é acirrada. Pra se ter uma ideia, somente em Piracicaba existem mais de 70 repúblicas, que ano a ano lutam pela perenidade, dentro de um contexto totalmente diferente de 40 anos atrás.

E é neste ponto que as repúblicas esalqueanas são diferentes, porque fora os interesses pessoais dos estudantes (o principal deles é se formar, claro), eles lutam também pelos interesses em comum de outros que passaram pela mesma república há 20, 30 e 40 anos atrás. Algumas regras são necessárias e precisam ser respeitadas, tais como: arrecadar dinheiro dos moradores, gerir estes recursos (que são escassos), pagar a empregada, fazer compras, dar de comer pra 15 pessoas simultaneamente, estudar, "correr atrás de bixo", controlar os ânimos, lidar com perdas - suas e dos irmãos de república -, ajudar o amigo que está em apuros, ir pro estágio, fazer prova... Meu amigo... Se isso tudo não for bem orquestrado, tudo pode ir por água abaixo, tal como uma empresa que, sem resultados, é obrigada a fechar as portas.

Como muitos sabem, no ano passado eu criei o primeiro podcast do Brasil que aborda assuntos relacionados ao agronegócio e, através dele, esta semana, eu liberei um episódio em homenagem à república, que me acolheu em um dos momentos mais difíceis da minha vida, me ensinando a respeitar as pessoas e suas histórias, além de me ensinar a colocar meu ponto de vista no momento apropriado.

Neste episódio eu conversei com pessoas que fundaram a república lá em 1978 e com "moleques" de 18 anos, que foram efetivados em 2018, e você pode escutar tudo clicando aqui. Quando perguntei pra cada um deles, como foi/é morar em república, era esperado que muitos deles dissessem que era divertido e que as festas eram geniais, mas não. Todos eles disseram, de uma forma ou de outra, que a máxima de que a República é uma Escola da Vida é verdade, e que mais do que um período passageiro por Piracicaba, a república foi um divisor de águas na vida de cada um e que, até nos dias de hoje, ensinamentos lá adquiridos, ainda são base para o desenvolvimento profissional de cada um, ou seja, a República é um autêntico CFC - CENTRO DE FORMAÇÃO DE CIDADÃOS.

 

*Paulo Moraes Ozaki é Engenheiro Agrônomo pela ESALQ-USP e Gestor Técnico do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Além disso é fundador do primeiro Podcast do agronegócio brasileiro, o Agro Resenha Podcast.

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