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Causos do Dr Mauá - "Projeto Rondon e os Esalqueanos Tiradentes"
04/11/2015 - Por orlando lisboa de almeidaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

xanax and weed side effects
xanax weed erowid linkPROJETO RONDON E OS ESALQUEANOS TIRADENTES
Era lá pelo ano de 1975 e estava em
vigência o Projeto Rondon, criado no Governo Militar. Várias Universidades públicas tinham os
Campi Avançados em lugares remotos do Brasil, geralmente com muita
pobreza. Em época de férias, eram
requisitados voluntários para fazer alguma ação comunitária dentro de sua
respectiva área de formação. Era
comum os Campi Avançados terem como logística, instalações militares, que já
tinham a estrutura para as tropas e ficava prático receber universitários da
área de saúde, ciências agrárias e afins para os trabalhos comunitários.
Foi com uma dose de sede de aventura que
da nossa turma eu (Mauá), o Oto Spalding e o Rinaldo Calheiros encaramos uma
missão especial do Projeto Rondon. Não
era num campus avançado, mas no interior da cidade litorânea de
Itanhaém-SP. Lá ficamos sabendo que
dentre os objetivos da nossa atuação, estava a divulgação de uma campanha de
vacinação na região.
Partimos para Itanhaém e ficamos alojados
na Colônia de Férias da Polícia Militar
no Distrito de Suarão, pertencente a Itanhaém. Lá nos juntamos com os demais acadêmicos de
medicina, biomédicas, dentistas, pedagogia e educação física, que me lembro.
Na área de biomédicas era o Godofredo
Ranzani, filho do professor Guido
Ranzani, da Esalq.
No interior de Itanhaém, conhecemos uma
realidade muito, mas muito diferente da orla marítima, onde tudo é consumo,
passeio e banhos de mar. No interior,
para começar, não havia estradas porque a região é uma planície
encharcada. Muitos bananais entre
córregos mil. Bananais enormes, de
grandes fazendeiros, sendo que grande parte da produção era para exportação
para a Argentina. As carretas
frigorificadas iam cheias de banana e voltavam lotadas de maçã. A pulverização era feita com aviões dos
fazendeiros.
Os empregados das fazendas viviam uma
condição muito ruim de moradia, saneamento e tudo o mais. Tinha até o armazém da fazenda, coisa já
considerada do passado distante.
As moradias eram tão pobres, que
em muitas a gente fazia a visita conversando pela janela e divulgando a
vacinação. O da medicina viu muito
caso de escabiose e ia repassando orientação profilática sobre o assunto. Num dos casos, presenciamos ele falando
que era para a dona de casa ferver a roupa ao lavar e trocar todo dia e coisa e
tal. Ela, na sua condição de miséria
disse: Quando eu tiver uma vasilha que
dê para botar as roupas para ferver, eu fervo...
Nossas visitas eram de barco até chegar às
colônias de casas. Fizemos isso por
vários dias e também os dentistas tiveram bastante trabalho para extrair restos
de dentes que ficavam na boca das pessoas só para inflamar e doer. Lá a solução era a extração e para isso os
colegas estavam preparados. Eram dois
acadêmicos de odonto da Faculdade de Bragança Paulista. Duas figuras díspares: Ela, uma japonesinha miúda, toda vestida de
branco, com aparato completo, luvas, mordaça, óculos de proteção e tudo o
mais. Ele, um dentista malacabado de
jeans, camiseta de algodão suada e muita força no braço para extrair dentes. Aliás, naquelas circunstâncias, acho que
ele foi até mais efetivo... Era mais
dente extraído por hora de trabalho.
À noite, era uma festa e violeiro não
faltava, pois tinha o Oto e o Rinaldo Calheiros que, por sinal, tem nome de
artista. Muita festa em plena praia.
O dentista malacabado, com uma fila de gente
para extrair dente, confiou no Oto para ir “bambeando” uns dentes e ele vinha,
num trabalho em série, arrancando... O
Oto com toda a sua experiência de hora e meia de dentista acabou uma vez
bambeando o dente errado, mas foi acidental... Estava bem intencionado e ficou por isso
mesmo. Logo o organismo reagiria, a
gengiva cicatrizava e o dente ia ficar firme como palanque de aroeira de
novo.
O nosso barqueiro anfitrião, militar da reserva, conhecedor daquele povo e sua pobreza já tinha atuado pela defesa civil em muitas enchentes por lá e até nos perguntou, fora a família, o que nós achávamos de mais precioso que eles pediam para salvar. Cada um deu seu palpite, avaliando quais os bens aos quais eles mais se apegariam. Todos erramos. O que mais o pessoal atingido pelas enchentes pediam para salvar além da família, era o cachorro de estimação. Alto valor subjetivo.
O Rio Conceição de Itanhaém que nasce no pé da Serra do Mar e desce lento até o mar, por ser de planície, tem uma peculiaridade, além de sua água quase preta por causa do excesso de matéria orgânica do mangue. Sendo rio de planície, sem queda, quando é cedo e a maré está baixa, ele desce até o mar e quando à tarde a maré sobe, ele “corre ao contrário” pressionado pela maré alta.
Outro detalhe curioso do local e da época, é que nos bananais havia trilhos e pequenos trens de uso local, para transporte da banana até os batelões que escoavam a produção via fluvial. Como o local é alagadiço e tem muito sal, os metais corroem demais e os que seriam trilhos do trenzinho, ao invés de serem de aço, eram de pura aroeira. Algo raro.
Para finalizar nossa missão, foi preparada
uma tarde de lazer, coordenada pelas colegas das áreas de Educação Física e Pedagogia. Fomos ao comércio, arrecadamos brinquedos
de monte e avisamos a turma da tarde de lazer. Isto foi na cidade, porque não dava para
fazer nas fazendas. Veio criança de tudo que foi lado. Brincamos muito com a criançada e nessas
horas a gente vira criança também. As
crianças ficavam às pencas penduradas em nossas mãos e queriam saber quando a
gente iria voltar. Ficamos muito
comovidos e teve gente que não resistiu segurar as lágrimas da emoção.
Tínhamos participado de mais uma missão do
Projeto Rondon cujo propósito era fazer com que os acadêmicos entrassem em
contato com a realidade do País e conhecessem um pouco mais nossa Pátria e
nossa gente. E que alguns se
encorajassem e fossem interiorizar sua vida profissional, dando mais plenitude
ao juramento da formatura.
Orlando Lisboa de Almeida (Mauá ou
Camarão F-76) Engenheiro Agrônomo, Fez carreira no Banco do Brasil onde
se aposentou, hoje é conselheiro suplente da câmara de agronomia do CREA do PR,
conselheiro consultivo do Sindicato dos Engenheiros do PR - Nativo de coração,
frequentava a Republica Kpinzar
Mauá é nosso colunista do Blog e tem
seus "Causos" publicados toda Sexta Feira para você começar bem seu
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