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Carta Boi - Boi gordo em 2019: nem R$130,00/@, nem R$220,00/@

11/02/2019 - Por alcides de moura torres junior
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Foto: Scot Consultori


A expectativa de redução dos abates de fêmeas, associada a um consumo doméstico melhor e bom desempenho para exportações, traz um cenário promissor para os preços do boi gordo em 2019.

 

Obviamente, nesta visão positiva são três as premissas:

 

· SE realmente for o primeiro ano de retenção de fêmeas;

 

As próprias expectativas positivas, no cenário geral, alimentam esta variável.

 

O cenário de valorizações no segundo semestre de 2018, com preços firmes para bovinos terminados e reposição corroboram com isso.

 

· SE o consumo doméstico melhorar;

 

Em 2018 tivemos o melhor saldo de empregos desde 2013. O saldo de 2018 foi de 530 mil vagas, após três anos de queda (CAGED). Entre dezembro de 2017 e dezembro de 2018, o único setor com queda no estoque de empregos foi a administração pública, redução esta que não é propriamente ruim.

 

A dúvida ainda paira sobre a intensidade da reforma da previdência, que vai afetar investimentos, geração de emprego e consumo.

 

· SE efetivamente a demanda internacional for boa;

 

Aqui as variáveis são ainda mais capciosas. A economia brasileira em recuperação, associada ao “shutdown” (paralisação) do governo americano, tende a gerar apreciação do real, frente ao dólar. Se este movimento ocorrer de maneira intensa, vai diminuir a atratividade da carne bovina brasileira no mercado externo.

 

Por outro lado, uma apreciação do real tende a vir acompanhada de uma melhoria da situação econômica doméstica, ajudando no item anterior (consumo doméstico), que abocanha 80% da demanda.

 

Se 2019 for o primeiro ano de retenção de fêmeas, teremos menos oferta de carne. Com isto, se o mercado internacional estiver ávido, a concorrência com o mercado doméstico ficará mais acirrada. Ou seja, mesmo que o volume não cresça, ou aumente pouco, as exportações devem ajudar na precificação da carne e, por consequência, do boi gordo.

 

Dito isto, fica fácil concluir que o produtor deve estar atento ao mercado, mas o que realmente está em suas mãos é a produtividade, com diluição de custos e aumento da produção.

 

“Tentar acertar na mosca” os preços do boi gordo tem como única utilidade devolver a humildade de quem “tem certeza” sobre o que vai acontecer no mercado de tempos em tempos. Serve para quebrar a bola de cristal de quem acredita tê-la.

 

Com as cartas na mesa, fizemos algumas simulações, da sazonalidade observada em anos de retenção e de abates de fêmeas.

 

Cenários para o boi gordo

 

O preâmbulo foi para ponderar as incertezas que pairam e gerar parcimônia na análise dos dados a seguir. Para não ficar em cima do muro, acreditamos que o cenário provável seja o do primeiro parágrafo: demanda doméstica e externa melhor, retenção de fêmeas e preços positivos.

 

Com base nas variações do boi gordo nos últimos 21 anos, em relação a janeiro de cada um deles, foram feitas projeções com base na sazonalidade observada em anos de retenção de fêmeas e anos de descarte.

 

A figura 1 mostra como se comportariam os preços do boi gordo, se acompanhassem as variações médias de anos de retenção de fêmeas, em anos de descarte e o que o mercado futuro apontava no começo de fevereiro. Para janeiro usamos a média do mercado físico em São Paulo, em R$/@, à vista.

 

Figura 1.
Projeção dos preços do boi gordo (R$/@), com base nas variações médias de anos de retenção, descarte de fêmeas, e projeções do mercado futuro.

Fonte: B3/ IBGE/ Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

 

De acordo com a média de anos de retenção, frente a janeiro, teríamos em maio algo em torno de R$153,84/@, à vista, livre de Funrural. Na movimentação média dos anos de descarte, este valor seria de R$143,32/@. O mercado futuro no começo de fevereiro apontava para R$150,15/@, nas mesmas condições.

 

Para outubro, a projeção considerando o movimento de anos de descarte seria de R$154,49/@, à vista, e de R$170,61/@, considerando a média dos anos de retenção. O mercado futuro para maio está mais equilibrado entre as duas projeções, mas o de outubro tem precificado valores próximos aos que observamos em anos de descarte.

 

Como os valores já ilustram movimentos importantes, fizemos outra simulação, neste caso para demonstrar as maiores altas de anos de retenção e as maiores quedas em anos de descarte, sempre tomando janeiro como base. Isso para mostrar que, embora as variações médias anteriores sejam relevantes, valores bem superiores já ocorreram.

 

Figura 2.
Projeção dos preços do boi gordo, com base nas oscilações máximas de anos de retenção, mínimas de anos de descarte de fêmeas, e projeções do mercado futuro.

Fonte: B3/ IBGE/ Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br 

 

Para outubro, se o mercado acompanhasse a maior alta, teríamos R$195,65/@, ou, no pior cenário de preços dos últimos 21 anos, R$139,31/@. 

 

Em novembro, se a variação ocorresse como foi a de 2010, teríamos algo em torno de R$221,01/@ (alta de 46,8% frente a janeiro).

 

Os máximos e mínimos projetados não são expectativas para 2019, mas ilustram como os movimentos da figura 1 seriam até razoáveis, frente ao que já ocorreu no mercado.

 

Considerações finais

 

Como resumo da ópera, temos uma expectativa positiva para os preços do boi gordo, pelos fatores citados na primeira seção desta análise.

 

De toda forma, as incertezas existem, tanto do lado da oferta, como da demanda.

 

O cenário mais provável é de um primeiro ano de retenção de fêmeas, o que tende a gerar cotações mais positivas, possivelmente com uma safra menos pressionada. O mercado futuro tem precificado uma alta relativamente tímida, se o cenário realmente for o desenhado.

 

No entanto, mesmo com possibilidades de trava pouco atrativas, garantir preços mínimos é uma estratégia que deve ser considerada sempre. Até porque ela garantirá a troca caso o mercado surpreenda com altas mais fortes.

 

O cenário não aponta 2019 como um ano para fixar completamente as cotações, mas nenhum ano é ano de ficar totalmente exposto ao risco.

 
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