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As Prisões de Ibiúna (Drepo F70)

15/01/2016 - Por eduardo pires castanho filho
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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1968. Paris fervendo. Barricadas nas ruas. Enfrentamentos entre policiais e estudantes. Discursos inflamados. Apesar da censura as informações chegavam até o Brasil. Fazia- se parte do mesmo mundo e parecia haver uma fresta entre os manda chuvas da Guerra Fria. São Paulo fervilhava também. A estudantada se organizava e havia uma trégua entre as eternas rivalidades esquerdistas. A direitosa não ficava atrás. O CCC se armava e escaramuças faziam já parte do dia a dia da Rua Maria Antonia.

Nesse clima se organizava o Congresso da UNE, totalmente proibido e desafio ao poder Militar. As faculdades iam fazendo assembleias e "tirando" seus representantes, dois ou três por escola. Era gente que não acabava mais. Pelo CALQ foram indicados três colegas:

Maurício, Marcão e Vitavena. A direita ficou mordida, mas aceitou o resultado e os três foram credenciados. A "massa" não tinha a menor ideia do que estava ocorrendo e viria acontecer. Valia a empolgação.

No segundo dia do congresso, quando mais de mil estudantes estavam na zona rural de Ibiúna, cidade na época com cerca de 5 mil habitantes e uma pensão, a inteligência da Ditadura "descobriu" o local. Cercou a turma e prendeu todo mundo. PQP, mas parece que era isso que organização queria. Repercussão. Jornais. TVs. Maravilha!

Do lado de fora era preciso mobilizar as escolas para libertar os colegas enjaulados. Assembleias foram convocadas. Pela primeira vez se organizou uma assembleia universitária paritária e geral em Piracicaba: agronomia, florestal, ciências domésticas, economia, administração, odontologia, serviço social e engenharia se reuniram no CALQ para deliberar sobre o que fazer.

Depois de muita confusão acabou prevalecendo a proposta de passeata. Seria a primeira depois de 66, que acabara na Catedral, sob proteção do bispo de então. Os órgãos ligados à repressão mandaram o recado de que seria intolerável. Assim mesmo resolveu- se desafiar o poder já que os colegas, legítimos representantes dos estudantes, estavam presos.

A passeata foi organizada e envolveu não só estudantes como figuras da municipalidade e, pasmem, transcorreu na maior ordem e cidadania, apesar de algumas tentativas de boicote. Um destacamento do choque veio de Campinas, mas, dada a correição do evento acabou não intervindo.

A "segurança" passou por momentos de muita tensão, e ao final terminou como todo esalqueano conhece e gosta: no boteco com muita cerveja... 

Eduardo Pires Castanho Filho (Drepo F70) Engenheiro Agrônomo, Ex morador da Republica do Pau Doce

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