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AS DUAS SEMENTES DA HUMANIDADE

19/07/2021 - Por walter francisco molina junior
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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O livro do Gênesis (Gn1:26) diz que no sexto dia Deus criou o homem e em seguida, deu a ele plantas para comer (Então o Senhor Deus fez nascer do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento, Gn2:9) e todo o ambiente para cuidar (O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo, Gn2:15).

Arqueólogos e antropólogos, no entanto, afirmam que os humanos teriam surgido num período entre 200 mil e 70 mil anos atrás, no interior da África e que uma enorme seca quase dizimou a espécie há 40 mil anos. A inteligência humana e sua capacidade de adaptação impediu que a espécie se tornasse somente uma coleção de fósseis. Fugindo do clima adverso, pequenos grupos se espalharam pela Europa e Oriente Médio. Pequenos grupos nômades gastavam a maior parte do tempo em busca de alimentos e locais protegidos de grandes predadores, mudando de tempos em tempos para locais com mais oferta de comida e abrigo. Essa é a primeira semente e coloca todos os preconceitos raciais em cheque - somos todos filhos da mesma raça.

A segunda é uma semente real, como as encontradas dentro de frutas ou vagens de feijão. Evidencias mostram que, cerca 10 mil anos atrás, alguém percebeu que, de um resto de refeição deixado no solo ou de grãos guardados em um canto qualquer, brotavam as mesmas plantas que produziam o alimento, lá no campo. Ou então, ao limpar as plantas indesejáveis do entorno daquelas que produziam o alimento, percebeu-se que, dos grãos caídos ao solo brotavam outras plantas iguais à planta "mãe". Muito provavelmente, uma mulher seja a protagonista dessa descoberta. Em função de suas atribuições no grupo social, ela teria mais condições de observação daquilo que ocorre nos detalhes. Desta forma, uma mulher nos trouxe até aqui.  Estava descoberta a agricultura. Antes disso o planeta teria suporte para uma população em torno de 5 milhões de pessoas.

O ato de cultivar plantas mudou a forma de viver da humanidade. A partir de então, experimentos de tentativa e erro, produziram alimento perto de casa. Deixou de ser necessário se expor na savana para procura-lo. Rapidamente se criou o conceito de propriedade, pois era necessário possuir a terra onde seriam cultivados os grãos. Começou a existir tempo para pensar sobre coisas que não fossem relacionadas diretamente com a sobrevivência: prosperaram as artes, a medicina, a engenharia e a população. Com isso, começou-se a redesenhar a paisagem. A vegetação nativa era retirada para que se obtivesse mais terras cultivadas, mais áreas urbanas, estradas, reservatórios de água, etc. Aumentou também o tempo médio de vida de cada indivíduo. Mais gente demanda mais tecnologia: moradia, ferramentas, máquinas, formas de locomoção e comunicação.

O progresso da humanidade deve-se quase que exclusivamente à descoberta daquela mulher. Somos quase 8 bilhões de pessoas, ou seja, 1.600 vezes mais do que seria possível de maneira natural. No entanto, estima-se que mais de 800 milhões estão em situação de insegurança alimentar, o que significa que ao comer uma refeição, não se sabe quando será a próxima. A Organização para Alimentação e Agricultura (FAO), diz que quando na cadeia de produção de alimentos, até o vendedor de varejo (supermercados, mercearias, etc.), ocorre desperdício de cerca de 14%. Considerarmos o que acontece em nossas casas teremos 30% de perdas totais.

Nos últimos 40 anos a tecnologia na agricultura e pecuária evoluiu de forma espetacular. Hoje os alimentos são muito mais baratos e seguros do que há 4 ou 5 décadas. Infelizmente há muitos despreparados, ignorantes e mal-intencionados fazendo terrorismo de informação contra os produtores rurais, com relação aos problemas ambientais. É claro que eles existem, mas sua seriedade é muito menor do que aquilo que tentam disseminar na sociedade. Deveríamos focar na solução dos problemas da fome e desenvolvimento de tecnologias de menor impacto, sem deixar de produzir comida. Afinal, o Éden está posto para nos servir e devemos conservá-lo.

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