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As águas de maio (Scot F76)

07/05/2016 - Por alcides de moura torres junior
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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O último ano parecia difícil de ser previsto. Aí veio 2016 e seu antecessor ficou simples, não pelo motivo óbvio de já ter passado, mas porque o cenário complicou bem.

O ano começou com alguns pontos pacíficos entre os que tentavam traçar um cenário para o boi gordo, mas nem isto temos mais. Até sobre as exportações de carne, promissoras e, que têm mesmo ido bem, o dólar faz pairar alguma dúvida. 

Em um ano de incertezas, vamos analisar o curto prazo e tentar traçar um cenário para o início da seca, focando na oferta de boiadas.

A desova de final de safra

Normalmente entre abril e maio cai o volume de chuvas, afetando as pastagens e a sua capacidade de suporte. Com isto o pecuarista possui duas opções, ou vende ou suplementa.

Suplementar depende da disponibilidade de caixa para a compra do suplemento e para suportar o atraso da receita das boiadas, dentre outros fatores que afetam a decisão.

O pecuarista que vê a boiada já podendo ir para o gancho e o pasto piorando. Muitas vezes, opta pela venda.

Esta decisão, tomada por uma grande massa de produtores simultaneamente, provoca um aumento da oferta de boiadas e pressiona negativamente o mercado do boi gordo. A figura 1 mostra as variações dos preços entre abril e maio em São Paulo.

 

Na média do período a queda foi de 1,4%, com valorizações em apenas dois anos.

Em 2008 houve redução de 6,6% nos abates formais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), devido às fêmeas que foram para o gancho nos anos anteriores. Isto gerou preços firmes ao longo de todo o ano e pode ter influenciado o movimento incomum de alta.  

Para 2004 as chuvas em maio, acima da normal climatológica, podem ter colaborado com a retenção dos bovinos e manutenção do mercado firme.

Quedas de preços em maio são mais frequentes que altas e ocorrem principalmente em função da saída concentrada de bovinos (desova).

A figura 2 mostra a distribuição média dos abates de machos, fêmeas e totais (2000 a 2015), além da distribuição das chuvas. Em março, por exemplo, a linha laranja mostra que, em média, 9,15% das fêmeas abatidas no ano vão para o gancho.

Observe que os abates de machos são mais concentrados a partir de maio (linha azul), enquanto as fêmeas têm redução no segundo semestre. A concentração de fêmeas no começo do ano ocorre pelo descarte reprodutivo e pela engorda da categoria ocorrer basicamente em pastagens.

Vale destacar que cada estado tem um perfil de chuvas e de pecuária. Usamos praças ou totais nacionais com o objetivo de ilustrar o raciocínio. 

Expectativas para este ano

As projeções de chuvas para os próximos meses indicam precipitações acima da normal climatológica nos estados ao sul do Brasil, o que pode amenizar a chegada da seca. Com o período seco chegando menos bruscamente, tende a ocorrer uma menor concentração de vendas. 

No Norte, a expectativa é de chuvas abaixo da normal climatológica para o curto prazo. Isto pode concentrar a venda de boiadas.

Há mais dois pontos importantes a serem avaliados. Um é a retenção que pode ter ocorrido em março, influenciada pela forte pressão de baixa no mercado.

Estes bovinos, que não foram vendidos no último mês, tendem a estar em um peso maior na chegada da seca, o que pode influenciar na opção pela venda, uma vez que suplementá-los poderia ser menos eficiente, ou mesmo necessário, que para animais mais leves ou não terminados.

O terceiro ponto que gera as expectativas para maio é a oferta de fêmeas. Embora representem menos da metade dos abates, elas compuseram, na média de 2000 a 2015, 39,6% do total em maio.

Em um ano de preços do bezerro historicamente altos, o volume de vacas no gancho deve ser comedido, o que pode fazer falta na oferta geral, assim como nos últimos meses.

Resumindo, devemos ter momentos de pressão de baixa até o meio do ano, possivelmente com boa participação de boiadas que não foram abatidas em março. Por outro lado, as fêmeas, que são relevantes para o mês (compõem 39,6% dos abates e este é o segundo mês com maior abate de fêmeas, em média - vide figura 2, linha laranja), ainda não devem ser abundantes no mercado este ano.

E o que fazer com estas informações?

Para quem tem animais para venda, se o ganho de peso não estiver atrativo, a tendência é que passemos por pressão de baixa nos próximos meses, com o final da safra. Com isto, a opção de venda antes da seca tende a ser interessante.

Já para os que confinam e estão de olho no mercado futuro do segundo semestre, considerem a possibilidade de travar as os preços de venda, ou ao menos parte.

Isto porque qualquer pressão de baixa no mercado físico normalmente é irradiada para os contratos futuros e pode dissipar oportunidades razoáveis.

De toda forma, mesmo com expectativa de momentos de pressão de baixa, não são esperadas desvalorizações expressivas, devido à oferta geral limitada.

Colaborou Hyberville Neto, médico veterinário e consultor da Scot Consultoria

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