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Aposentar? O que é isso? (Vavá; F66)

31/07/2018 - Por evaristo marzabal neves
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Aposentar? O que é isso?

Evaristo Marzabal Neves (Vavá – F-66)

 

(Esta minha reflexão foi escrita em 2009, dois anos antes de minha aposentadoria ao completar 70 anos – 23/08/2011 e continuar na ESALQ como Professor Sênior. Hoje, em 08/2018, ao completar sete anos de aposentadoria e permanecer na ESALQ, autentifico sua validade e vou tocando em frente até quando sentir que tenho forças físicas e mentais que justifiquem minha permanência em nossa querida Escola Mãe – ESALQ).

 

Toda vez que encontro colegas da ESALQ de minha geração (anos 60), perguntam-me se já estou aposentado. Ao dizer que não, ficam surpresos. Explico o por que.

Neste 2009, completo, no inicio de fevereiro, 43 anos de serviços prestados. Lembro-me como se fosse hoje que em fevereiro de 2001, a Leni do Serviço Pessoal me chamou e comunicou que poderia aposentar com todos os direitos garantidos, pois completava 35 anos de serviços e que estariam mais do que confirmados em 23 de agosto daquele ano, quando chegaria aos 60 anos.

Numa situação como esta, diversos de meus colegas professores da ESALQ se aposentaram. Resolvi permanecer, pois já por bom tempo defini os limites geográficos de minha felicidade: minha família, a ESALQ e alguns amigos de Piracicaba, com direito às viagens de visita aos meus familiares e amigos que residem fora desta fronteira da felicidade. Por quê?

Pesquisei e analisei como seria meu cotidiano, quando decidi vir para a ESALQ em 1974. Pois bem, minha casa e a ESALQ seriam a base semanal, e, neste sentido, nestes ambientes deveria traçar e perseguir minha felicidade, pois parte significativa das 24 horas de meu dia seria passada nesses ambientes. Teria que lutar para construir um mundo de paz, de compartilhamento na busca de soluções de problemas, de diálogo franco e de forte amizade, principalmente com meus colegas professores, funcionários e alunos já que passaria boa parte do dia com eles. Daí, ter como meta temporal, a busca e o estabelecimento de um clima organizacional saudável, de respeito e admiração dentro de meu ambiente de trabalho.

Acredito que todo ser humano carrega uma missão em sua vida além da constituição de uma família. No meu caso, embora com poucas experiências, localizei meu mundo na educação. Minha busca incessante de vida foi sempre ser um educador, um orientador de mentes juvenis na busca de sua trajetória de vida perseguindo a felicidade e realização profissional.

Então, por que da pergunta inicial: Aposentar? O que é isso? Por que não avisto a aposentadoria de fato como uma meta próxima? Tempos atrás ao perguntarem a um colega que já passara dos 60 anos se ele não se considerava um velho dando aula na graduação. Respondeu que velho era alguém com 15 anos a mais do que ele, ou seja, alguém com seus 80 anos. Embarquei nessa.

Naturalmente que o conceito de felicidade e a forma de procurá-la dependem do quadro de referência de cada ser humano. Pergunte a qualquer pessoa como ele conceitua felicidade e, em seguida, se é feliz. As respostas são inteiramente diferentes. Anos atrás, o psicólogo americano Steven Hayes (artigo “Não fuja da dor”) afirmou que “nosso conceito de felicidade está ligado a emoções de curto prazo. Isso não é verdadeiro. As pessoas devem definir o que realmente querem da vida no longo prazo, descobrir quais são seus valores e viver de acordo com eles. Isso é ser feliz”. Sábia recomendação que tenho seguido.

Então, se o que faz lhe dá prazer e deixa em paz e alegre o seu cotidiano, pois o que está fazendo não prejudica ninguém e você se sente útil, por que se aposentar? Enquanto der, vou “tocando em frente”. Neste caso, tem fundamento o que Confúcio disse: “Escolha o trabalho de que gostas e não terá de trabalhar um único dia em sua vida”

Neste sentido, não tenho nada a reclamar ou lastimar do meu dia-a-dia em meu lar e na ESALQ, pois encontro uma razão forte de viver. Outro dia, conversava com um amigo sobre se não é tempo de desacelerar no que faço, apoiado no tempo diário que toma e lembrando-se de uma reflexão de que “não faça de sua vida um rascunho, pois pode não dar tempo de passar a limpo” (A. Rossato). Este amigo falou: não se preocupe em passar a limpo sua vida de educador, pois seus discípulos se encarregarão de escrever o seu livro de vida. E, acreditei no que disse.

Recentemente (Revista Semana, 15/01/09, p.6) José Mindlin (empresário e bibliófilo) em seus 94 anos referindo à sua idade afirmava que “ainda não cheguei lá” e adiantava “Tenho sido indagado constantemente sobre como me sinto com a idade que alcancei e minha resposta invariavelmente é a seguinte: ainda não cheguei lá, e só quando chegar poderei dizer o que sinto. Naturalmente trata-se de uma falácia e de um exercício de autoengano, mas que tem, sem duvida, um efeito positivo. Enquanto durar a disposição de ter um cotidiano ativo e saudável, trato de mantê-la e prolongá-la, o que representa na realidade um circulo virtuoso”. Quer exemplo mais edificante e rejuvenescedor?

Este exemplo de vida de José Mindlin foi o estimulo para que meditasse sobre a aposentadoria e questionasse sobre o que significa. Daí que posso finalizar com outra expressão: enquanto puder curtir minha amada, admirável e compreensível família e a querida ESALQ, estou firme e não abro mão da reflexão do Ciro Pellicano: “a ultima coisa que quero fazer em vida é morrer”.

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