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Ainda sobre as Sandálias da Humildade (Vavá; F66)
23/03/2018 - Por evaristo marzabal nevesAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.
Na edição de 16/03, deixaram-se algumas orientações sobre quem deveria calçar “sandálias da humildade” em seu ambiente de trabalho. Continuando, pode-se imaginar também, para o dia-a-dia de uma pessoa.
Assim, deveria calçar
“sandálias da humildade”:
a) Aquele que só reclama, de que nada presta e tem tudo aos seus
pés, que desperdiça à vontade, sem imaginar os milhões de seres que estão
abaixo de sua condição social e que lutam, são determinados, procuram um lugar
ao sol;
b) Aquele que passa a frente dos outros em qualquer situação para se
fazer de importante e esperto e, olhe lá, quando não anuncia quem é;
c) Aquele que em qualquer ambiente social quer aparecer, esnobar,
mostrar grandeza, auto - valorização excessiva, ignorando que, em qualquer
ambiente, entre os inúmeros recursos para uma pessoa se tornar chata, dois se
destacam como insuportáveis: ficar falando de suas vantagens, suas façanhas e
qualidades específicas e contar histórias muito longas (inclusive dele herói). Tempos
atrás, era comum recomendar a este tipo de pessoa, o seguinte: “Quer aparecer? Fique
quieto e pendure uma grande melancia no seu pescoço”;
d) Aquela pessoa fútil, vazia, distante da realidade social, que
exclui o próximo menos favorecido e que não semeia afetividade, solidariedade e
humanidade;
e) Aquele que, se acordar a tempo, reage ao imaginar que “se eu
morrer hoje, quantos sentirão minha ausência e sofrerão com minha partida?”.
Por sua vez, vem calçando as “sandálias da humildade”, em qualquer
situação, aquele que no seu imaginário ronda “o que sei é que nada sei”, que cultiva
que a vida é aprendizado, aprendizado com o que educa, com ética, afetividade e
solidariedade e que querem viver em um mundo melhor; aprendizado com a
experiência dos mais velhos e não simplesmente crer “que a experiência é um
farol que ilumina para dentro”, isto é só vale para a pessoa que experimentou
em certo momento da vida e que hoje o mundo é outro, diferente e moderno;
aprendizado com o simples e humilde que vai a luta sem ter com quem contar; aprendizado com aqueles que valorizam o que fazem e mantém a dignidade de seu
suor, por mais simples que seja seu papel social; aprendizado com aqueles que
são companheiros e amigos de cruz e não aqueles que aparecem quando sopram os
bons ventos, oportunistas e de copo, lembrando a versão “Minha História”, por
Chico Buarque, que canta e lembra “meus amigos de copo e de cruz, me chamam de
menino Jesus”.
Um sinal de alerta para aqueles que não tiram o sapato de grife nem
para repousar. Exercite e treine tirando-os para dormir (encoste-os por algum
tempo, talvez para sempre), deixe os pés relaxados durante a noite, arejados,
soltos e não apertados criando calos de arrogância e de soberba. Ao acordar e
levantar, calce os pés, livres e descansados, com as “sandálias da humildade”,
e gozará de um mundo melhor, mais humano com uma travessia sem “pedras no
caminho”, pois sentirá que as “sandálias da humildade”, sabiamente, saberão conduzi-lo
e, sem erro, ensiná-lo o “caminho das pedras”. E, para concluir:
Qual a simbologia da cerimônia religiosa do “lava-pés” na Semana
Santa, senão a expressão real de humildade de um líder e chefe? Mire-se em seu
exemplo. Siga-o.
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Evaristo Marzabal Neves (Vavá; F66), Prof. Titular, ESALQ/USP. E-mail:
emneves@esalq.usp.br