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Aconteceu no Mosteiro (Pinduca F68)
07/11/2015 - Por marcio joão scaléaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

ACONTECEU NO MOSTEIRO
Muito já se falou sobre a incrível fauna que se reunia para
morar numa República de estudantes, e as repúblicas de Piracicaba na década de
60 não eram exceção, em especial o Mosteiro. Havia colegas de todo tipo :
estudiosos, relaxados, calmos, nervosos, organizados, bagunceiros. E cada um,
dentro de suas características, foi protagonista de casos e histórias que dariam para encher um livro.
Como o caso do Béstia, cuja hipocondria era digna de nota.
Certo dia na hora do almoço, ele não apareceu para comer, o que chamou a
atenção da turma, pois ele havia já chegado da escola. Depois de rápida busca,
ao chegar à porta do quarto que o Béstia dividia com o Stampo, ouviram-se
murmúrios, um casal conversava atrás da porta fechada. Será que ele estava tendo
intimidades com alguma menina em pleno horário de almoço? Só arrombando a porta
para ver. Porta aberta, a surpresa : Béstia realmente estava com uma garota, a
Ivone, e o animado papo era sobre
"pedras na vesícula" ! É que a mãe da Ivone havia falecido há alguns meses, e a
causa, segundo os médicos, havia sido uma complicação provocada por grande
numero de cálculos na vesícula biliar, problema que o Béstia, em sua
hipocondria, acreditava também ter. E ficaram os dois, Béstia e Ivone ainda por
um bom tempo a comparar radiografias e laudos médicos, a ver se o risco de vida
era iminente.
Um certo dia o Béstia
abordou o Macalé e lhe perguntou por qual motivo ele andava meio torto, caído
para o lado esquerdo. Incontinenti Macalé respondeu :"Tenho cascalho no baço". Não se passou uma
semana e lá veio a novidade : "Macalé, acho que também tenho cascalho no baço,
sinto uma dorzinha e estive reparando, sou meio caído para o lado também". Mas
a suprema felicidade para o Béstia veio numa sexta feira à tardinha, quando ele
chegou ao Mosteiro apressado e excitadíssimo : havia finalmente conseguido que
um médico o internasse por uns dois dias, teria que dar entrada no hospital até
as 19:30, assim teria garantido um fim de semana internado. Qual a causa da
internação? Nem ele nem o médico sabiam direito...
Zé Prefeito e Turco Fuad foi uma dupla de moradores do
Mosteiro que protagonizou cenas incríveis. O primeiro, eterno "caixa" da
república, organizadíssimo, estudioso, articulado, politizado, candidato a
presidente do Centro Acadêmico Luiz de Queiroz, um bom rapaz. O Turco,
excelente pessoa, coração do tamanho do mundo, mas o oposto do Zé Prefeito :
desorganizado, pouco assíduo às aulas, boêmio, preguiçoso, sem muita noção de
propriedade. Assim como qualquer um podia entrar em seu quarto (que nem tinha
porta) e usar suas roupas ou material de escola, ele usava tudo dos outros :
cuecas de um, chinelo de outro, caneta de quem facilitasse, até escova de
dentes ele pedia emprestado.
Num domingo o Turco
resolveu pregar uma peça no Zé Prefeito, que havia viajado e só chegaria tarde
da noite. Arrombou o enorme cadeado que o Zé tinha colocado na porta de seu
quarto e entrou. Com um martelo e uma chave de fendas tirou o tampo da
escrivaninha do Zé, com muito cuidado. Com as gavetas expostas ele não tirou
nada, apenas trocou coisas de lugar : caderno daqui prá lá, canetas e régua de
lá prá cá. Dinheiro de cima para baixo, cadernetinha de baixo para cima. Tudo
trocado, tampo repregado, cadeado recolocado fingindo estar trancado, o Turco
sumiu. Mais de meia noite a república em silêncio aguardava a reação do Zé
Prefeito ao chegar. Ao ver o cadeado arrebentado já veio a primeira exclamação,
num grito :
- Turco f.d.p., o que você veio roubar no meu quarto?
Em seguida silêncio : guarda roupas checado, em ordem.
Sapatos e chinelo, no lugar. Travesseiro, pijama e roupa de cama, tudo certo.
Na escrivaninha as gavetas trancadas não davam sinal de nada, mas quando foram
abertas, nova exclamação :
- Turco f.d.p., cadê
o dinheiro da república? Ué...tá aqui debaixo...Ele não roubou nada...
E passou o resto da noite tentando entender o acontecido
enquanto o Turco Fuad e o Bidú, seu colega de quarto, pulavam a janela e iam
pra Rua do Porto dar risada à vontade.
Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro