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A Salvação da Lavoura. Ou Bem Perto Disso... (Mentáu)

28/04/2015 - Por frederico simões domingues
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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A Salvação da Lavoura. Ou Bem Perto Disso...


Frederico Simões Domingues *


Perfeito. 


Latossolo Roxo eutrófico, CTC, pH, S e V%nos "trinques".


Planejamento feito como se fosse matéria de prova final e financiamento aprovado no banco, sem ressalvas. Maquinário agrícola todo revisado, funcionando como uma orquestra; sementes certificadas e de primeira. Plantio na janela ideal; umidade igual à recomendada. Adubação, aplicação de defensivos, tudo, tudo realizado como manda a bula e como caiu na prova. Perfeito. Só que não...


Aquela previsão de tempo que indicava chuvas adequadas com uma precisão de 84,77% não coincidiu com a vontade da natureza, que preferiu os outros 15,23% das probabilidades. E São Pedro não tem culpa. 

Aquela fria massa polar subindo da Argentina encontra com a quente, e úmida, massa equatorial descendo da Amazônia. Assim como no futebol, esse encontro Brasil e Argentina fica tenso. Ventos de mais de 150 km/h, mais de 100 mm de chuva, o que era meio-dia virou meia-noite. Um rebuliço. A bicharada começou a ficar de parzinho e Noé chegou achar que, novamente, a conversa era com ele. Depois das velas e de uma dúzia de ovos para Santa Clara, já dá pra tirar o nariz para fora de casa. Chato. Isso não estava no planejamento. Infelizmente, não costuma estar no planejamento de muitos dos nossos produtores. Pergunta: Qual dos dois abaixo, na maioria das vezes, tem seguro? O temporal foi o mesmo...


Fazer ou não o seguro rural é, sem dúvida, mais do que uma questão puramente financeira, uma questão cultural. Embora a penetração do seguro no mercado venha aumentando, ainda temos segurados menos de 10% da área plantada no Brasil. Nos Estados Unidos, esse número chega a 85% na média, com coberturas bastante amplas, sendo que algumas culturas atingem 100%. Canadá, México, Espanha, China, Índia e alguns outros países da Europa e África possuem programas de seguro rural já bem estruturados e, aos poucos, e com uma maior aquisição de informações e experiência, as coberturas poderão se adequar cada vez mais à demanda dos produtores. Nunca um seguro substituirá uma colheita de sucesso, mas é uma questão de perder algo e ter fôlego para continuar ou perder muito e colocar as próximas safras em risco.


A experiência mundial mostra que não somente o produtor e o sistema financiador se protegem com o seguro rural, mas também os governos. Um evento climático adverso pode afetar a receita de muitos produtores de toda uma região e, como um dominó, todo o mercado regional de comércio e serviços que depende da receita destes produtores é afetada. Há um brilhante estudo que aborda a questão do impacto de um sinistro na economia regional e custo/benefício para o governo, mostrando que o seguro minimiza o impacto até na arrecadação de impostos e na manutenção dos postos de trabalho.


Se de um lado tivermos uma política voltada à valorização da produção agropecuária, preocupada com a proteção e estabilidade do setor produtivo rural, e do outro lado, o produtor consciente de que o seguro se incorpora aos custos, como um insumo padrão, o gerenciamento de riscos e a estabilização das finanças rurais individuais, regionais e do país serão otimizados. Esse é um tema que deveria ser discutido mais intensamente pelo setor, para que seja possível uma evolução; é inútil apenas criticar. Há a necessidade também de que as universidades coloquem esse assunto como disciplina essencial na grade de matérias, para que seja claro, para todos os egressos, que todo recurso aplicado em boas práticas e técnicas agropecuárias corre o risco de ir, literalmente, por água abaixo.


Para terminar, olhando nas fotos acima: qual gera riqueza e paga as despesas do produtor? O milho ou o carro? 


* Frederico Simões Domingues (Mentáu - F92) é Engenheiro Agrônomo e MBA em Finanças e Risco pela FEA/USP. Há 17 anos no mercado de seguros e resseguros, hoje Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do IRB Brasil Re. Caipira perdido no Rio de Janeiro, ex-morador da República Kaipira. 
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