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A equação da geração de valor (Silicone; F05)

14/11/2018 - Por otavio lemos de melo celidonio
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Acabei de concluir uma rápida, porém intensa, jornada como aluno do curso “Criando Soluções Colaborativas” na Harvard Kennedy School, uma das principais escolas de políticas públicas do mundo. Concluída essa jornada, minha maior certeza é a de que o caminho do aprendizado nessa área está longe de acabar.

A experiência foi exaustiva, ler mais de quatrocentas páginas de artigos na semana anterior (quando recebemos o material) e durante o curso, e ainda passar por pelo menos 7 horas de aulas e 2 horas de discussões em grupos, sempre tratando de assuntos extremamente abstratos, deixou cansado até mesmo os participantes que falavam inglês como língua materna, imagine eu com meu inglês “bronco”.

Mesmo cansado, o impacto do conhecimento fica em ebulição na nossa cabeça e não consegui nem esperar chegar em casa para iniciar este artigo. Pela expressão de alegria e brilho nos olhos, tenho certeza que o espírito foi o mesmo para os mais de 60 participantes de todas as partes do mundo.

Uma das coisas mais bacanas de participar de um programa como esse é que saímos de lá pensando ainda mais alto e acreditando que podemos ser importantes agentes de mudança, não importando o tamanho do desafio. E olha que o nosso é grande!

Ao longo do programa fomos instigados a falar sobre os nossos desafios. O meu desafio sempre esteve muito claro, especialmente porque passamos por um momento crítico de sobrevivência do sistema sindical e, consequentemente, do modo como entregamos os serviços de educação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (SENAR-MT).

Um dos sintomas do tamanho desse desafio me veio à cabeça logo que cheguei ao Senar-MT, em 2016. Uma das coisas que me chamou a atenção foram os depoimentos dos instrutores, que diziam já terem voltado por várias vezes em uma mesma comunidade ou empresa para ensinar, mas a realidade local frequentemente não havia mudado ao longo dos anos.

Com a satisfação dos usuários nas alturas e bons processos de supervisão das aulas, estava claro que faltava alguma coisa, além do processo educacional. O entendimento de uma das possíveis soluções para esse problema começou quando tentamos desvendar quais seriam os fatores que ajudavam na efetividade da entrega dos cursos com a ajuda de nossos maiores parceiros, os sindicatos rurais.

Ao contrário do que muita gente presumia, ter uma estrutura física adequada e veículo próprio e até mesmo conduzir o sindicato com uma boa gestão dos indicadores de execução não foram os principais fatores de sucesso. No final das contas, o que mais fez diferença foi a criação de laços fortes com as comunidades e parceiros locais, garantindo um maior comprometimento dos demandantes e dos participantes dos cursos.

Isso me chamou a atenção para o fato de que, na ânsia por estabelecer processos claros e cumprir com todas as exigências legais, às vezes acabamos por nos distanciar dos nossos alunos e parceiros, preocupados em entregar sempre mais serviços, sem necessariamente resolver o problema.

Empiricamente, o caso dos sindicatos engajados com suas comunidades, foi um exemplo claro do poder da colaboração, onde – usando alguns dos conceitos amplamente discutidos no curso em Harvard–  passamos a cuidar dos resultados para a sociedade (Outcomes) e não simplesmente de entrega dos produtos e serviços (Outputs).

Por mais que tenhamos capacidade operacional, produzir valores públicos que garantam a satisfação de todos depende também, da autorização de quem legitimamente representa e mantêm os nossos serviços. Assim, em vez de tentarmos adivinhar ou mesmo fazer questionários, o mais efetivo é trabalhar para que os próprios interessados participem e colaborem na construção das soluções, legitimando as ações.

Por isso, o caminho escolhido para superar esse desafio e garantir a efetiva participação das comunidades, dos nossos parceiros sindicatos rurais, foi o de reestruturar nossos programas de liderança, buscando não apenas oferecer conhecimento e estimular habilidades, mas principalmente provocar atitudes de liderança, buscando levar nossas soluções de educação para os locais onde realmente sejam necessárias e tenham um ambiente para prosperar.

Um desafio complexo e que, para ser sustentável, precisa ser instigante, para estimular a participação de novas lideranças e acontecer em perfeita harmonia para que o exercício de liderança dos nossos alunos ocorra em sinergia com os anseios das lideranças e autoridades já estabelecidas, aproveitando sua experiência ao invés de diminuí-la.

Nessa complexa equação de geração de valor, o foco deve ser nos resultados para a sociedade. Entendendo que esse é um caminho constante de aprendizado poderemos construir uma nova forma de fazer política, onde participar e colaborar levam as pessoas a somar e multiplicar ao invés de dividir.

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