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Situação Atual das tecnologias Bt em Condições de Campo (Guaimbê)
13/08/2015 - Por evaldo kazushi takizawaAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

A situação atual das tecnologias Bt em condições de campo nos
cultivos agrícolas nas regiões de Cerrado no Estado do Mato Grosso serão
abordados sob a ótica da Ceres Consultoria Agronômica, empresa de consultoria
que atendeu mais de 160.000 hectares na safra 2013/2014 nas culturas de soja,
algodão e milho, destas culturas pouco menos de 3% de soja, pouco mais de 60%
de algodão e em torno de 90% de milho com a tecnologia transgênica Bt.
As dificuldades e desafios na implementação de estratégias de
manejo de resistência dentro dos preceitos agronômicos serão tratados expondo
questões operacionais, técnicas e econômicas para amparar o diálogo para
estabelecer as perspectivas das tecnologias Bt no manejo integrado de pragas.
O uso da tecnologia Bt e a implantação das áreas de refúgios
exigem a limitação da semeadura de uma única cultivar ou híbrido numa área
contínua, isso implica em atividades diferenciadas conforme a tecnologia há
necessidade de controles na colheita para evitar misturas e multas, o cultivo
do agricultor fica sujeito ao controle do detentor da tecnologia Bt, esses
aspectos compõe parte das dificuldades operacionais de plantas Bt.
No quesito técnico as culturas Bt ainda numa fase inicial de
implantação apresentaram problemas de controle de pragas alvo como a Spodoptera, sua efetividade foi
interrogada e falta segurança de que apenas áreas de refúgio serão suficientes
para contenção do problema de aparecimentos de indivíduos resistentes à proteína
Bt.
A capacitação dos profissionais envolvidos na agricultura e o
conhecimento sobre todos os eventos Bt no mercado são pouco dominados e
frequentemente a tecnologia Bt é tratada de forma genérica como um produto
único, isso repercute na forma de condução das lavouras.
Os valores referentes aos custos intelectuais (“royalties”)
nem sempre estão em sintonia com os benefícios resultantes da tecnologia Bt num
sistema agrícola tropical com ampla diversidade de artrópodes, com intuito de
explorar o máximo do evento Bt há atraso na intervenção química ou
procedimentos de combate para controle de escapes de pragas alvo ou de pragas
não controlados pelo Bt.
Neste cenário a situação da tecnologia Bt na soja não é
posicionado como aspecto prioritário na decisão de cultivo, a capacidade
produtiva (genética) é o aspecto mais relevante para amparar a escolha, salvo
alguns agricultores que por diversas razões tiveram perdas significativas pelo
ataque de lagartas alvo do Bt.
A proteína Cry1Ac (Intacta RR2 PRO™) na soja da atual safra ocupou áreas comerciais maiores motivados pela
preocupação do ataque de Helicoverpa,
em alguns casos houve aparecimento do ataque de Spodoptera, eventualmente o agricultor realizou alguma aplicação,
na maior parte das áreas não foram necessários nenhuma aplicação para as demais
pragas alvo.
Os híbridos de milho Bt atualmente são mais produtivos e a
falta de oferta de milhos convencionais com o mesmo teto produtivo apresenta-se
como uma barreira na adoção das áreas de refúgio e de medidas mais efetivas de
manejo de resistência. As proteínas Cry1Ab (Yieldgard®; Agrisure TL®)
e Cry1F (Herculex®™) e Cry1Ab+Cry1F (Optimum™ Intrasect™) no milho
na região de vegetação do Cerrado o uso mais intenso desta tecnologia ocorreu
mais de dois anos da aprovação pela CTNBio (2008/2009) e a performance foi
excelente sem necessidade de controle das lagartas nos primeiros dois anos, a
partir da safra 2012/2013 observou um escape intenso com necessidade de
controle com duas a três aplicações, na safra atual 2013/2014 o ataque está
semelhante ao milho convencional para Spodoptera.
Os milhos com as proteínas Cry1A.105+Cry2Ab (VT PRO™) e Cry1A.105+Cry1F+Cry2Ab
(PowerCore™, VTPROMax™) nestas lavouras já demonstram escape de lagartas Spodoptera, na atual safra os índices de
plantas atacadas podem chegar a 10%, alguns agricultores estão fazendo uma
aplicação por precaução. No milho Vip3A (Viptera™) e Cry1Ab+Vip3A (Agrisure
Viptera™) o uso desta tecnologia não é tão difundida como as demais e o
controle de lagartas é muito bom, talvez a melhor de todas, mas com poucas
opções de híbridos adaptados a região Sudeste do MT.
A proteína Cry1Ac (Bollgard®) foi a primeira do
algodão, para as pragas alvo (Alabama,
Pectinophora e Heliothis) não foi observado escape, mas para Spodoptera e Chrysodeixis o controles
não foi efetivo e foram necessários controle semelhantes ao algodão
convencional algo em torno de 4 a 5 aplicações. As proteínas Cry1Ac+Cry2Ab
(Bollgard II®) até o momento o controle está muito efetivo e para lagartas
não foram realizadas nenhuma aplicação, porém a ocupação de variedades com esta
tecnologia é muito pequena. A maior área é ocupada com as proteínas Cry1Ac+Cry1F
(Widestrike™) e esta tecnologia na
atual safra ocupa mais de 50% da área de algodão do MT e seu uso mais intenso
ocorreu a partir da safra 2012/2013, nesta ocasião já houve sobra de Spodoptera e Helicoverpa sendo necessários
entre 2 a 3 aplicações, na atual safra foram necessários entre 3 a 4
aplicações. A variedade com a proteína Cry1Ab+ Cry2Ae
(TwinLink®) estão em pequenas áreas e mostrou-se efetivo para
controle das lagartas alvo. No algodão semelhante ao milho o fator determinante
para escolha da variedade são as características de produtividade e qualidade
de fibra, a cultivar de maior teto produtivo são plantas Bt graças a base
genética e não a tecnologia Bt. O custo da tecnologia é ponto de maior destaque
para evitar a adoção integral das plantas Bt.
As perspectivas de plantas Bt impulsionado pelas
características de produtividade e pela intensa campanha dos detentores, são de
aumento da área soja Bt e algodão Bt e manutenção da área de milho Bt,
contrário ao sentido da adoção das plantas Bt a conscientização da urgência de
medidas de manejo de resistência caminha a passos mais lentos. Em síntese na
prática as estratégias de manejo de resistência a plantas Bt não é adotada
organizadamente, a preocupação de pragas resistentes está distante da
realidade, medidas que dependam exclusivamente da conscientização para o modelo
do sistema de cultivo agrícola do Brasil não surtem efeitos.