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Carnívoro, Vegan, Vegetariano ou Onívoro...Afinal Quem Tem Razão? (Jeep)
07/05/2015 - Por alberto nagib vasconcellos miguelAtenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

* Alberto Nagib de Vasconcellos Miguel
Gosto muito de ler a opinião de todos esta ferramenta disponibilizada
pela ADEALQ veio à calhar. Ler a opinião dos colegas, formandos, formados,
doutores e profissionais, é uma benção, por que a discussão inteligente parece
ter desaparecido da nossa sociedade.
Como nestes últimos dias li as postagens de dois de nossos
colegas sobre a "Segunda sem Carne" e esta tem se tornado uma
bandeira para ambientalistas, ao mesmo tempo que uma dor de cabeça aos
pecuaristas e todos envolvidos na cadeia da carne, gostaria de tentar
contemporizar, mesmo sob o risco de desagradar a ambos os segmentos da
sociedade.
Existem um sem número de livros publicados sobre a ética
humana e o ato de comer a carne de animais abatidos (silvestres e
domesticados), podendo-se destacar O Dilema do Onívoro (de Michael Pollan) e
todas as citações nele contida. Gosto de apontar para outra importante fonte de
discussão da ética, Gaiasophy, por B.C.J. Zoeteman, que traça um paralelo muito
interessante entre os seres, desde os primórdios dos tempos, com as diversas
facetas espirituais ao longo do tempo, flertando, inclusive, com a explicação
de onde vêm as almas (e o seu aumento exponencial, junto com a população
humana).
Não obstante, o debate continua, posto que todos os debates
findam em uma posição pessoal, não negociável e que tem origem em uma necessidade
de se satisfazer nossos próprios anseios.
O mundo natural sempre teve animais, ruminantes ou não, que
eram caçados (por vezes à exaustão, como o caso dos pássaros Dodôs nas Ilhas
Maurício) e os Tilacinos, na Austrália,
último dos grandes marsupiais carnívoros. O bisão quase foi extinto por conta
de sua pele. Incontáveis espécies foram extintas e muitas outras ainda correm o
risco de extinção. E isto aumenta a ira do segmento defensor dos animais.
Mais, o boi, em especial, é tido como o animal que "mais
destrói o meio ambiente", o que coloca sua carne como o alvo preferido dos
ambientalistas.
E o outro lado? Bom, o outro lado tem a irrefutável prova
científica de que o homem sempre foi onívoro (e portanto, comedor de carne) e
precisamos da proteína nela encontrada para nos mantermos saudáveis. Ou ainda,
"não fico sem meu churrasco de final de semana!" e pronto!
Mas eis que surgem evidências fortíssimas de que o boi (este
eterno mal compreendido) não é, de fato, o vilão da história. Allan Savory
(pensador, ecologista, biologista, ambientalista e carnívoro declarado) defende
que o nosso planeta não pode prescindir da criação de herbívoros ruminantes de
grande porte. As chamadas savanas e pradarias naturais eram cobertas por
extensas manadas destes animais (ainda hoje vistos aos milhões nas savanas
africanas) E O DESAPARECIMENTO DESTAS MANADAS é que causou o empobrecimento do
solo, sua degradação e, seu último suspiro, a desertificação destas áreas.
A ausência destes animais em áreas de chuvas irregulares,
especialmente, causa como consequência o desaparecimento de gramíneas (que
co-evolvem com estes pastejadores). Estas gramíneas, que recobriam o solo,
impediam que a chuva o compactasse. O aumento do solo desnudo causa o aumento
da compactação superficial. A formação desta crosta impede a penetração da
água, com o devido aumento do escorrimento superficial, erosão, voçorocas,
inundações e secas. Por fim, desertificação.
Mas espere aí! Quer dizer que é bom com ele, mas ruim sem
ele?
GRAMÍNEAS surgiram a cerca de 25 milhões de anos, bovinos a
cerca de 5 milhões e o homem começou a domesticar animais a 10.000 anos, sendo
que o "manejo" da forma que
existe hoje tem não mais do que 200 anos (e, para muitos, apenas 100).
A conclusão óbvia é que por quase 5 milhões de anos mamãe
Gaia conviveu com estes animais, sem que ocorresse abuso de qualquer das
partes. Para os que estão pensando agora "Huuum, quer dizer que o problema
é o manejo", dimdimdimdimdim!!! Vocês acertaram!
Mas o que isto tem a ver com o debate? Simples assim: O
Planeta precisa destes animais e sua criação, já que sem eles estaremos
condenados à desertificação das áreas mais secas, que perfazem dois terços
deste planeta. Assim, se querem, realmente, salvar o meio ambiente, o ato de
deixar de comer carne atrapalha. Lógico, se você é vegetariano ou vegan por
opção, siga a sua linha.
Aos caros amigos que produzem e estão na cadeia de produção
da carne: levem o boi para onde o boi pertence, as áreas outrora de pastagem
deste nosso Brasil gigante. O ditado " A César o que é de César" cabe
bem aqui. Boi não nasceu para comer milho, soja ou qualquer outro grão (que
dirá farinha de sangue e outros "quitutes" a ele servidos). Boi foi feito para pastar. O
deslocamento causado pela produção de grãos com o intuito de produzir alimento
para o mundo é irreal, insustentável e refutável, pois o que estamos produzindo
nestas áreas são culturas que se transformarão em alimento para estes próprios
animais que deslocamos para as florestas!!! O MANEJO está errado.
Que cada um faça a sua lição de casa, a sua "mea
culpa" e que possamos prosseguir como uma sociedade única, que preserva
suas diferenças e aceita outras posições, mas com um Contexto Único contra o
qual possamos tomar nossas decisões tratando
do presente, com um olho no futuro.
* Alberto Nagib de Vasconcellos Miguel (Jeep - F84)
Engenheiro Agrônomo, possui Mestrado lato sensu em Perícias de Engenharia e
Avaliações,trabalha com Agropecuária Sustentável, com ênfase em Manejo
Sustentável de Pastagens e Produção Animal Sustentável. Atualmente mora em
Calgary no Canadá desde 2004, esta pelo Brasil difundindo Gerenciamento
Holístico. Foi Representante Discente noDepartamento de Física, Ex-morador da
República Curral e Arado.
O Primeiro Curso de Introdução ao Gerenciamento Holístico
vai ser com o PECEGE, iniciando-se em 14 de agosto e finalizando em 26 de
setembro.