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Carpe Diem, Professor Vitti! (Big-Ben; F97)

24/08/2015 - Por mauricio palma nogueira
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No último sábado, o GAPE (Grupo de Apoio à Pesquisa e Extensão) realizou o encontro entre os ex-alunos que foram estagiários. Fundado em 1997, eu fui com dos três primeiros coordenadores. Éramos um triunvirato. O orientador, desde sempre, um professor cujo coração não cabe no peito: Godofredo Cesar Vitti.

Apaixonado pelo que faz, extremamente competente e trabalhador, Vitti não esconde o que pensa, não faz rodeios, fala tudo "na lata", como se diz no interior. 

Gostaria de ter ido ao churrasco, mas a data não ajudou muito. Uma pena, pois além de todo o meu apreço pelo GAPE e pelo Vitti, foi frequentando os encontros de ex-estagiários que conheci a minha esposa Floema, que também era estagiária na época.

Não puder ir porque, uma semana antes, participei do churrasco da Jacarepaguá, que completou 60 anos desde sua fundação em 1955. Como sempre inovadora, a Jacarepaguá foi a primeira república da Esalq a organizar um simpósio: "Desafios do Agronegócio".

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Tive a oportunidade de encontrar o professor Vitti no evento da Jacarepaguá e, com muita tristeza, disse que não poderia comparecer ao encontro dos Gapeanos. Também fui visitar a velha sala no departamento do solo, onde passei inúmeras horas de dia ou madrugada adentro. Horas de muito aprendizado e consolidação de amizades duradoras. 

Quase dez anos atrás, em setembro de 2005, eu escrevi o texto Carpe diem. Na época, eu precisava reunir forças para manter a minha rotina, acompanhar meu pai no final de sua luta contra o câncer e tentar, dentro do possível, dar forças à minha mãe e aos meus irmãos. Um período realmente difícil.

Meu pai era um educador. E dentre muitos ensinamentos que nos passou ele sempre me lembrou que a boa relação dos profissionais com a instituição que estudou, e com os ex-professores, é uma das marcas de bons profissionais. Era um incentivador da amizade muito valorizada entre os ex-alunos da "Luiz de Queiroz" e sempre se orgulhou de que eu tinha ótimos exemplos a serem seguidos entre os mestres da Gloriosa.

O texto a seguir foi inspirado em meu pai e foi feito em homenagem ao professor Vitti. O texto está entre os últimos de minha autoria que meu pai leu. Me lembro com orgulho de tê-lo emocionado.

Carpe diem, aproveite o dia

"Sê prudente, começa a apurar teu vinho, e nesse curto espaço abrevia as remotas expectativas. Mesmo enquanto falamos, o tempo, malvado, nos escapa: aproveita o dia de hoje, e não te fies no amanhã."  Horácio (Roma, 66 a 8 AC)

Na "Luiz de Queiroz", um grande mestre sempre falava: "a vida é momento, carpe diem - aproveitem o dia".

Porém, pasmos, seus alunos observavam que ele só trabalhava e estudava muito. E, como produzia esse professor... palestras, pesquisas, aulas, textos, extensão. Ele não parava. E sempre carregava junto os pobres estagiários, ávidos por aprender.

Ninguém entendia essa contradição entre discurso e prática. Onde raios, nisso tudo, está o aproveitar o dia?

Compreensível o questionamento dos alunos, afinal a expressão latina carpe diem tem atualmente conotação de irreverência com as coisas, de alguém que "curte a vida" sem maiores preocupações, quase de irresponsabilidade.

Os poucos que usam essa expressão, a emitem num momento de convocação ao relaxamento, algo do tipo "deixa a preocupação para depois" ou mesmo no sentido de "faça agora o que lhe der vontade".

E lentamente, a expressão carpe diem vai assumindo esse sentido diverso, como tantas outras expressões foram erroneamente interpretadas pela cultura brasileira.

Mas como ficariam decepcionados aqueles que usam a expressão, no sentido mais difundido atualmente, se soubessem o seu contexto original.

Horácio, poeta romano que viveu entre 66 a 8 antes de Cristo, aconselha um amigo, em uma de suas Odes Privadas, a voltar ao trabalho de sempre. Ninguém sabe o que os deuses lhe reservam, afirma Horácio; então, a melhor coisa é parar de sonhar com o futuro, admitir que a vida é curta, e colher os frutos de hoje.

Que decepção!!! Então o Carpe diem significa trabalhar? Mais?!

Sim, e por quê não? E o pior é que tem lógica. Lançando mão dos conceitos modernos de administração do tempo, um dos ensinamentos dos especialistas é: "trabalhe com afinco no horário de trabalho" e "divirta-se com afinco no momento de diversão".

Portanto, se o momento é de trabalho, o carpe diem, de fato, é trabalhar. Se o momento é de diversão, distração, o carpe diem é divertir-se da melhor maneira possível.

Esta linha de raciocínio, na administração do tempo, é usada para que empresários e funcionários gerenciem e planejem seu tempo, mantenham-se focados no presente, mesmo que haja necessidade de planejar o amanhã.

Aliás, a atividade de planejamento, extremamente necessária, é uma atividade do presente. Não se deve confundir o planejamento com a falta de foco no presente.

Administrar bem o tempo, e separar tempos de deveres com os de diversão, também é um ótimo remédio para o controle do estresse.

Segundo o professor Luiz Marins, antropólogo, pesquisas concluíram que grande parte das pessoas passam 70% de seu tempo vivendo no passado, curtindo sentimentos de saudosismo e arrependimento. Outros 25% do tempo são gastos com ansiedade, preocupações com o que está por vir; sofrendo por antecipação. Portanto, grosseiramente, apenas 5% do foco de atenção das pessoas acabam voltados ao presente. Não é de se admirar porque se faz tanta barbaridade administrativa por aí.

Administrar o tempo é um excelente recurso para organizar-se empresarialmente e, ainda assim, ser capaz de ter uma vida alegre, saudável e com qualidade.

E aquele professor da "Luiz de Queiroz"?  Estava errado por não saber que o carpe diem envolvia diversão?

Muito pelo contrário. Aquele professor encontrava-se com alunos, conhecia seus pais, frequentava repúblicas, manteve-se jovem de espírito, embora os anos, maldosos como disse Horácio, vão mostrando o avanço do tempo.

Prova disso? Até hoje todos os seus ex-estagiários e admiradores encontram-se anualmente para rever o inesquecível mestre.

Parabéns ao professor Godofredo Cesar Vitti por idealizar e orientar o GAPE, que completa 18 anos nesse mês de agosto. 

 Maurício Palma Nogueira, (Big-Ben - F97)

Ex-morador da República Jacarepaguá, sócio e coordenador de pecuária na Agroconsult

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