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Você se torna eternamente responsável... (Vavá; F66)

31/08/2018 - Por evaristo marzabal neves
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“Você se torna eternamente responsável...

Evaristo Marzabal Neves – Vavá F-66

 

...por aquilo que você cativa”. Em minha juventude (Lins, SP), fins do anos 50, lembro-me das entrevistas (jornais ou radio) das debutantes em seu famoso baile, afirmando que estavam lendo “O Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry. Confesso que jamais li o livro integralmente mas a expressão, sua marca registrada, encontrava guarida nas conversas juvenis e continua tendo muito sentido, pois quem é capaz de criar fofocas ou boatos destrutivos, de contaminar e gerar instabilidades emocionais em seu ambiente familiar ou social, alimentando intrigas e discórdias, será julgado pelo mal que faz, nem que seja por sua consciência. Com certeza, o feitiço virará contra o feiticeiro ou sofrerá com o conhecido “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

 

Há pessoas que já acordam com suas maldades moldadas para o sofrimento de outrem. Sentem-se felizes com isso, mas seu conceito de felicidade está falseado por sua raiva, sua inveja e ciúmes, de tal forma que só lhe podem causar mal, contaminando e envenenando seu íntimo. Surgem doenças, pois só ficam alimentando o cão raivoso e rancoroso de seu intimo, onde afloram seu egoísmo doentio e seu espírito possessivo.

 

São pessoas que constroem uma blindagem e uma redoma em torno de si mesmas, reforçadas por inerente auto-piedade e desconfiança. Não se enxergam e assim vão ferindo os outros e se machucando cada vez mais. Estão sempre se defendendo e acabam tendo poucos amigos, ou se os têem, desconfiados ou pseudos amigos. São pessoas que desconhecem a passagem bíblica “por que reparas no cisco no olho de seu próximo, quando não percebes a trava que está no seu?”

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O perigo que correm é a criação de uma imagem de “fofoqueiro” ou “ave de mau agouro” onde com seus vôos rasantes levam o mal-estar, mesmo que contando uma verdade. Quando alguém quer rir da desgraça alheia se aproxima dela, para através de suas pitadas desumanas ironizarem outros e desabafarem suas mágoas e ressentimentos.

 

Busca o auto-isolamento para construir a maledicência e depois convencer os próximos, os mal informados e os inconscientes das “maldades” dos outros. Não passam de espíritos mesquinhos. Ah! Se pudessem medir seus índices de rejeição social! Como faz falta um autoconhecimento. Talvez, no passado, em seus traumas se encontrem as razões que os impedem de ter, socialmente, uma convivência harmoniosa e coexistência pacífica.

 

Invejam os talentos, qualidades e virtudes alheias e, com isso, não encontram tempo para desenvolver os seus. Ignoram que Deus nos deu talentos e dons e para alguns criou oportunidades únicas de desenvolvê-los. Neste sentido, os bons exemplos devem ser copiados e não invejados.

 

Às vezes dá vontade de dizer: ó meu, desperta pô! Sorria para a vida, veja valores nos outros, largue desta mania de perseguição, não continue assim que só tem a perder.

 

Já o oposto é “Onde plantei roseiras só colhi rosas” (A. Nervo). Pode parecer o óbvio, mas cientificamente quem semeia rosas não colhe cactos. Na mesma fase juvenil, junto com a expressão de Saint-Exupéry, vem a lembrança um cântico da Madre Dorinha da Faculdade de Serviço Social, cuja estrofe dizia “Sempre fica um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas, nas mãos que sabem ser generosas” sinalizando que “Não fazer nada mal é bom, não desejar nada mal é melhor” (Claudius), ou ainda, “Todos pensam em mudar a humanidade, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo” (L. Tolstoi),

 

Concluindo, para esses tipos de pessoas vai uma reflexão: há semelhança entre “Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos” (Provérbio chinês) com “Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa”?

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Evaristo Marzabal Neves, Prof. Titular, ESALQ/USP.

 

(Publicado na Gazeta de Piracicaba, 17/08/06, p. 2, e, no Jornal USP Ribeirão Preto, 25/09/06, p. 3)

 

 

 

 

 

 

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