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Situação Atual das tecnologias Bt em Condições de Campo (Guaimbê)

13/08/2015 - Por evaldo kazushi takizawa
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Situação atual das tecnologias Bt em condições de campo: dificuldades e desafios na implementação de estratégias de manejo da resistência.
(Texto da palestra proferida no XXV Congresso Brasileiro de Entomologia (CBE), Goiânia, 14 a 18 de setembro de 2014

Evaldo Kazushi Takizawa (Guaimbê)

A situação atual das tecnologias Bt em condições de campo nos cultivos agrícolas nas regiões de Cerrado no Estado do Mato Grosso serão abordados sob a ótica da Ceres Consultoria Agronômica, empresa de consultoria que atendeu mais de 160.000 hectares na safra 2013/2014 nas culturas de soja, algodão e milho, destas culturas pouco menos de 3% de soja, pouco mais de 60% de algodão e em torno de 90% de milho com a tecnologia transgênica Bt.

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As dificuldades e desafios na implementação de estratégias de manejo de resistência dentro dos preceitos agronômicos serão tratados expondo questões operacionais, técnicas e econômicas para amparar o diálogo para estabelecer as perspectivas das tecnologias Bt no manejo integrado de pragas.

O uso da tecnologia Bt e a implantação das áreas de refúgios exigem a limitação da semeadura de uma única cultivar ou híbrido numa área contínua, isso implica em atividades diferenciadas conforme a tecnologia há necessidade de controles na colheita para evitar misturas e multas, o cultivo do agricultor fica sujeito ao controle do detentor da tecnologia Bt, esses aspectos compõe parte das dificuldades operacionais de plantas Bt.

No quesito técnico as culturas Bt ainda numa fase inicial de implantação apresentaram problemas de controle de pragas alvo como a Spodoptera, sua efetividade foi interrogada e falta segurança de que apenas áreas de refúgio serão suficientes para contenção do problema de aparecimentos de indivíduos resistentes à proteína Bt.

A capacitação dos profissionais envolvidos na agricultura e o conhecimento sobre todos os eventos Bt no mercado são pouco dominados e frequentemente a tecnologia Bt é tratada de forma genérica como um produto único, isso repercute na forma de condução das lavouras.

Os valores referentes aos custos intelectuais (“royalties”) nem sempre estão em sintonia com os benefícios resultantes da tecnologia Bt num sistema agrícola tropical com ampla diversidade de artrópodes, com intuito de explorar o máximo do evento Bt há atraso na intervenção química ou procedimentos de combate para controle de escapes de pragas alvo ou de pragas não controlados pelo Bt.

Neste cenário a situação da tecnologia Bt na soja não é posicionado como aspecto prioritário na decisão de cultivo, a capacidade produtiva (genética) é o aspecto mais relevante para amparar a escolha, salvo alguns agricultores que por diversas razões tiveram perdas significativas pelo ataque de lagartas alvo do Bt.

A proteína Cry1Ac (Intacta RR2 PRO™) na soja da atual safra ocupou áreas comerciais maiores motivados pela preocupação do ataque de Helicoverpa, em alguns casos houve aparecimento do ataque de Spodoptera, eventualmente o agricultor realizou alguma aplicação, na maior parte das áreas não foram necessários nenhuma aplicação para as demais pragas alvo.

Os híbridos de milho Bt atualmente são mais produtivos e a falta de oferta de milhos convencionais com o mesmo teto produtivo apresenta-se como uma barreira na adoção das áreas de refúgio e de medidas mais efetivas de manejo de resistência. As proteínas Cry1Ab (Yieldgard®; Agrisure TL®) e Cry1F (Herculex®™) e Cry1Ab+Cry1F (Optimum™ Intrasect™) no milho na região de vegetação do Cerrado o uso mais intenso desta tecnologia ocorreu mais de dois anos da aprovação pela CTNBio (2008/2009) e a performance foi excelente sem necessidade de controle das lagartas nos primeiros dois anos, a partir da safra 2012/2013 observou um escape intenso com necessidade de controle com duas a três aplicações, na safra atual 2013/2014 o ataque está semelhante ao milho convencional para Spodoptera. Os milhos com as proteínas Cry1A.105+Cry2Ab (VT PRO™) e Cry1A.105+Cry1F+Cry2Ab (PowerCore™, VTPROMax™) nestas lavouras já demonstram escape de lagartas Spodoptera, na atual safra os índices de plantas atacadas podem chegar a 10%, alguns agricultores estão fazendo uma aplicação por precaução. No milho Vip3A (Viptera™) e Cry1Ab+Vip3A (Agrisure Viptera™) o uso desta tecnologia não é tão difundida como as demais e o controle de lagartas é muito bom, talvez a melhor de todas, mas com poucas opções de híbridos adaptados a região Sudeste do MT.

A proteína Cry1Ac (Bollgard®) foi a primeira do algodão, para as pragas alvo (Alabama, Pectinophora e Heliothis) não foi observado escape, mas para Spodoptera e Chrysodeixis o controles não foi efetivo e foram necessários controle semelhantes ao algodão convencional algo em torno de 4 a 5 aplicações. As proteínas Cry1Ac+Cry2Ab (Bollgard II®) até o momento o controle está muito efetivo e para lagartas não foram realizadas nenhuma aplicação, porém a ocupação de variedades com esta tecnologia é muito pequena. A maior área é ocupada com as proteínas Cry1Ac+Cry1F (Widestrike™) e esta tecnologia na atual safra ocupa mais de 50% da área de algodão do MT e seu uso mais intenso ocorreu a partir da safra 2012/2013, nesta ocasião já houve sobra de Spodoptera e Helicoverpa sendo necessários entre 2 a 3 aplicações, na atual safra foram necessários entre 3 a 4 aplicações. A variedade com a proteína Cry1Ab+ Cry2Ae (TwinLink®) estão em pequenas áreas e mostrou-se efetivo para controle das lagartas alvo. No algodão semelhante ao milho o fator determinante para escolha da variedade são as características de produtividade e qualidade de fibra, a cultivar de maior teto produtivo são plantas Bt graças a base genética e não a tecnologia Bt. O custo da tecnologia é ponto de maior destaque para evitar a adoção integral das plantas Bt.

As perspectivas de plantas Bt impulsionado pelas características de produtividade e pela intensa campanha dos detentores, são de aumento da área soja Bt e algodão Bt e manutenção da área de milho Bt, contrário ao sentido da adoção das plantas Bt a conscientização da urgência de medidas de manejo de resistência caminha a passos mais lentos. Em síntese na prática as estratégias de manejo de resistência a plantas Bt não é adotada organizadamente, a preocupação de pragas resistentes está distante da realidade, medidas que dependam exclusivamente da conscientização para o modelo do sistema de cultivo agrícola do Brasil não surtem efeitos.

Evaldo Kazushi Takizawa (Guaimbê F90), Engenheiro Agrônomo, F 1990 é Sócio da Ceres Consultoria Agronomica, Sócio Mantenedor da ADEALQ e Ex Morador da Republica SS Pau Torto

 

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