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Siriguela (Pinduca F68)

30/10/2015 - Por marcio joão scaléa
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SIRIGUELA

 

Naquela viagem de Kombi pelo Brasil, o Universitário e seus companheiros conheceram inúmeras frutas características do norte/nordeste, desconhecidas do povo do sul. Cupuaçu, açaí, pitomba, cajá, umbu, graviola, etc. Mas foi a siriguela que mais os marcou, pelo inusitado da situação em que a conheceram.

 

Estavam num boteco, beira de praia em Fortaleza, e a tarde estava tão bonita, o ambiente tão amistoso, que eles decidiram tomar uma cachacinha. Pedido feito, dose generosa de pinga servida, junto com ela veio um pratinho com umas frutinhas vermelho-alaranjadas, muito cheirosas. Perguntaram o que era aquilo, pois já a haviam visto antes, sendo consumida por toda a parte, por toda a população: eram senhores, madames, estudantes, operários, crianças, todos com os saquinhos dessas frutas na mão, na tarefa de degustá-las, a qualquer hora do dia, onde estivessem.

 

- São siriguelas. Aqui é costume servir siriguelas junto com o aperitivo, pra quebrar o ardume da pinga.

 

Era um gole da cachaça e uma mordida na fruta, desciam muito bem, as duas juntas. Ficaram ali, entre golinhos e mordidas, quando se chegou um mendigo, que lhes pediu um dinheiro. Perguntado se estava pedindo para comprar comida, ele incontinenti respondeu :

 

- Não, é pra uma cachaça, estou com a goela seca. Sou pobre mas não sou mentiroso. Quero é tomar uma!

 

Tocados pela sinceridade do novo colega de balcão, pagaram-lhe a pinga, dupla, o que destravou sua língua :

 

- Hoje vocês me olham e não têm nem noção do que eu já fui. Fui militar, usei farda e mochila, fuzil... Tive família, casa, perdi tudo. Mas não sou bandido, levo a vida com o que Deus me dá. Lutei na revolução de 30, estive no sul, Minas Gerais, Rio.... Matei muita gente. Principalmente paulista. Dava até dó de ver os paulistas fugindo que nem cachorro acuado. E nós atrás, pum, pum, pum, cada tiro era um que rolava, morriam que nem mosca.

 

- É verdade? Nossa, que coragem!

 

E o coitado aí é que se inflamava, dava detalhes : uns já caiam mortos, outros estrebuchavam e era preciso fincar a baioneta pra acabar de vez com o infeliz.

 

Depois de muita bravata, já quase sem assunto, ele se apercebeu que o grupo que o ouvia não era do Ceará : a roupa, a aparência, o sotaque, tudo era diferente, e ele perguntou :

 

- Mas vocês não são daqui, são? Parecem pernambucanos.

 

- Não, senhor. Nós somos paulistas, de São Paulo, Capital.

 

Ao que ele completou :

 

- Não me levem a mal, mas não sou mentiroso. Tudo o que contei é verdade, eu fiz mesmo. Mas não foi por querer, eu era mandado! E soldado tem que obedecer. Eu até gosto de paulista, é gente muito boa, educada, trabalhadora...


Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro

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