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Eduardo Pires Castanho Filho - DREPÃO - ESALQ 70, In Memorian, 1948 - 2017

04/03/2017 - Por ossir gorenstein
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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EDUARDO PIRES CASTANHO FILHO – DREPÃO – ESALQ 70, In Memorian, 1948 - 2017

Por Ossir Gorenstein – Barraca, F70

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EDUARDO PIRES CASTANHO FILHO – DREPÃO – ESALQ 70, In Memorian, 1948 - 2017

Por Ossir Gorenstein – Barraca

Conhecemo-nos devido à convivência em Santo André, no Instituto de Educação “Américo Brasiliense” - IEAB, onde cursamos o ginásio e cientifico. Não éramos exatamente da mesma turma, mas participávamos do coral e treinávamos voleibol nas aulas de educação física. Além disso, morávamos em pontos distantes da cidade, assim, nossos grupos de amigos eram também diferentes.

Castanho, como era chamado pelos amigos, e Eduardinho em família, era um garoto proeminente. A família tinha vindo de Santos, onde seu pai, Eduardo Castanho, fora negociante e exportador de café. Morava em uma chácara, na periferia da cidade, onde os colegas juntavam-se com frequência para jogar futebol.

Concluído o cientifico, impunha-se uma decisão: fazer o vestibular. Eu vinha há alguns meses alimentando a ideia de fazer o vestibular para agronomia. Estive em Piracicaba, visitei a ESALQ e uma república, e obtive algumas apostilas para estudar. Fomos em três para Piracicaba fazer o cursinho intensivo durante o mês de janeiro: Castanho, Uwe e eu. Ficamos hospedados na pensão da Dna. Lili, à R. Benjamim. Na pensão conhecemos Marcos Pessoa Pádua – Dedo Duro – que saiu de Belo Horizonte, para o mesmo fim. Uwe não conseguiu, nós fomos aprovados.

Durante o período do trote nos separamos. Eu passei por algumas republicas e o Castanho foi acolhido pelo Prof. Ararê, conhecido de sua família. Com a criação da Republica do Pau-Doce exclusivamente por bichos, à R. Tiradentes, aproximamo-nos novamente, e permanecemos próximos até o final do curso, eu como Barraca e o Castanho como Drepo, juntamente com os demais ingressos: Marcão, Mauricio, Celsinho e Zé Ricardo. Alikate e Licurgo também tomaram parte desse início, mas acabaram saindo, assim como Fabinho Lotufo, primo do Mauricio. Depois ingressaram o Catarina vindo da Senzala, e procedentes de turmas de outros anos vieram Odd, Tonico e Pimenta.

Durante os primeiros tempos na escola passamos a ser mais próximos. Sua família mudara-se para São Paulo, no Brooklin Paulista. Eu frequentava regularmente sua casa, onde sempre fora bem recebido, tanto por seu pai, Sr. Eduardo, sua mãe, Dna. Julieta, três irmãos e irmã mais novos. A família, tinha uma fazenda em Valparaiso, próxima de Araçatuba. Durante as férias, as viagens à fazenda eram frequentes. Esta havia sido uma fazenda de café, tendo sido transformada para pecuária de gado Nelore. Seu pai, Dr. Castanho, como era chamado, tinha dois temas favoritos, assuntos sempre presentes em suas conversas: as qualidades das raças de gado Indú e a possibilidade de construção de um moto continuo. Nas mesas de refeições organizadas por Dna. Julieta conheci o Estrogonofe

Celso Foelkel já discorreu sobre sua biografia técnica e profissional, e o fez com precisão e detalhes. Vale apenas assinalar que fora pesquisador científico do IEA, Instituto de Economia Agrícola da SAA. Cumpre -me também fazer uma revelaçao. Estava em Brasília quando o processo político nacional desembocara na eleição direta para governadores. Em São Paulo, a disputa era entre Franco Montoro (MDB) e Paulo Maluf (Arena). Drepão convidou-me para fazer boca-de-urna no dia da eleição em frente a um grande colégio. Franco Montoro foi eleito. Nas secretarias estaduais, as forças de oposição ascenderam aos cargos de direção. Drepão passou a ser um dos coordenadores técnicos da Secretaria da Agricultura, a Coordenadoria de Pesquisa de Recursos Naturais - CPRN. Quando Nelsinho Nicolau assumiu a Secretaria da Agricultura, em 1983, devido à minha experiência pregressa na CONTAG, convidaram-me para assumir o Instituto de Cooperativismo e Associativismo, o que representou meu retorno e de minha família a São Paulo. Drepão fora um dos responsáveis pelo meu retorno.

Em nossos encontros mensais do grupo de Santo André, no happy-hour do varejão noturno do CEASA, passou a vir com uma bengala, que lhe auxiliava a pausar os passos, de modo a atenuar o cansaço que sentia ao andar. Nas últimas reuniões sua ausência fez-se notada. No final do ano, por falta de condições físicas, suspendeu o tradicional almoço no qual reuniam-se os velhos amigos que atuavam nas áreas ambiental e de planejamento do Estado.

A última vez que estivemos juntos foi em outubro de 2016, no encontro de nossa turma ESALQ 70 no almoço do Mirante. Sua aparência estava ótima, não denunciava que a pouco tempo atrás passara por uma longa internação no hospital Sírio-libanês, por problemas cardíacos, os quais não haviam sido totalmente superados. 

Por recentes mensagens do Marcão, fiquei sabendo que ele voltara a ser internado naquele mesmo hospital, mas que apresentava melhoras. Através dos informes do Peca soube sobre o lançamento de seu livro.

A última vez que falamos foi no dia 10 de fevereiro. Ao atender a ligação, ele já identificara a procedência como sendo de Alagoas. Disse-lhe que havia adquirido seu livro pela internet e que ele me inspirara a também reunir meus escritos em um blog. Disse-me que  tinha mais outros escritos que ainda poderia junta-los. Falou de sua doença, mas que agora haviam descoberto a medida certa, referindo-se às transfusões a que estava sendo submetido. Pela conversa e pelo tom, tive a impressão que haveria de vencer mais esta. Despedimo-nos, prometendo fazer-lhe uma visita após o meu retorno a São Paulo.

Parece que tinha consciência das debilidades de sua condição física e buscou consubstanciar o seu legado, em curto espaço de tempo, através da reunião de suas memorias, ideias e textos escritos ainda dispersos.  Parte desse legado foi publicado pela ADEALQ no blog#ESALQUEANOS, reunindo 47 artigos sob diversos temas, mas, principalmente, sobre a vida e sua passagem pela Escola. Dois colegas foram seus amigos inseparáveis até que a morte os afastassem: Catarina – Moacir Pereira Oliveira Filho, e José Ricardo Cardoso de Mello Junqueira. A ambos dedicou sua homenagem através de artigos publicados no referido blog.

A outra parte de seu legado encontra-se  no livro recém lançado sob o título: SÃO PAULO: do desmatamento às novas fronteiras – 1980-2015. Poder-se-á também visualizar seu protagonismo nas discussões sobre as questões climáticas e florestais através dos vídeos do Canal Rural, onde era frequente sua participação para esclarecer aos telespectadores sobre os temas em questão.

Casado com Silvinha, moça disputada na juventude por outros jovens, irmã de um dos seus mais próximos amigos, Luiz Henrique, deixou dois filhos, Guilherme e Renata, e três netos: Gustavo, Juliana e João. Plantou inúmeras arvores, e escreveu muito mais do que um livro.

Tinha várias virtudes e uma segunda declarada paixão: Possuía uma memória invejável e um fino senso de humor. Era amante do desenho, mas acabou substituindo essa arte por outra: os kuazyhaicays. E, finalmente, não resistia a uma “loira” rigorosamente gelada, uma degustação e um bom papo.

A 25.02.2017 sucumbiu à doença mas lutou com todas as suas forças, e fé, até não poder mais.

Drepão deixa saudades incomensuráveis.

 

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