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Cordel Tecnológico (Pinduca F68)

03/10/2015 - Por marcio joão scaléa
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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1-            Aconteceram mudanças, de trinta anos prá cá,

                Nesta terra brasileira, que eu vou tentar relatar

                Na história do Sêo Queiroz, lavrador de muita fé

                E seus dois filhos homens,  Chiquinho e o mano Zé.


2-            Família à moda antiga, criados com muito amor,

                Viviam a dura lida da vida de lavrador.

                E com o pai aprenderam a plantar e a colher,

                Tirar leite, pear vaca, sem nunca esmorecer.

                E um dia o velho pai achou que já era hora

                Dos moços terem sua vida e os mandou sem demora

                Ir viver em Mato Grosso, trabalhar naquela terra

                Comprada há pouco tempo, chapadão onde o boi berra.

 

3-            CBT, corrente e ancinho, derrubando o cerrado

                Lidavam de sol a sol, os dois irmãos lado a lado.

                E a fazenda foi aberta, cercada e bem plantada

                Arroz no primeiro ano, colheita de tonelada.

                No segundo a diferença: o Zé vai plantando pasto   

                E o Chico, mais diferente, plantava soja com gosto.

 

4-            No começo foi dureza, trabalho duro demais.

                Mas o fruto vem depressa, boi nelore marruás,

                Mar de soja ondulando, pasto bom a verdejar,

                Boiada gorda de venda, grão de soja pra ensacar .

                Num caso e noutro dinheiro, de nunca se acabar,

                Mais fazenda e propriedade, prédio pra armazenar,

                Mais trator e mais boiada, mais dinheiro pra ganhar,

                Mais labuta e trabalho, dia e noite sem parar.

 

5-            A produção era boa, soja e gado pra valer,

                Mas a terra quer cuidados que não se pode esquecer.

                E quando se esquece ou tarda, ela chama a atenção

                Mostrando que tá errado, derrubando a produção:

                Pasto ruim não recupera, gado pasta e não melhora,

                Soja não cresce e não grana,  e a renda só piora..

 

6-            E a decadência é total, lavoura e pasto agora

                Produzem mal e pior, custo alto, e o que vigora

                É o prejuízo real, perdas de hora em hora.

                A erosão toma conta das terras em que outrora

                Saiu muita soja boa e os pastos por sua vez,

                Não sustentam mais o gado : muita terra e pouca rês.

 

7-            Um belo dia se encontram, o Chico e o mano Zé,

                E a conversa muito aberta faz com que eles tomem pé

                Que a situação é negra, é um beco sem saída,

                E tomam a decisão mais certa de suas vidas:

                Sair em busca do pai, sem tardança e sem demora,

                Ele tem a solução, a resposta bem na hora.

                                                                                                                                                             2

8-            Sêo Queiroz fala pra eles que já tinha programado

                Ir a uma reunião ouvir com todo cuidado

                O que estava sendo feito ali e lá no Cerrado

                Pra renovar os solos, todos muito degradados .

                E na reunião marcada, contou-se a historia de fato

                Da abertura do Cerrado, plantio de lavoura e pasto.

                Derrubada fogo e grade, quando tudo apodrecia

                Virava adubo pra terra, o capim agradecia

                E vinha viçoso e forte, matando a fome do gado,

                Que engordava num relance, pronto pra ser embarcado.

                Mas depois de alguns anos, a terra se exauria,

                O pasto não sustentava, o gado emagrecia,

                A seca era mais sentida, vaca perdia cria,

                E o negocio se arruinava, lucro desaparecia.

                Do outro lado da cerca, a coisa se repetia,

                Soja que era robusta, mirrava, diminuía,

                Sentia falta de algo, a terra endurecia,

                Adubo já sem efeito e a produção só caia.

 

9-            E a solução pra isso tudo, disse o povo da assistência,

                Era a tal de Integração : soja e milho onde foi pasto,

                Safrinha, plantio direto. Pasto na terra de grão,

                Uma mão lavando a outra, de olho na sustentação.

                Os sistemas se completam e quem ganha no final

                E" a terra renovada e  a sociedade em geral

                Com artigos mais baratos de produção natural.

                Beneficio lá e cá, no campo e na capital.

 

10-          Tudo bem claro agora, cede aqui, pega acolá :

                Zé abre mão de pasto, deixa Chiquinho plantar.

                Chico muda o seu rumo, abre espaço para o Zé

                Brachiaria cresce tanto que cobre gado de pé.

                Dois ou tres anos depois desta mudança de lado

                Quando o solo está melhor, bastante recuperado

                Essa troca é desfeita, como uma rotação

                Pasto onde era pasto, soja na terra de grão.

                E assim, ano após ano, num sistema equilibrado

                O processo se repete, não pode ficar parado

 

11-          Mas a solução proposta pela tal de Integração

                Ainda não dá resposta pra uma certa situação

                De quem só lida com gado, não pensa em lavoura não :

                O pecuarista da gema que não tem a tradição

                De mexer com arado e grade, de fazer a plantação,

                De colher soja e milho, de ter tanta amolação.

                E nem tem vizinho perto que tope a negociação

                De arrendar pasto acabado pra fazer a correção

                E devolver melhorado com sobra de adubação.

                Pra esse grupo de gente a assistência lança mão

                De receita diferente pra fazer renovação

                Sem ter que plantar lavoura e ter tanta amolação

.              

13-          Renovação Pasto a Pasto é como vai se chamar

                O sistema de trabalho pra o pasto melhorar

                O processo se inicia simplesmente ao se aceitar

                Que degradação de pasto é falta de adubar.

                E pra adubar direito tem que se analisar

                O solo bem direitinho pra poder recomendar

                P e K na dose certa, cálcio , enxofre sem faltar

                Micro e macro nutrientes, calcareo se precisar

 

14-          Nitrogênio não se usa?  Muitos vão perguntar.

                Aí é que está o segredo pro sistema funcionar:

                Nitrogênio é o adubo mais caro de se comprar,

                É o mais solúvel e volátil, fácil de lixiviar.

                Ele é substituído por uma cultura sem par :

                O Guandu do Bonamigo, capaz do N fixar

                E abastecer o solo para o pasto verdejar.

 

15-          O sistema então se resume em o solo analisar,

                Colocar calcareo e adubo, tudo o que precisar,

                Plantar o feijão guandu  e ver o pasto mudar.

                Mas glifosato, onde entra? Outros vão nos perguntar.

                E a resposta vem ligeiro, não precisa demorar:

                Glifosato viabiliza o ato de se plantar

                Guandu e o pasto novo sem a terra preparar,

                Facilitando o processo, alem de baratear

                E acabar com a erosão, para o solo preservar.

                Em vez de maquinaria para a terra revirar,

                Basta um pulverizador, para o produto aplicar,

                Fazer a dessecação e o pasto velho acabar..

 

16-          Mas tem outra situação, que é preciso contemplar:

                Quem não quer plantar guandu, nem lavoura semear,

                Procura forragem boa, capim pro gado pastar

                Quer produzir carne a pasto, não gosta de confinar.

                Pra esse povo, no caso, a assistência foi buscar

                No estoque de  sementes uma forragem sem par:

                É o sorgo de pastejo, híbrido exemplar

                De capim Sudão e sorgo, que conseguiu agrupar

                Em si as duplas vantagens, que passo a enumerar.

 

17-        Precocidade, é claro, vem em primeiro lugar,

Pois permite em 30 dias por o gado pra pastar.

Tolerando 3 pastejos pois é forte o rebrotar,

Alimentando a contento, proteína pra sobrar,

Garantindo produção tão alta, de assustar

Quem não está acostumado a com ele trabalhar:

Leite que não se acaba, carne pra arrebentar,

Haja balde e balança pro sucesso avaliar,

Com qualquer situação, sem clima pra limitar.

Quem corria atrás de pasto pro gado não definhar

Agora se preocupa em mais boiada comprar!

 

18-   E dos processos recentes que se pode comentar

A biotecnologia vem em primeiro lugar.

Ciência nova, intrigante, consegue os genes mudar,

Produzindo novas plantas, permitindo adaptar

Ao ambiente adverso novas formas de plantar,

Usando menos venenos : produzir sem degradar!

 

19-   E no que essa ciência pode vir a afetar

O sistema de quem pega pasto velho pra plantar

Lavoura boa de soja pro pasto recuperar?

O que sempre se fazia pro processo começar,

A coisa mais importante : o pasto velho acabar..

Era grade, grade e mais grade, pro rebrote não voltar

Matava-se a braquiaria, mas também, pra piorar,

Se degradava o solo, os rios e o próprio lugar,

Pelo uso dessa grade, dia e noite sem parar,

Alem do investimento, muito alto pra pagar.

 

20-   A biotecnologia atua ao agregar

Na semente da cultura que se pretende plantar

Um gene da natureza que a assistência foi buscar

E que permite que a planta dessa semente sem par

Degrade o glifosato sem nada se intoxicar

Crescendo mesmo após o herbicida aplicar.

 

21-          Assim fica muito fácil o pasto velho acabar :

Aplica-se o glifosato e se o capim rebrotar

                Glifosato de novo, sem medo de estragar

                A soja ali nascida, que cresce sem se importar

                Enquanto o mato morre ao se intoxicar

                Com as doses do veneno, e vai indo até secar.

 

22-          Mas quem ganha com isso tudo, já se pode afirmar,

                Não é só o agricultor, o que vive de plantar,

                É a humanidade em geral, a Terra em particular

                Os rios, lagos, nascentes, os bichos e mesmo o mar,

                Pois são menos agredidos pelo modo de plantar

                Da biotecnologia, essa ciência exemplar!

 

23-          E pro povo da assistência, quero deixar registrado

                A minha satisfação, o nosso muito obrigado

                Por mostrar novos caminhos a quem trabalha  o chão

                Deste país que é bendito, produzindo a carne e o pão .

                E que todo mundo saiba,  na cidade e no sertão :

                Produto bom é glifosato,  não aceite imitação .



Marcio Joao Scaléa (Pinduca F68) é Engenheiro Agrônomo ex morador da Republica Mosteiro

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